A Venezuela e Maduro são estigmatizados e sanções são impostas porque o país, rico em recursos, ousa desafiar os EUA e sua tentativa de controlar o mundo

Por [Novo Nome]*

Quando consideramos o contexto político que vivemos na América Latina nos últimos anos, no qual parte considerável dos países vive uma crise das instituições democráticas, observamos que as críticas da mídia hegemônica recaem, apenas, sobre o governo da Venezuela. Por que será que isso acontece?

Não é raro que os informativos televisivos, os jornais impressos ou digitais, as emissoras de rádio analógicas ou digitais, disseminem o quanto o governo da Venezuela é antidemocrático. De fato, chegam a ser ridículos a ponto de adjetivar o Presidente Nicolás Maduro como ditador. E essa estigmatização, assim como os consequentes bloqueios econômicos, se dão porque o país ousa afrontar os Estados Unidos e sua tentativa de controlar o mundo – política, cultural, econômica e militarmente.

A não-subserviência de países como Cuba e Venezuela, que, diferentemente da maioria das nações latino-americanas, trabalham para manter a soberania nacional e criar modelos de desenvolvimento econômico que não signifiquem acatamento incondicional dos ditames dos “donos do mundo”, pagam um preço muito alto, sobretudo porque a visão dos grupos hegemônicos moldam a opinião pública internacional, que se encontra assentada no desprezo daquelas duas nações.

Golpes de Estado e massacres

Esse mesmo comportamento da mídia hegemônica não vemos acontecer em relação aos países aliados e alinhados com as políticas estadunidenses. Na Colômbia, por exemplo, durante o governo do presidente Ivan Duque, um grande subserviente do Ocidente, e especialmente dos EUA, uma onda de assassinatos de líderes sociais e de ex-combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foi levada a cabo, sem que o governo adotasse qualquer providência para cessá-la. Mas as mídias hegemônicas não foram contundentes no sentido de cobrar os direitos humanos naquele país.

No Equador, os cadáveres de vítimas da Covid-19 que enchiam as ruas de Guayaquil, a segunda maior cidade daquele país, não foram suficientes para motivar uma Resolução da ONU contra o então governo de Lenín Moreno. Tampouco a violência com a qual aquele mesmo governo enfrentou os mais de mil protestos em todo o país, em outubro de 2019, que pediam diminuição do preço da gasolina e, principalmente, o fim da Reforma Trabalhista que, da mesma maneira como a realizada no Brasil, precarizou o trabalho dos trabalhadores públicos e privados.

Vamos sair do passado recente e nos voltar para o presente. Na Argentina, desde a assunção de Javier Milei como Presidente da República, em dezembro de 2023, a população trabalhadora e também estudantil já realizou várias mobilizações para protestar contra as medidas neoliberais que brutalmente têm empobrecido aquele povo. A situação está tão crítica que, conforme a própria ONU, todos os dias mais de um milhão de crianças e adolescentes menores de 18 anos vão dormir sem se alimentar. Mas, quando o povo se levanta em protesto, tem sido brutalmente reprimido pelas forças policiais.

E nos perguntamos: por que todos esses países latino-americanos afrontam, desrespeitam os direitos humanos, e apenas a Venezuela é enxergada como alvo? Os motivos são vários. Mas aqui nos concentraremos em alguns deles.

Riquezas naturais e geopolítica

Não é segredo que as reservas de petróleo venezuelanas são maiores que as sauditas e ainda bem maiores que as estadunidenses. Isso, logicamente, leva os países que dependem desse tipo de energia a “ficarem de olho no ouro negro” da Venezuela, país que não se alinha às políticas capitalistas lideradas pelos Estados Unidos e a União Europeia, as quais estão baseadas principalmente na espoliação das riquezas de terceiros.

Apesar de produtor de petróleo, os EUA sempre dependeram das importações. De acordo com vários estudos, esse combustível é responsável por mais de 80% da demanda de energia do setor de transporte estadunidense. Desta forma, controlar fontes petrolíferas faz parte das grandes prioridades daquele país. Esse é um dos motivos, mas não o único. Apesar de Nicolás Maduro haver concordado em fornecer petróleo a Joe Biden, de permitir a dolarização das atividades comerciais, ainda assim não é suficiente. Os Estados Unidos querem controle total.

O segundo motivo é o fato de a Venezuela ser rica em outros recursos naturais. Dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) mostram que a região latino-americana e o Caribe possuem 65% das reservas mundiais de lítio, 38% de cobre, 42% de prata, 21% de ferro, 33% de estanho, 18% de bauxita e 14% de níquel. E que a Venezuela, além do petróleo, também é muito rica em alumínio, cobre, ferro, gás natural, entre outros recursos que também interessam aos Estados Unidos e às demais potências do Norte Global.

O terceiro motivo é que, tanto os Estados Unidos como também a União Europeia defendem seus interesses geoestratégicos em território latino-americano. E, neste sentido, estão buscando neutralizar as influências que China e Rússia vêm tendo na região, com a importante e estratégica parceria com o país bolivariano.

Por esses e outros motivos os países do Norte Global, liderados pelos EUA, se empenham tanto em fragilizar a Venezuela, infelizmente com o apoio de “satélites” localizados em outras partes do mundo –, inclusive na própria América Latina e Caribe, como os que compõem o Grupo de Lima, completamente subservientes às vontades e desejos dos “donos do mundo”.

As tentativas de dominar a Venezuela são muitas, inclusive contrariando todas as normas internacionais e reconhecendo um presidente que se autoproclamou, como Juan Guaidó. Os Estados Unidos, a União Europeia e todos os “poderosos” do Norte Global e seus lacaios querem, de fato, esconder suas verdadeiras intenções em relação ao país bolivariano. Querem “carta-branca” para dominar a “joia da Coroa” da América Latina. E personagens como Maduro são um obstáculo.

O processo eleitoral venezuelano é uma questão que cabe somente àquele povo. Não cabe a observadoras e observadores internacionais, não cabe a governantes de outros países, não cabe à mídia hegemônica mundial. O povo venezuelano tem capacidade suficiente para decidir se as eleições foram ou não legítimas.

*[Novo Nome] é graduada em História, Doutora em História e Comunicação no Mundo Contemporâneo pela Universidad Complutense de Madrid e Professora Titular da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA.

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Última Atualização: 28/08/2024