“A grande unidade que construímos nas ruas e nas universidades contra a extrema direita que possibilitou a eleição de Lula, precisa estar também representada dentro da União Nacional dos Estudantes. Somente de mãos dadas, resguardando o espaço para as nossas divergências, mas construindo a UNE com independência e com uma agenda avançada de mobilização por mais orçamento para educação, pela tarifa zero, por emprego digno, direitos sociais e justiça climática é que derrotaremos as ideias neofascistas e avançaremos em conquistas para o povo brasileiro”.
Resolução de Conjuntura aprovada na plenária final
No início deste mês, finalizamos o 16º CONEB da UNE, o espaço da entidade mais aberto à base do movimento estudantil, formado por aqueles que, diariamente, constroem seus Centros e Diretórios Acadêmicos. O momento mais importante do evento, sem dúvida, foi sua plenária final, que começou com um ato de solidariedade ao povo palestino, seguido de um ato político pelo fim da escala 6×1 e pela taxação dos super-ricos, reafirmando que o movimento estudantil tem um lado, que é o lado da classe trabalhadora.
Matheus Gomes, deputado estadual pelo Rio Grande do Sul, representando o PSOL, disse: “Vamos unir o movimento Vida Além do Trabalho, o MST, a União Nacional dos Estudantes, as Centrais Sindicais, na construção de uma jornada de lutas pelo fim da escala 6×1, pela taxação dos super-ricos, e pelos direitos sociais que nosso povo precisa. Nós queremos com essa proposta fazer com que o governo federal se apoie na mobilização social. A governabilidade que precisamos no Brasil é aquela que temos visto Gustavo Petro incentivar na Colômbia, que é a da mobilização social com enfrentamento direto à extrema-direita. Precisamos acreditar no potencial da classe trabalhadora…”
Foi com essa política que nós do Afronte, em conjunto com os outros movimentos que compõem a Juventude Sem Medo (JSM), intervimos ao longo do CONEB e acreditamos que o espaço foi vitorioso em sua principal tarefa: preparar o Movimento Estudantil para os grandes desafios que teremos em 2025.
A síntese produzida pela unidade de diferentes movimentos que atuam na UNE, como nós da Juventude Sem Medo, UJS e Levante Popular da Juventude, expressada na resolução de conjuntura aprovada pela grande maioria dos delegados presentes, conseguiu apontar os caminhos para o ME. É, a partir disso, que começamos o ano, animados para fazer muito trabalho de base, convocando os estudantes à disputa política da sociedade e à mobilização em torno de uma agenda de pautas progressistas, buscando que a UNE, em conjunto com outros movimentos sociais, lidere o enfrentamento ao fascismo e pressione o governo.
Como calendário de lutas mais imediato, foi aprovado a Semana Nacional (entre os dias 17 a 21 de Fevereiro) de Luta pelo Orçamento da Educação, e o dia 28 de Março como um grande dia de Jornada de Lutas da Juventude. Nós do Afronte queremos, assim como dissemos em nosso manifesto ao CONEB, ter um papel ativo desde as bases das universidades, mas também dentro da UNE, de impulsionar com força essa jornada. Essa será parte das nossas principais tarefas nos próximos meses.
Outro grande encaminhamento do CONEB foi a construção do plebiscito popular pela taxação dos super-ricos e pelo fim da escala 6×1. Achamos a tática do plebiscito imprescindível para o momento que estamos vivendo, onde parte fundamental da tarefa da esquerda é buscar disputar mentes e corações para nossas pautas, já que muitas vezes são levadas pelo discurso do bolsonarismo. O plebiscito, que já conta com a adesão das Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, terá um longo processo de preparação para culminar em uma grande coleta de votos em setembro.
Além disso, temos outros três grandes eventos no ano: o festival Mulheres Em Luta (MEL), que acontecerá entre os dias 11, 12 e 13 de Abril em São Paulo; o próprio Congresso Nacional da UNE indicado para Julho; e a COP 30 que ocorrerá em Novembro em Belém.
Com isso, temos as bases políticas para que os movimentos sociais cumpram o papel de disputar os rumos do país. E é nisso que o Afronte colocará suas forças, que desde as calouradas nas universidades entre fevereiro e março, já iremos iniciar o debate da necessidade dos estudantes se engajarem nesses processos.
Unidade entre poucos ou unidade pra valer?
