O consumo é um termômetro do mercado. Sempre que se avalia o consumo, conta-se uma história. A trajetória revela como estão os consumidores. E, nesse aspecto, os dados são positivos. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o mês de abril registrou uma elevação de 1,25% no consumo em relação a março. Na comparação com abril do ano passado, o crescimento foi de 2,63%. No acumulado de janeiro a abril, o aumento também foi de 2,63%. Todos os dados são deflacionados.

A análise do setor aponta a influência da Páscoa, celebrada em abril, que impulsionou o consumo em 16,96%. O desempenho foi expressivo mesmo em comparação ao Carnaval, que já havia elevado o patamar de março. Ainda segundo a Abras, o impacto das políticas públicas e o primeiro lote de restituição do Imposto de Renda contribuíram para esse crescimento.

Preços ainda sobem mais que a inflação

O AbrasMercado, índice que mede a variação de preços de 35 produtos de amplo consumo, apontou alta de 0,82% em abril. A variação acumulada em 12 meses foi de 10,83%. Entre os produtos que mais contribuíram para a elevação estão o café torrado e moído (alta de 4,48%), o feijão (2,38%) e o leite longa vida (1,71%). Itens como batata (18,29%), tomate (14,32%) e cebola (3,25%) também puxaram a média para cima. Por outro lado, houve retração nos preços do arroz (queda de 4,19%), da farinha de mandioca (1,91%) e do óleo de soja (0,97%).

As menores variações regionais ocorreram no Sul (0,62%) e Sudeste (0,68%). A região Norte liderou os aumentos, com elevação de 0,96% — mesma taxa registrada no Centro-Oeste. No Nordeste, a variação foi de 0,78%.

No recorte da cesta de alimentos básicos — composta por 12 itens —, o preço médio nacional subiu 0,32% em abril, passando de 351,42 para R$ 352,55 reais. Em 12 meses, a alta acumulada é de 13,38%. Os dados mais alarmantes vieram de Belém e Rio Branco, onde a cesta chegou, respectivamente, a 429,85, e 418,15 reais. Os valores são muito superiores, por exemplo, ao de São Paulo, que ficou em 364,45 reais.

O aumento dos preços dos alimentos tem impacto direto na percepção da gestão federal. Em regiões mais pobres, onde a renda é menor, os alimentos pesam mais no orçamento familiar — o que compromete a sensação de melhora na qualidade de vida.

Tudo tem seu preço

A elevação da taxa básica de juros (Selic) visa controlar o consumo e, assim, desacelerar a inflação futura — que ainda está levemente acima da meta, mas não fora de controle. A taxa atingiu 14,75%, o maior nível em duas décadas. E qual o efeito sobre o consumo? Os números falam por si.

Em janeiro, a taxa estava em 12,25%. Até maio, houve acréscimo de 2,5 pontos percentuais. A Selic não conteve o consumo, mas encareceu o crédito, a produção e os estoques. Trata-se do conhecido fenômeno de “matar o que já está morto”. Chega-se a um ponto em que os aumentos perdem eficácia, atingem o setor produtivo, reduzem o crédito para grandes empregadores, elevam os custos e, por consequência, pressionam os preços finais.

Apesar disso, o mercado de trabalho mostra resiliência. A taxa de desemprego em abril foi de 6,6%, a menor da série histórica para o mês.

Caso as taxas venham a surtir o efeito desejado — seja lá para a alegria de quem for —, o país poderá se aproximar do centro da meta de inflação. Mas isso virá acompanhado de aumento do desemprego e perda de competitividade. Se o objetivo for minar o setor produtivo, o caminho está sendo seguido à risca.

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Last Update: 02/06/2025