A plenária final, que ocorreu neste sábado (1), votou a resolução da entidade intitulada “Unidade é a bandeira da esperança” e convoca os movimentos sociais e partidos de esquerda a construir uma agenda comum de mobilização para enfrentar a extrema direita no país e exigir a punição dos organizadores e financiadores da tentativa de golpe após as eleições de 2022.

“A resistência a essa ofensiva precisa se dar de maneira organizada, com o fortalecimento dos movimentos populares e ocupando as ruas contra as tentativas de golpe e destruição dos direitos conquistados. Nesse sentido, uma das principais pautas da esquerda deve ser a defesa da punição para os generais que, junto a Bolsonaro, planejaram um atentado de golpe à democracia do país”, diz o trecho da resolução. “Somente de mãos dadas, resguardando o espaço para as nossas divergências, mas construindo a UNE com independência e com uma agenda avançada de
mobilização por mais orçamento para educação, pela Tarifa Zero, por emprego digno, direitos sociais e justiça climática é que derrotaremos as ideias neofascistas e avançar nas conquistas para o povo brasileiro”.

Estiveram presentes o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ) do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) e o deputado Matheus Gomes (PSOL-RS).

Ainda esse ano ocorrerá o Congresso Nacional da UNE (CONUNE), que promete ser um calendário importante para essa organização de movimentos sociais e ativistas.

Leia a resolução completa:

1. Conjuntura

O mundo enfrenta profundas transformações decorrentes do aprofundamento da crise do capitalismo, principalmente após 2008. Para preservar o modelo produtivo de exploração da força de trabalho da classe trabalhadora para acumulação dos lucros das elites econômicas, a resposta política dos mais ricos tem sido o fortalecimento da extrema direita no mundo,através de uma agenda de aprofundamento da política neoliberal que visa o desmonte do Estado, a destruição de direitos básicos e universais, o financiamento dos meios de comunicação transformando pessoas em dados e algoritmos e a desvalorização da vida digna e dos direitos humanos. 

Nesse contexto, o neoliberalismo avança em aliança com a extrema direita, aprofundando o domínio do capital financeiro e das grandes corporações, com o objetivo de retomar os patamares de lucro anteriores à crise de 2008, e buscar reverter a decadência estrutural do domínio imperialista norte americano. Acuado, os Estados Unidos ampliam seus ataques, diante do projeto de poder de Trump em aliança com as big techs, a localização do Brasil nos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ganha novo contorno como  contraponto a esta hegemonia. Essa ofensiva imperialista busca manter sua hegemonia global, sufocando qualquer projeto de autodeterminação nacional e popular, enfraquecendo o  Sul Global como uma estratégia central do capitalismo financeirizado. Este cenário intensifica ainda mais as tensões, o imperialismo acuado aumenta seus ataques. EUA/Israel avançam cada vez mais o genocidio na Palestina, o criminoso bloqueio econômico a Cuba aumenta, as intervenções políticas no mundo se espalham, como a desestabilização da Venezuela e no Oriente Médio. 

Como resultado desse processo, a classe trabalhadora enfrenta o aumento da desigualdade social e a precarização das condições de trabalho em todo mundo. Nos países do sul global ataques diretos à soberania, a fragilização das instituições democráticas e a instabilidade econômica estão na ordem do dia. A face mais cruel do imperialismo emerge em Gaza que apesar do acordo de cessar fogo, enfrenta um dos períodos mais violentos de  sua história. Esse massacre, que já dura 70 anos, está ligado à expansão territorial no Oriente Médio e ao imperialismo. Defendemos a autodeterminação palestina e o respeito às resoluções ignoradas por Israel. A questão palestina é uma luta contra o imperialismo, o apartheid e o racismo, e é sobretudo o símbolo de resistência contra um sistema global que normaliza a violência estatal e a repressão a qualquer forma de organização popular. A

tecnologia usada por Israel também é aplicada no Brasil contra a população negra, como demonstrado no massacre da favela do Jacarezinho em 2021 e na chacina na Baixada Santista em 2024. Mais do que nunca, é preciso que as frentes populares, democráticas e progressistas do Brasil se unam em torno de uma agenda de valorização do sul global, internacionalista e anti-imperialista. 

