Vala de Perus: Ossadas de dois mortos pela ditadura são identificadas

A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) anunciou, nesta quarta-feira (16), a identificação de dois desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar, Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro, que haviam sido enterrados clandestinamente na Vala de Perus, na capital paulista. A cerimônia ocorreu na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“A luta por memória, verdade e justiça não é apenas sobre o passado. Ela é sobre o presente e o futuro do Brasil. Quando identificamos os restos mortais de pessoas que foram silenciadas pela ditadura, estamos dizendo que a democracia precisa ser construída com base na dignidade humana”, afirmou Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), pasta que abriga a CEMDP, quando o anúncio foi feito.

A ministra acrescentou que “essas identificações devolvem às famílias o direito de enterrar seus mortos com dignidade, ao mesmo tempo em que devolvem ao Brasil parte da sua história que foi apagada. É um gesto de humanidade e de compromisso com os direitos humanos”.

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Durante a cerimônia, também ocorreu a retificação de um erro cometido em 1991. Na época, legistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) atribuíram erroneamente a Denis Casemiro outra ossada encontrada na Vala de Perus. Agora, Casemiro foi corretamente identificado com base em teste de compatibilidade genética.

A identificação das ossadas é parte de um trabalho conjunto do MDHC, da Unifesp — por meio do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf) —, e da Prefeitura de São Paulo. O Projeto Perus conta com uma equipe multidisciplinar e com o reforço de novas tecnologias genéticas, em parceria firmada pelo MDHC com o laboratório International Commission on Missing Persons (ICMP).

Denis e Grenaldo

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Denis Casemiro, nascido em Votuporanga (SP), foi pedreiro, trabalhador rural e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Preso em 1971, foi torturado e executado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), sob comando do delegado Sérgio Fleury. A versão oficial da época alegava tentativa de fuga. Denis é irmão de Dimas Casemiro, também militante político, identificado em 2018 pelo mesmo projeto.

Maranhense e ex-militar da Marinha, Grenaldo de Jesus da Silva foi preso em 1964 após reivindicar melhores condições de trabalho. Após escapar da prisão, passou a viver na clandestinidade. Em 1972, foi morto ao tentar capturar uma aeronave no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

Vala de Perus

A descoberta da Vala de Perus, situada no Cemitério Dom Bosco, em 1990, escancarou a forma como operava a ditadura militar em relação a muitos dos perseguidos políticos do regime. No local, foram encontradas mais de mil ossadas enterradas clandestinamente, que pertenciam a indigentes, pessoas não identificadas e vítimas da repressão e do Esquadrão da Morte.

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“Com a abertura da vala, graças à vontade política da então prefeita Luiza Erundina, surgiram as primeiras tentativas de identificação. Depois de um longo périplo institucional, foi o Ministério Público Federal, em São Paulo, que retomou os trabalhos, com o apoio de juízes federais e procuradores comprometidos com a verdade”, lembrou a presidente da CEMDP, Eugenia Gonzaga, durante a cerimônia.

Quando ocorreu a descoberta, as ossadas foram encaminhadas à Unicamp e à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas enfrentaram décadas de abandono institucional.

Em março deste ano, o MDHC, em nome do Estado brasileiro, pediu desculpas pela negligência na guarda e identificação das ossadas, em cerimônia realizada no Cemitério Dom Bosco.

Ao final de seu trabalho, em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) indicou a existência de 191 mortes e 210 desaparecimentos de perseguidos políticos cujos corpos nunca foram localizados, além de outros 33 localizados, totalizando 434 pessoas vítimas desse crime no período ditatorial.

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