O papa Francisco pede o fim dos conflitos armados no mundo em uma carta publicada nesta terça-feira 18, escrita no quarto em que está hospitalizado em Roma há mais de quatro semanas para tratar uma pneumonia.

“Temos que desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de senso de complexidade”, escreveu o pontífice argentino de 88 anos ao diretor de um dos principais jornais da Itália, Il Corriere della Sera, em uma carta com data de 14 de março.

A guerra parece ainda mais absurda (…) nos momentos de doença”, acrescenta o papa, hospitalizado desde 14 de fevereiro no hospital Gemelli de Roma por uma pneumonia dupla.

Segundo anotou Francisco, “a fragilidade humana tem o poder de nos tornar mais lúcidos diante do que dura e do que passa, do que faz viver e do que faz morrer”. Para ele, as armas “devastam as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer solução para os conflitos.”

Na nova carta divulgada pelo Vaticano, não há menções a um conflito específico, como Gaza ou Ucrânia, que costumam constar nos apelos de Francisco pela paz. O pontífice, comumente, também pede o fim de hostilidades na África e na Ásia.

No texto ao diretor do jornal italiano, o papa também faz um apelo aos repórteres e pede que “todos aqueles que dedicam seu trabalho e inteligência a informar […] captem toda a importância das palavras.”

“Nunca são apenas palavras: são fatos que estruturam os ambientes humanos. Podem unir ou dividir, servir à verdade ou abusar dela”, insiste.

Na segunda-feira 17, o Vaticano informou que o papa segue estável e sem crises respiratórias, após passar por uma fase crítica da doença. O pontífice, no entanto, permanecerá hospitalizado por um tempo que o Vaticano não especificou.

Leia a íntegra da carta:

Prezado diretor,

Gostaria de agradecer pelas palavras de proximidade com as quais desejou estar presente neste momento de doença em que, como já disse, a guerra parece ainda mais absurda. A fragilidade humana, de fato, tem o poder de nos tornar mais lúcidos em relação ao que dura e ao que passa, ao que nos faz viver e ao que mata. Talvez seja por isso que, com tanta frequência, tendemos a negar os limites e a evitar pessoas frágeis e feridas: elas têm o poder de questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e como comunidade.

Gostaria de encorajar o senhor e todos aqueles que dedicam trabalho e inteligência para informar, através de instrumentos de comunicação que agora unem nosso mundo em tempo real: sentir toda a importância das palavras. Elas nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Elas podem conectar ou dividir, servir a verdade ou se servir dela. Precisamos desarmar as palavras para desarmar as mentes e desarmar a Terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de um senso de complexidade.

Enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de nova força vital e credibilidade. As religiões, além disso, podem se valer da espiritualidade dos povos para reacender o desejo da fraternidade e da justiça, a esperança de paz.

Tudo isso exige comprometimento, trabalho, silêncio e palavras. Sintamo-nos unidos nesse esforço, que a Graça celeste não deixará de inspirar e acompanhar.

Francisco

Roma, Policlínica Gemelli, 14 de março de 2025

(Com informações de AFP)

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Last Update: 18/03/2025