Usuários denunciam censura do Instagram a perfis de esquerda no Brasil

Na amanhã dessa quarta-feira (10/12) inúmeros usuários têm relatado que os perfis oficiais de parlamentares e lideranças de esquerda simplesmente desapareceram do sistema de busca do Instagram, rede social controlada pela Meta e uma das mais usadas no país. Os usuários têm denunciado o que chama de “shadow ban massivo“. O fato acontece exatamente no dia seguinte a uma noite conturbada no Parlamento envolvendo às agressões ao deputado Glauber Braga (PSOL), que tem seu mandato ameaçado, e as aprovações na calada da noite dos projetos da Dosimetria (na Câmara) – que reduz as penas dos golpistas do 8 de Janeiro – e da PEC do Marco Temporal (no Senado).

Perfis de figuras públicas do PSTU, como Vera e Mandi, foram afetados, e nem mesmo o perfil do presidente da República, Lula, parece ter escapado do problema. Em contrapartida, perfis vinculados ao espectro da direita parecem ter sofrido menos. Vale lembrar que recentemente perfis de grande relevância como dos influenciadores Chavoso da USP e Jones Manoel também “sumiram” da plataforma sem nenhuma explicação por parte da empresa.

A Meta não se manifestou, mas a disparidade nos perfis afetados — que atinge de Lula a lideranças radicais — aponta para um padrão que as plataformas insistem em chamar de “falha técnica”.

O que é o Shadow Ban

Shadow ban se refere à técnica de silenciamento que restringe o alcance de um perfil, condenando seu conteúdo a uma espécie de ostracismo digital, em vez de aplicar a censura direta.

O poder de fogo reside justamente na capacidade dessas empresas de mapear, categorizar e controlar a circulação de vozes por meio de algoritmos opacos, atuando como verdadeiros porteiros digitais com viés político. O recorte de perfil evidencia que, de alguma maneira, vozes de esquerda já estão classificadas e despriorizadas algorítmicamente.

Poder das Big Techs é uma ameaça imperialista à soberania

O episódio levanta alguns debates sobre o poder das big techs e do monopólio dessas empresas sobre boa parte da infraestrutura e dos serviços na internet. O primeiro deles é justamente sobre o poder que essas empresas, todas concentradas no países centrais do imperialismo capitalista, tem de interferir na circulação de informações entre as pessoas. Basta lembrar que 2026 é ano eleitoral e que isso pode estar servindo de laboratório para as plataformas. Bilionários da tecnologia tem um longo histórico de flerte com projetos autoritários e distópicos de uma ditadura tecnológica. Elon Musk (dono do X/Twitter), aliás, fala abertamente em golpes de estado na América Latina e foi acusado de fazer uma saudação nazista no durante a posse de Donal Trump em janeiro de 2025.

Mas as ameaças ao direito à comunicação e a livre circulação de ameaças vão além do problema eleitoral. Basta lembrar os prejuízos causados pela circulação de desinformação durante a pandemia de Covid-19. Fato é que essas plataformas lucram às custas de discursos de violência e opressão, mesmo que isso custe a vida de muitas pessoas. Os recentes casos de feminicídio que levaram milhares às ruas para protestar nesse final de semana estão diretamente ligados à livre circulação desses discursos, como no caso de agressão envolvendo o influencer conhecido como “Calvo do Campari“.

Regulação é o mínimo, mas é preciso ir além

Se as plataformas estão a um clique de censurar todo um espectro político do país, estamos diante de uma grave ameaça de violação da soberania e da função social dois meios de comunicação. Frente à isso é preciso pautar urgentemente a necessidade da regulamentação das big techs, pois internet não pode ser terra sem lei. Uma regulamentação que imponha limites aos monopólios, que os obriguem a cumprir com as funções sociais e prestarem contas sobre suas atividades de maneira transparente.

Contudo, não é possível ter ilusões no Parlamento que, não por acaso, tem sido apelidado de inimigo do povo. Nem nesse, nem em um futuro parlamento a ser eleito em 2026, como defende o reformismo. Na sociedade de classes, em última instância, vale o poder econômico desses grandes conglomerados que financiam campanhas milionárias e tem outros milhões para gastar fazendo lobby entre os congressistas. Ou seja, regulamentação é importante, mas não rompe com a lógica do controle do capital.

A saída passa justamente pela superação dessa lógica e pela conquista da soberania tecnológica e digital. Pela construção de uma infraestrutura da internet que não esteja vinculada ao lucro e aos monopólios, que cumpra sua função social e, para isso, é preciso que ela seja aberta, transparente e controlada pelos trabalhadores o que, inevitavelmente, aponta para a necessidade de expropriação dessas grandes empresas e bilonários. É esse o caminho para libertar a comunicação digital das garras dos monopólios imperialistas.

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