Zelensky merece pena?

Por Valter Pomar, em seu blog

Entendo, mas não concordo com aqueles que tratam o governo da Ucrânia como vítima de uma injustificada agressão russa.

Igual entendo, mas também não concordo com certas teorias sobre o “trumputinismo” e sobre “os freios e contrapesos” que os europeus supostamente impunham à OTAN.

Mas, além de não concordar, não consigo entender como alguém de esquerda é capaz de escrever frases como as que vem a seguir:

“Não tenho nenhuma simpatia por Zelensky, mas a humilhação a que foi submetido hoje é também a humilhação de todos os países periféricos”.

“O desprezo aos palestinos e aos ucranianos é idêntico”.

Idêntico?

De “todos”? “

As duas frases foram perpetradas por José Luis Fevereiro e Henrique Carneiro, respectivamente, e integram os textos que reproduzo abaixo e que foram postados em perfil de social dos autores.

Por caminhos e com propostas diferentes, ambos têm pena de quem só merece escárnio.

Zelensky merece “pena” sim. Mas de outro tipo.

Texto de José Luis Fevereiro

O FIM DA OTAN

O deplorável episódio de hoje na Casa Branca onde Trump e Vance humilharam Zelensky ameaçando-o publicamente caso não aceite os termos russos para a paz significa também o fim da Otan. Não tenho nenhuma simpatia por Zelensky, mas a humilhação a que foi submetido hoje é também a humilhação de todos os países periféricos.

Muito claramente Donald Trump inaugura uma era onde os EUA passam a operar sozinhos , com menos força portanto, mas com mais liberdade de movimentos. Sem os freios e contrapesos que as consultas aos aliados europeus impunham.

A Otan é uma aberração, é verdade. Já deveria ter acabado desde os anos 90. A lógica da sua autoperpetuaçao precisou da construção de um novo inimigo. A Rússia foi escolhida artificialmente para cumprir esse papel.

Hoje a Otan acabou. Seria uma boa notícia se o seu fim fosse o resultado do avanço de uma geopolítica mais pacificada e menos belicosa.

Não é o caso. Trump precisa liquidar a Otan , para ter liberdade total de movimentos nos seus interesses geopolíticos mais próximos. A Europa que se resolva com a Russia que Trump tem mais o que fazer.

Más notícias para as Américas.

Texto de Henrique Carneiro

A explicitação obscena da truculência imperial é uma técnica fascista. O tom de voz elevado, a gestualidade ameaçadora é como um bullying declarado.

O vídeo de Gaza e o tratamento gangsterista contra Zelensky são duas explicitações do império principal em decadência contra seus rivais, mas, acima de tudo, contra os povos do mundo.

O desprezo aos palestinos e aos ucranianos é idêntico. O recado é o mesmo de Teddy Roosevelt: big stick.

Dentre os quatro grandes blocos imperialistas, Trump escolheu se aliar a Putin contra a Europa para tentar isolar a China.

Além dos interesses econômicos há um eixo político ideológico na disputa: reabilitar e reprogramar o fascismo histórico como novo regime trumputinista.

A única alternativa é a mobilização social de massas.

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Last Update: 02/03/2025