Não adianta. Nos momentos decisivos, entre fazer jornalismo ou fazer política, a mídia não vacila: e vê-se novamente o estupro do jornalismo pela política.

Shakespeare tem um poema clássico, “O estupro de Lucrécia”, a casta Lucrécia, por Tarquínio, o último rei de Roma. Para criar um fato político que derrubasse o cruel e sanguinário Tarquínio, Lucrécia se suicida. E o clamor popular derrubou Tarquínio, o Soberbo, o último rei de Roma.

A única diferença do caso venezuelano, é que a Lucrécia local, Maria Corina Machado, está longe das virtudes da castidade.

Vamos aos precedentes:

  1. A oposição venezuelana é dominada pela ultradireita. Tem ultradireita histórico golpista, como se testemunhou a tentativa frustrada de derrubada de Hugo Chávez e da entronização, na presidência do país, de Guaidó, o breve.
  2. A ultradireita mundial tem histórico de levantar dúvidas sobre as eleições que perde, para fomentar a revolta popular. Vide caso Trump, Bolsonaro e Aécio Neves.
  3. Por sua vez, o regime de Maduro se sustenta no Exército e em forças populares.

Ontem, na TVGGN 20 horas, entrevistamos a jornalista Vanessa Martina Silva, que estava em Caracas e acabara de fugir de manifestações violentas estimuladas por Maria Corina. Segundo ela, a fúria dos manifestantes faria 8 de janeiro parecer uma festa.

Sobre o sistema eleitoral venezuelano, diz ela:

  1. Há um fiscal da oposição em cada seção.
  2. Os votos são impressos, facilitando a conferência pelos fiscais.
  3. Depois da contagem, há uma ata, assinada por todos os fiscais.

Portanto, há condições objetivas de conferir se houve fraude ou não.

Até agora, a frondosa árvore de releases da mídia se baseou em apenas uma prova, tão duvidosa quanto uma delação premiada da Lava Jato: uma pesquisa da Edison Research, empresa especializada em monitoramento de redes sociais que se enveredou por pesquisas de boca de urna. Seu histórico é de 6 países: Azerbaijão, Iraque, República da Geórgia, Taiwan, Ucrânia e Venezuela. A pesquisa apontou a vitória da oposição por inacreditáveis 65 x 35. E só.

Não há um dado mais para comprovar a fraude. Houve um atraso na divulgação dos mapas, segundo a Venezuela devido a um ataque hacker externo. Mas basta a apresentação dos mapas para se comprovar se houve ou não fraude.

No entanto, todos os veículos soltaram editoriais taxativos, tratando a fraude como fato consumado. Restou a voz do bom senso do ex-embaixador Marcos Azambuja, ouvido por algum canal, que ponderou o óbvio: só vai se saber se houve fraude quando houver a conferência dos mapas. Até lá, um mínimo de precaução antes de qualquer opinião.

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Last Update: 30/07/2024