Desde antes do CONEB, defendemos que, diante da situação global, com Trump como presidente dos EUA se aliando a bilionários e com o fortalecimento da extrema-direita, será essencial uma ampla unidade no movimento estudantil. Essa unidade deveria se expressar em uma resolução de conjuntura histórica, que unisse, além da JSM, os setores que conduzem a UNE e setores do campo da oposição. Se do lado de lá o fascismo se alia com as Big Techs, tendo suas intenções traduzidas com Elon Musk fazendo um gesto nazista na posse de Trump, do lado de cá o Movimento Estudantil precisa expressar a imagem da unidade entre a esquerda. Acreditamos que havia condições para isso, especialmente porque a resolução propunha uma jornada de mobilização, críticas à política econômica do governo que fortalece a extrema-direita, e reafirmou a independência da UNE (já aprovada no CONUNE de 2023).
Infelizmente, os companheiros da oposição optaram por priorizar a autoconstrução e a demarcação de uma política, defendendo uma relocalização da entidade para se hierarquizar pela oposição ao governo federal em um momento em que essa localização é hegemonizada pelo bolsonarismo. Aqui de fato temos uma diferença central: a maior parte dos grupos da oposição sequer esteve dentro da aliança eleitoral que elegeu Lula em 2022. Embora essa vitória não tenha sido definitiva e a luta contra o fascismo continue, ela foi crucial para que hoje possamos realizar eventos como o CONEB. Imagine o que teria ocorrido no Brasil caso os golpistas de 8 de janeiro tivessem vencido as eleições. Está muito nítido, e provado factualmente depois das revelações da Polícia Federal sobre o plano de assassinato de toda a linha susessória, que o projeto da extrema direita é impor outro regime no Brasil. Vamos esperar a ilegalidade da UNE para nos unirmos? Vamos esperar estarmos todos presos para debater alianças?
Toda unidade exige necessariamente alianças entre grupos diferentes. Temos diferenças e seguiremos tendo. A questão é que elas não hierarquizam nossa intervenção neste momento, porque estamos pautados por uma necessidade maior: movimentar a base dos estudantes, pela necessidade de termos uma tarefa que é de construção, trabalho de base, de convencimento, reconstrução. Todo ativista sabe que, para mobilizar seu curso, não basta apenas fazer convocações; é preciso convencer. Organizar um CA hoje é um grande desafio, principalmente devido à apatia e à falta de participação, o que nos exige o desafio estratégico de reencantar, portanto recomeçar. A unidade e a esperança, por isso, precisam ser impulsionadas por essa nova etapa de construção e transformação.
Ganhar os estudantes para voltarem a crer na força do movimento estudantil
Se todos os movimentos que constroem a UNE, inclusive os da oposição, se unissem em uma ação conjunta, como, por exemplo, fazendo a movimentação de passagem em sala para convocar à mobilização, com certeza essa ação surtiria muito mais efeito do que iniciativas isoladas de cada organização. A força da coletividade se faz evidente quando somamos esforços em ações amplas, capazes de alcançar um maior número de estudantes e despertar um engajamento mais forte.
É fundamental priorizar a unidade e a força da ação conjunta, garantindo que a UNE seja uma organização capaz de mobilizar. A UNE tem condições de ser um vetor que contribua efetivamente para que a gente volte a tomar as ruas e pressione o governo a aplicar políticas para o povo, em vez de fazer concessões ao centrão. Portanto, é essencial que todos os movimentos que constroem a UNE, sem exceção, se comprometam a construir, de forma unitária, o calendário de mobilização da entidade.
Nós, do Afronte, nos movimentaremos em cada CA, DA, DCE e territórios para construir esse calendário de lutas. A resolução de conjuntura aprovada no CONEB foi o primeiro passo nesse sentido. Vivemos um tempo de urgências, mas temos que usar o tempo a nosso favor. É nossa tarefa, construir ao longo do semestre diversas iniciativas que concretizem essa unidade. Fazemos um chamado a todos movimentos sociais, de juventude e coletivos a virem construir com a gente. Acreditamos na força das nossas ideias e que precisamos disputar cada estudante e fazê-los voltar a acreditar que a força do movimento estudantil e a luta podem transformar a nossa realidade.
“(…) A unidade por si só não garante a vitória, mas sem ela a derrota é certa.”
Trecho da defesa da resolução de conjuntura defendida pelo Afronte, Juventude Sem Medo, e aprovada por ampla maioria no CONEB 2025.