A Venezuela reagiu com críticas à decisão dos Estados Unidos de dobrar o valor da recompensa pela captura do presidente Nicolás Maduro. O novo montante fixado na quinta-feira 7 por Washington passou de 25 milhões de dólares para 50 milhões de dólares, o equivalente a cerca de 272 milhões de reais, em troca de informações que levem à sua prisão. O governo venezuelano classificou a medida como “patética” e “ridícula”, acusando os EUA de usar o caso como cortina de fumaça política.
“A patética ‘recompensa’ de Pamela Bondi é a cortina de fumaça mais ridícula que já vimos”, afirmou o chanceler da Venezuela, Yván Gil, em uma mensagem no Telegram.
“Esse show é uma piada, uma distração desesperada de suas próprias misérias. A dignidade da nossa pátria não está à venda. Repudiamos essa grosseira manobra de propaganda política”, acrescentou o chanceler.
O aumento da recompensa por Maduro, que passa a ser a maior da história, superando o valor oferecido pelo paradeiro de Osama bin Laden, foi anunciado pela procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, como é mais conhecida entre os americanos. Em um vídeo publicado na rede social X, ela declarou que o presidente venezuelano “é um dos maiores narcotraficantes do mundo e uma ameaça à nossa segurança nacional”.
A procuradora-geral americana acusa o presidente venezuelano de utilizar “organizações terroristas estrangeiras como o Tren de Aragua, o cartel de Sinaloa e o Cartel dos Soles para introduzir drogas letais e violência” nos Estados Unidos. Até o momento, a Agência Antidrogas dos EUA (DEA) confiscou “30 toneladas de cocaína ligadas a Maduro e seus cúmplices, sendo quase sete toneladas atribuídas diretamente ao líder chavista”, detalhou.
Pam afirma que a cocaína costuma estar misturada com fentanil, um opioide sintético que causa graves danos no país.
Bens confiscados
O tráfico para os Estados Unidos é, segundo Washington, a “principal fonte de renda” para os cartéis sediados na Venezuela e no México. O Departamento de Justiça já apreendeu mais de 700 milhões de dólares em ativos ligados a Maduro, incluindo dois jatos privados, nove veículos e outros bens, sem conseguir reverter o fenômeno.
“Por isso, dobramos a recompensa para 50 milhões de dólares. Sob a liderança do presidente Trump, Maduro não escapará da Justiça e responderá por seus crimes atrozes”, justificou a procuradora-geral, que divulgou um número de telefone e pediu informações “para levar esse criminoso à Justiça”.
“Regime de terror”
Pam Bondi lembrou que “o regime de terror de Maduro continua”, acrescentando que a reeleição do líder chavista é considerada fraudulenta por Washington.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, ressaltou que “Maduro sufocou a democracia e se agarrou ao poder”. Segundo Rubio, “ele afirmou ter vencido as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, mas não apresentou nenhuma prova”. Os Estados Unidos “não o reconhecem como presidente da Venezuela”.
Estados Unidos e Venezuela não mantêm relações diplomáticas desde o primeiro mandato de Trump (2017–2021). Em 2020, Washington acusou formalmente Maduro de “narcoterrorismo” e conspiração para traficar drogas, e ofereceu 15 milhões de dólares por informações que levassem à sua captura. O governo do ex-presidente Joe Biden aumentou esse valor para 25 milhões de dólares.
A apresentação de acusações contra um chefe de Estado estrangeiro por parte de Washington é incomum, mas já ocorreu em 1988 contra o então presidente do Panamá, Manuel Noriega, antes que os Estados Unidos decidissem invadir o país para derrubá-lo.
Tanto o governo Biden quanto o de Trump reconheceram como “presidente legítimo” da Venezuela o opositor Edmundo González Urrutia, que reivindica a vitória nas eleições de 2024.
Negociações para a libertação de americanos na Venezuela
A acusação de que o chavismo controla a organização criminosa Tren de Aragua, declarada por Washington como “organização terrorista global”, não impediu que a Casa Branca enviasse emissários para negociar com altos funcionários venezuelanos a libertação de cidadãos norte-americanos detidos na Venezuela.
No mês passado, Rubio anunciou a libertação de dez americanos presos no país andino, após um acordo fechado com a ajuda de El Salvador.
Em 2019, depois de reconhecer o opositor Juan Guaidó como “presidente interino” da Venezuela, Trump impôs uma bateria de sanções ao país, incluindo um embargo petroleiro, em uma estratégia fracassada para tentar provocar a queda de Maduro. A própria oposição venezuelana encerrou o governo interino simbólico de Guaidó em janeiro de 2023.
(Com AFP)