O historiador e professor universitário Valter Pomar (nº 120) foi o entrevistado desta quinta-feira (26) no Café PT, dentro da série especial com os candidatos à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (PT). Filiado ao partido desde 1985 e militante desde 1982, Pomar defendeu uma guinada política e organizativa do PT.
Durante a entrevista, Pomar falou sobre suas propostas para o Processo de Eleições Diretas (PED) 2025, destacou a importância da reeleição de Lula em 2026, defendeu a politização da base petista e apontou que a retomada da identidade socialista do partido é fundamental para enfrentar a extrema direita e as forças neoliberais.
O primeiro turno das eleições internas do Processo de Eleições Diretas (PED) 2025 ocorre no dia 6 de julho, das 9h às 17h, nos diretórios municipais do PT em todo o país, respeitando o horário de cada região. Brasileiros filiados ao partido que residem no exterior também poderão votar para a chapa nacional e a presidência nacional.
“Precisamos mudar a linha política do PT e do governo”
Valter Pomar afirmou que o maior desafio da próxima direção do PT será reorientar politicamente o partido e o governo.
“O presidente nacional do partido é o porta-voz e o coordenador da direção partidária. E entendo que o principal desafio é conduzir uma reorientação na linha política do partido, do governo e no funcionamento organizativo do PT”.
Para ele, essa mudança é condição para que o partido tenha um papel mais ativo na mobilização popular e na transformação do país. “A gente quer um país soberano, desenvolvido, igualitário, democrático, industrializado, integrado à América Latina e Caribe. Queremos um país socialista. Para isso, o PT precisa mudar, e mudar rápido.”
Pomar defende ainda que o governo Lula precisa deixar de atuar como “mediador” de interesses contraditórios e assumir um papel de liderança na transformação do país.
“A gente precisa de um governo que convoque a população, que mobilize, que enfrente a maioria conservadora do Congresso e que vá para cima desse Banco Central que mantém uma taxa de juros escorchante.”
Ao ser perguntado sobre os maiores desafios do PT atualmente, Valter Pomar frisou a importância de reconquistar a classe trabalhadora.
“O primeiríssimo desafio é recuperar a maioria da classe trabalhadora. Hoje, a maior parte dos trabalhadores não vota no PT e não confia no PT. Precisamos recuperar essa confiança e presença organizada nos locais de moradia, trabalho, estudo, lazer, nos quilombos, nos assentamentos e nas atividades de economia solidária.”
O segundo desafio apontado por ele é o enfrentamento ao neoliberalismo. “Precisamos derrotar as forças econômicas e sociais que estão fazendo do Brasil um país difícil de viver. O Brasil virou o paraíso do capital financeiro e uma subpotência exportadora de commodities. Precisamos mudar isso.”
Reeleição de Lula
Pomar também defendeu a reeleição de Lula, mas com uma mudança de rumos. “Temos que reeleger o presidente Lula e nos preparar para 2030, de preferência com uma companheira do PT como candidata à presidência. E acho que já deveríamos ter uma companheira do PT na vice de Lula em 2026.”
Ele também criticou a permanência de partidos de direita na base do governo. “Esses partidos votam contra a gente no Congresso. Precisamos afastar essa turma do governo e construir uma base comprometida com as transformações. A eleição de 2026 será difícil e vamos enfrentar também o governo Trump, que tentará nos derrotar.”
O candidato apontou como prioridade a reestruturação da militância petista. “Hoje temos quase 3 milhões de filiados, mas a maioria não milita. Precisamos que os núcleos funcionem, que os diretórios funcionem, que haja formação política constante, que a direção nacional atue em modo caravana e que esteja presente nos territórios.”
Além disso, ele criticou a concentração de poder nas mãos de parlamentares e defendeu a retomada de práticas antigas do partido.
“Temos que recuperar o que chamávamos de assistência, a presença dos dirigentes junto à base, com apoio político, organizativo, financeiro e comunicacional.”
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Militância
Para Valter Pomar, o PED 2025 será decisivo. “Só existem dois caminhos: ou mantemos a política e o funcionamento atuais, ou mudamos tudo. Se mantivermos como está, podemos sofrer uma derrota total em 2026 ou mesmo uma derrota estratégica, em que o partido se torne irreconhecível.”
Ele reforçou ainda que o partido precisa voltar a ser comandado pela militância. “Ninguém é dono do PT. O PT pertence à militância. Se queremos voltar a ser instrumento da classe trabalhadora, temos que recuperar o partido para a base.”
Da Redação