O final de semana foi de intensa movimentação da oposição venezuelana para dar sequência ao plano de derrocada de Nicolás Maduro da Presidência do país. Nesta segunda-feira, a Missão Internacional da ONU e a Procuradoria do Tribunal Penal Internacional mostraram preocupação com as denúncias de violações e pediram que o governo Maduro “interrompa imediatamente a crescente repressão”.
O avanço da oposição com notícia dos EUA
No sábado, o atual candidato da oposição que se autoproclamou vitorioso, Edmundo González, divulgou um vídeo pedindo a entrega do poder a Maduro. No mesmo dia, a líder mais forte, María Corina Machado, deu mais entrevistas falando que a “melhor opção de Maduro é aceitar uma transição negociada”. E no domingo, a edição norte-americana The Wall Street Journal anunciou que o governo dos EUA “colocou tudo na mesa” para persuadir Maduro a abandonar a Presidência da Venezuela. Horas depois, Corina Machado e González iniciaram a convocação de um grande protesto no próximo sábado.
“Crime é não acatar a vontade popular expressa no dia 28 de julho”, disse Edmundo González, no vídeo de sábado. “Chega de perseguição e violência, chega de tentar semear o terror, chega de desrespeitar a vontade de mudança dos venezuelanos”, continuou o candidato que se disse vitorioso do pleito na Venezuela.
“É preciso que Maduro compreenda que a sua melhor opção é aceitar uma transição negociada”, disse María Corina Machado, em mais um das entrevistas concedidas à imprensa.
Pressão sobre Brasil, Colômbia e México
Em determinado trecho da entrevista, o jornalista força o papel do Brasil, agora associado à Colômbia e México, afirmando que “todas os olhos” do mundo “estão postos nas tentativas” destes países para uma “solução negociada para a crise”.
“A maior parte da comunidade internacional uniu-se em torno dessa iniciativa [dos três países]”, pontuou o repórter à Corina. “O que você acha do papel do Brasil, da Colômbia e do México?”, questionou.
“Devo reconhecer que o comportamento destes países desde antes do processo eleitoral foi correto. Contribuíram em momentos cruciais para deixar claro a Maduro que não celebrar a via eleitoral era uma linha vermelha.”
“Sou liberal, todo mundo sabe o que penso. Mas, para além das afinidades ideológicas, estes três países entendem muito bem que a única coisa que resta a Maduro é a violência, como alertou. Estes três países compreendem o enorme perigo para a América Latina de que Maduro pretenda manter-se no poder pela força”, continuou a opositora.
Corina Machado assume protagonismo para saída de Maduro
Na entrevista, ela também se autoproclamou parte do futuro governo da oposição, apesar de não ter sido ela a candidata a disputar as eleições: “Quem tem a responsabilidade e a legitimidade somos Edmundo [González] e eu, e não é a comunidade internacional quem elege os representantes dos venezuelanos. Muito menos Maduro, que já fez isso no passado. Edmundo e eu somos uma equipe, um bloco indissolúvel.”
Suposto gesto dos EUA
Após as falas dos líderes da oposição no final de semana, foi a vez de uma reportagem do The Wall Street Journal, dos Estados Unidos, noticiar que o governo norte-americano “colocou tudo sobre a mesa para persuadir Maduro a deixar a Presidência”, antes mesmo de janeiro, que é quando termina o seu atual mandato.
As fontes do jornal, que afirma ter conversado com 3 pessoas da Casa Branca envolvidas nas negociações sobre a Venezuela, teriam dito que o governo estuda descartar um pedido de extradição e que ofereceria anistia a Nicolás Maduro. Segundo a publicação, “a posição do venezuelano permanece a mesma” de outra tentativa de negociação dos EUA para Maduro deixar o poder, no ano passado, e que ele não pretende deixar o posto.
A divulgação do jornal norte-americano impulsionou, ainda mais, os movimentos da oposição na Venezuela, que passou a convocar diretamente a população para um “grande protesto Mundial pela Verdade”, no próximo sábado, dia 17 de agosto.
Oposição convoca “Grande Protesto Mundial pela Verdade”
Em suas redes, Corina Machado divulgou um vídeo e pediu para os seus seguidores imprimirem os seus registros de votação, no site criado pela oposição, para levar ao protesto.
Outros países se manifestam
Seguido do suposto ato dos EUA, de que estaria negociando anistia a Maduro, e a intensificação da oposição, outros países também indicaram estar se movimentando para interferir no processo eleitoral da Venezuela. O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse, em suas redes, que estava em conversa direta com representantes da América Latina, incluindo Brasil, Colômbia e México para chegar a “um diálogo entre os venezuelanos e respeitar a vontade dos cidadãos”.
Já tendo manifestado anteriormente, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, voltou a afirmar, nesta segunda-feira, que conversou com Edmundo González e que a posição da União Europeia depende da “publicação e verificação das atas eleitorais, do fim da repressão de Maduro e da necessidade de um diálogo com garantias que refletem a vontade popular”.
TPI e ONU criticam repressão do governo
Também hoje, outros órgãos se manifestaram, mostrando preocupação com a situação na Venezuela. O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, afirmou que está “monitorando ativamente” o país e disse que está “investigando de forma independente” os relatos de possíveis crimes “de violência e outras denúncias” após as eleições venezuelanas.
A Procuradoria do TPI também informou que “iniciou um diálogo com o Governo da Venezuela, no mais alto nível, para enfatizar a importância de garantir que o Estado de Direito seja respeitado, no momento atual, e que todas as pessoas devem ser protegidas de violações que podem constituir crimes do Estatuto de Roma”.
Mais cedo, a Missão Independente das Nações Unidas (ONU) na Venezuela emitiu um comunicado pedindo que o governo de Nicolás Maduro “interrompa imediatamente a crescente repressão que está comovendo o país”. A organização também pediu a investigação profunda da “avalanche de graves violações aos direitos humanos que estão ocorrendo” no país.
A equipe da ONU publicou que “ao menos 1.260 pessoas” foram presas na Veneuela pelo atual governo, com as manifestações, e que recebeu informações de que, entre os detidos, há “100 crianças e adolescentes” que também foram presos nos protestos.
Segundo a entidade, os protestos após as eleições “abriram passo para uma feroz repressão pela máquina do Estado, dirigida por suas mais altas autoridades, criando um clima de temor generalizado” no país.