O imperialismo orquestrou um golpe de Estado contra o governo nacionalista de Nicolás Maduro. A esquerda pequeno burguesa, em vez de se colocar frontalmente contra o golpe, aproveita a onda direitista contra Maduro e começa a fazer uma campanha supostamente de esquerda contra o presidente venezuelano. É o caso do texto publicado no portal “A Terra é Redonda” “Venezuela — a divisão da esquerda” que já foi debatido na 1ª e na 2ª parte neste Diário.
O texto começa a debater a questão do petróleo: “desde novembro de 2022, no âmbito da guerra na Ucrânia, o Secretário do Tesouro dos EUA autorizou a Chevron a explorar e exportar petróleo venezuelano, com a condição de que não pagasse impostos ou royalties ao governo venezuelano, o que constitui condições neocoloniais que nem sequer eram conhecidas nos governos anteriores a Hugo Chávez e que foram aceitas por Nicolás Maduro. A partir desse momento, a Venezuela voltou a ser um fornecedor estável de petróleo para a América do Norte”.
Os autores colocam a questão como se Maduro tivesse entregue o petróleo para os EUA de graça. Isso é uma farsa. O acordo foi feito devido à necessidade do imperialismo ao perder o acesso ao gás da Rússia. A Venezuela em troca ganha mais acesso ao mercado internacional. Pode se discutir se isso é correto ou não, mas não se pode afirmar que Maduro é um lacaio dos EUA. O petróleo continua sendo majoritariamente controlado pelo Estado venezuelano.
Depois disso, os autores questionam os embargos. Supostamente o setor do petróleo não estaria sofrendo: “a Venezuela dos que estão no topo conseguiu se tornar o sexto maior fornecedor de petróleo para os EUA, superando países como o Reino Unido e a Nigéria, sem que as receitas novas dessa ‘abertura petrolífera’ tenham melhorado em nada as condições materiais de vida das camadas populares”.
Aqui o que existe é mais uma mentira. O governo venezuelano tem como principal fonte de renda o petróleo e, sendo assim, as suas políticas sociais se sustentam com a renda do petróleo.
Por exemplo, neste primeiro de maio o governo Maduro aumentou os auxílios que são garantidos aos trabalhadores para 130 dólares. Além disso, foi aprovado uma nova forma de arrecadação para o fundo de pensão para garantir a aposentadoria para os trabalhadores. Não é a medida mais esquerdista, mas é uma forma de garantir a arrecadação. Os anúncios no 1º de maio são medidas clássicas de governos de esquerda. Além dessas há muitas outras como os programas de moradia, de alimentação, mas os autores do texto preferem ignorar isso e fingir que Maduro é um inimigo dos trabalhadores.
Então o texto expõe a sua tese errada de forma clara: “qualquer um deles [governo Maduro ou a oposição] garantirá o fornecimento geoestratégico de petróleo para as potências capitalistas ocidentais e restringirá cada vez mais a distribuição da renda petroleira ao povo — porque isso é da natureza de setores capitalistas, e porque a natureza de estado monoextrativista exportador de fósseis não foi tocada pelo processo bolivariano. Porque Nicolás Maduro, apesar do discurso, não é nem socialista, nem anti-imperialista”.
Aqui está o absurdo, para os autores, a direita neoliberal, que privatizaria o país completamente, e a economia estatal seriam idênticos. Mais uma vez vale comparar com outro país rico em petróleo que tinha um governo muito menos esquerdista que a Venezuela, o Iraque. Quando o petróleo era controlado pelo Estado, mesmo com o regime muito direitista, a situação geral da população era melhor, pois uma parte maior da riqueza ficava no país. Depois de 2003 a situação piorou muito com os EUA controlando a riqueza. Na Venezuela isso é ainda maior, pois há grandes programas sociais do governo.
A solução é questionar as eleições?
Após criticar o governo Maduro e afirmar que ele quase idêntico ao imperialismo, o texto afirma que a oposição por algum motivo é pior. Eles então apresentam qual seria a melhor solução: “neste momento, apoiar a solução negociada proposta pela Colômbia e pelo Brasil — que tem o apoio do Chile e o repúdio, é claro, do ditador Daniel Ortega — é a política correta, porque é muito mais prudente, e favorável aos trabalhadores e ao povo do país. Essa política está em desacordo com um regime cada vez mais autoritário, que reprime jovens, sindicalistas e opositores de esquerda, e é menos ingênua e burocraticamente tendenciosa do que simplesmente endossar as irregularidades e arbitrariedades do governo”.
Primeiramente é preciso denunciar que o governo de Ortega é chamado de ditadura. Se para Maduro ainda há uma tentativa de esconder que essa é política dos autores com a Nicarágua não há nem vergonha. Ortega, como Maduro, é uma vítima do imperialismo na América Latina que deve ser defendido.
Em segundo lugar, é preciso discutir a proposta do Brasil. Defender uma negociação entre uma direita fascista financiada pelos EUA e um governo de esquerda é um tanto absurdo. Um caso onde isso aconteceu foi justamente a Nicarágua. Em 1990 os EUA começaram a intervir nas eleições da Nicarágua, o governo sandinista tentou negociar com a oposição financiada pelos EUA e acabou sendo derrubado. Não existe negociação com uma potência estrangeira que está tentando intervir no país.
Se o governo de fato reprime a esquerda, o máximo que um país estrangeiro como o Brasil poderia fazer e chamar o governo para conversar e tentar convencer Maduro de que reprimir a esquerda é uma política ruim, pois enfraquece seu governo. Mas o Brasil nunca poderia intervir na política interna de outro país. É tão absurdo que o Brasil nunca interviu em outros países. Não interviu no golpe do Peru, no golpe do Equador, no governo Milei, em lugar nenhum. Por que ele iria intervir na Venezuela? Porque não é uma intervenção de Lula, mas sim dos EUA e ele nesse momento está atuando a seu serviço mesmo sendo um tradicional aliado de Maduro.
Não existe negociação com a direita golpista. Nessa conjuntura só há uma política correta, lutar contra o golpe. Os autores do texto, no entanto, fazem de tudo para igualar Maduro aos fascistas. E assim nem citam a possibilidade de um golpe de Estado. Quem não luta contra um golpe e ataca a pessoa que está sofrendo esse golpe em uma frente com o imperialismo só pode ser considerado um golpista.