
“Que vá para o inferno. E que não demore muito a ir.”
Com essa frase direta e carregada de indignação, o jornalista Ricardo Noblat encerrou uma de suas colunas mais duras sobre Jair Bolsonaro, publicada no portal Metrópoles. É um desabafo público e um inventário dos danos causados pelo ex-presidente ao país, passando por sua postura na pandemia, sua tentativa de golpe e a maneira como ainda tenta manipular a opinião pública — mesmo internado e em recuperação cirúrgica.
Começa a crítica ao uso recente das redes sociais por Bolsonaro, que publicou uma imagem do próprio abdômen aberto após cirurgia: “Capaz de expor as próprias vísceras para tentar despertar piedade e lucrar politicamente com isso.” Para Noblat, não se trata de uma simples atualização médica, mas de mais um movimento calculado para sustentar sua narrativa de sofrimento e martírio, na tentativa de gerar comoção e reverter o desgaste de sua imagem.
O jornalista lembra que esse padrão de comportamento já é conhecido. Durante a pandemia, Bolsonaro minimizou a crise sanitária, desacreditou vacinas e promoveu tratamentos ineficazes. Ao invés de liderar o país, se aliou a um discurso negacionista que, somado à negligência do governo, teve consequências fatais: “Associou-se a um vírus que matou mais de 600 mil pessoas.”

Agora, tenta limpar a própria ficha com um discurso de anistia ampla, geral e irrestrita, afirmando que os beneficiados seriam apenas os “inocentes usados pela esquerda” no episódio do 8 de janeiro de 2023. Mas essa narrativa esbarra em fatos concretos. Os envolvidos no ataque às sedes dos Três Poderes eram apoiadores declarados, muitos deles acampados há dias em frente ao QG do Exército, pedindo por um golpe militar. “Todos bolsonaristas, estavam acampados à porta do QG do Exército. Clamavam por um golpe militar.”
No pano de fundo, recorda que a eleição de Bolsonaro em 2018 só foi possível por circunstâncias extraordinárias. “Não tivesse Lula preso em 2018, Bolsonaro dificilmente teria sido eleito. Não tivesse levado uma facada, talvez não se elegesse.” Fatos que, segundo ele, mostram como o ex-presidente se aproveitou do acaso — e da comoção — para construir sua ascensão política.
Há ainda o uso recorrente de internações e cirurgias para reforçar uma imagem de resistência e sacrifício. “As seis operações foram aproveitadas para construir a imagem de um homem sofrido, capaz de morrer pelo Brasil.” A exploração desse tipo de narrativa, segundo o jornalista, não é sobre saúde, mas sobre conveniência política e vitimização calculada.
Ao longo da análise, o colunista destaca que Bolsonaro abusa da sorte e não há nenhuma inocência ou acaso em suas escolhas. Inclusive da sorte de estar vivo. “Abusa da sorte por não cuidar da saúde como os médicos mandam.” Há estratégia, oportunismo e, sobretudo, um projeto de autoproteção a qualquer custo.
Por isso, conclui que não há espaço para perdão institucional. “Sem anistia para ele. Sem prisão domiciliar, muito menos à beira-mar, como a de Fernando Collor.” O recado é claro em seu texto: Bolsonaro deve enfrentar as consequências dos próprios atos — e sem atalhos.
Conheça as redes sociais do DCM:
Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line