Mario Vargas Llosa, figura proeminente do cenário literário latino-americano, morreu no domingo 13, aos 89 anos, em Lima. Ele estava ao lado da família e partiu deixando um legado internacionalmente reconhecido.
O jornal inglês The Guardian definiu o autor como uma “voz crítica e reflexiva sobre o poder, a liberdade e as complexas realidades sociais da América Latina”.
O francês Le Monde lembrou que Llosa sempre dizia não aceitar que a literatura fosse uma simples forma de entretenimento.
Nascido em 1936 na cidade de Arequipa, no Peru, Vargas Llosa foi, muito jovem, mandado para uma academia militar, algo que o marcaria para sempre. Da experiência, extraiu o material para seu primeiro romance, A Cidade e os Cachorros (1963), que logo causou impacto.
Ainda na década de 1960 se seguiriam outros dois livros, A Casa Verde (1965) e Conversa na Catedral (1969), que o colocariam no panteão dos autores que, àquela altura, eram reconhecidos como os responsáveis pelo boom literário na América Latina.
Embora passasse ao largo do realismo mágico, marca de alguns de seus colegas mais ilustres, como Gabriel García Márquez e Julio Cortázar, Llosa tinha um estilo considerado inovador. Em sua escrita, as influências da narrativa clássica se misturavam a uma polifonia de vozes e a uma fragmentação temporal características da modernidade.
Além de obras épicas, de forte conteúdo político, como A Guerra do Fim do Mundo (1981) e A Festa do Bode (2000), Vargas Llosa trafegou por uma escrita intimista, que flertava com a autobiografia – é o caso de livros como Tia Júlia e o Escrevinhador (1977) e Elogio da Madrasta (1988).
Em 2010, ao agraciá-lo com o Prêmio Nobel de Literatura, a Academia Sueca destacou “sua cartografia das estruturas de poder e suas imagens penetrantes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos”.
Ainda que fosse, sobretudo, um ficcionista de mão cheia, Vargas Llosa deixou também uma vasta produção ensaística, teatral e jornalística. Seus livros foram traduzidos para mais de 30 idiomas.
Outra marca forte de sua biografia foi seu envolvimento com a política. Na juventude, ele apoiou Fidel Castro, mas, depois, tornou-se um crítico ferrenho do regime cubano, aproximando-se da direita. Em 1990, candidatou-se à Presidência do Peru, com uma pauta liberal, mas perdeu para Alberto Fujimori.
Em 2022, ele chegou a declarar, ao ser questionado sobre as eleições presidenciais no Brasil, que jamais votaria em Lula. Suas posições políticas controversas nunca foram, porém, capazes de manchar o seu talento literário. •
Publicado na edição n° 1358 de CartaCapital, em 23 de abril de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Vai-se um dos grandes’