Vidas e sonhos foram interrompidos durante a ditadura militar, um trágico capítulo da história brasileira. A USP (Universidade de São Paulo) encontrou uma forma de homenagear os jovens que sonhavam com dias melhores para o país. Na segunda-feira (26), 15 de seus alunos mortos no período receberam diplomação póstuma, entregue aos seus familiares.

A cerimônia de diplomação ocorreu em um dos auditórios da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), na Cidade Universitária, capital paulista. Ao todo serão 31 documentos entregues pelo projeto Diplomação da Resistência.

Diplomados

Entre os homenageados estava Tito de Alencar Lima, o Frei Tito. Ele iniciou o curso de ciências sociais em 1969. Foi preso, torturado e exilado. A sua história é retratada no livro, de autoria de Frei Betto, e filme com mesmo nome ‘Batismo de Sangue’. Ele teve a vida marcada pela tortura sofrida pelos agentes da ditadura militar que o levou ao suicídio na França, em 1974.

Também foram homenageadas duas guerrilheiras do Araguaia: Suely Yumiko Kanayama e Helenira Resende de Souza Nazareth.

Kanayama foi estudante de Letras e desapareceu em 1973. Helenira de Souza também cursou Letras da USP e foi vice-presidente da UNE. Ela foi morta e torturada na Guerrilha do Araguaia, em 1972.

Veja aqui todos os nomes dos homenageados.

“Helenira Resende, Suely Kanayama e Frei Tito deixaram um legado de coragem, resistência e dedicação à luta por um Brasil mais justo e democrático. Helenira, como a primeira mulher negra a ocupar um cargo de liderança na UNE, é um símbolo poderoso de luta não apenas contra a ditadura, mas também contra o racismo e o machismo estruturais. Sua vida e seu sacrifício inspiram a continuidade das lutas por igualdade e justiça social”, pontuou Mirella.

Comissão da Verdade da USP

Os alunos da FFLCH-USP homenageados foram indicados pelo projeto Diplomação da Resistência, que toma como base dados da Comissão da Verdade da USP, que, desde 2013, “busca por informações referentes às graves violações dos direitos humanos de alunos, funcionários e professores da USP, no período de 31 de março de 1964 a 15 de março de 1985”.

Como traz o relatório final da Comissão: “dentre os 434 mortos [revelados pela Comissão Nacional da Verdade], 47 deles tinham relação com a Universidade de São Paulo, ou seja, 10% do total de mortos e desaparecidos em todo o território nacional, número muito alto se for levado em conta que a comunidade da USP não era grande na época. Dentre os 47 casos citados, 39 eram alunos, 6 eram professores e 2 eram funcionários. Entre os alunos que morreram ou desapareceram, 70% deixaram de frequentar a USP, entre 1967 e 1971, um pouco antes do seu desaparecimento”.

Confira aqui o relatório final que a USP produziu.

15 alunos diplomados. Fotos: Memorial da Resistência de São Paulo – Arte: Renan Braz

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Última Atualização: 27/08/2024