O crescimento da extrema direita é impulsionado por uma rede de “milícias digitais”, onde as redes sociais dominam o debate público e a disputa política se transforma em espetáculo, promovendo uma performance de radicalidade, alinhado também com os magnatas das Big Techs que ditam os algoritmos e além disso, incentivam dentro de suas redes a propagação das fake news e discursos de ódio. Essa postura enganosa de ser “antissistema”, que projeta o sistema nas instituições e nas elites culturais, enquanto se alia às elites econômicas, está alinhada com uma agenda de medidas de austeridade fiscal, privatizações, venda de patrimônio público, exploração intensiva de recursos naturais, desrespeito aos direitos humanos, precarização do trabalho e desmantelamento das políticas de seguridade social. Tudo isso representa um severo ataque ao Estado Democrático de Direito, especialmente na América Latina e aos direitos sociais conquistados por meio das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras. 

A vitória de Trump nos Estados Unidos é um marco qualitativo no fortalecimento da extrema-direita enquanto campo. Com o “projeto 2025” (plataforma programática de Trump e do partido republicano), ele se apresenta como um modelo de xenofobia, com suas operações de deportação em massa dos latino-americanos; e de alteração da correlação de forças na disputa tecnológica e da regulamentação das plataformas digitais através do protagonismo dos bilionários das Big Techs. A ascensão da extrema direita não é um fenômeno isolado, mas parte de um projeto de dominação política que usa o autoritarismo e o fundamentalismo como ferramentas para manter os privilégios da elite econômica, levando isso em consideração os direitos civilizatórios das populações historicamente oprimidas tem sido um dos principais alvos da narrativa ideológica da extrema direita. A luta das mulheres, do povo negro, dos indígenas e povos e comunidades tradicionais, da população LGBT é constantemente atacada pelos principais interlocutores internacionais e nacionais da extrema direita com suas apologias ao nazismo e à violência às minorias sociais, e, por isso, devem estar no centro da disputa social e ideológica que as esquerdas e setores democráticos devem travar.

No contexto brasileiro recente, o bolsonarismo deve ser entendido dentro de um contexto global, mas levando em conta as particularidades brasileiras. Após quatro anos de governo da extrema-direita, que foi marcado por retrocessos e intensas batalhas dos movimentos populares e democráticos, com destaque para a UNE, que organizou os Tsunamis da Educação e teve um papel fundamental na formação de uma frente ampla, Lula conquistou a vitória nas eleições de 2022. Esse evento histórico deu início a um novo ciclo político no país, com a eleição de um projeto voltado para o povo, simbolizando uma derrota significativa do neofascismo tanto no Brasil quanto na América Latina. No entanto, a superação definitiva do bolsonarismo exige mais do que sua derrota eleitoral: é necessário desmantelar suas bases econômicas, políticas e ideológicas, que seguem atuando dentro das instituições do Estado e na sociedade. 

O avanço da extrema direita aprofunda a crise climática e as questões socioambientais. As enchentes, ondas de calor, queimadas, poluição do ar, impactam duramente a vida da população em todo o mundo, mas também desvelam as mais crueis faces das desigualdades sociais do sistema capitalista pois as classes sociais menos favorecidas são as mais afetadas. Por isso, os estudantes brasileiros precisam estar atentos à discussão acerca da transição energética e desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, a participação na COP 30, que ocorrerá em Belém, é fundamental para formular um programa para o Brasil e o mundo que coloque a defesa do meio ambiente no centro do debate global, com um projeto de desenvolvimento que respeite os povos, a Amazônia e os conhecimentos ancestrais. Lutar contra a financeirização da questão ambiental, é também lutar por nossa soberania 

Embora a derrota de Bolsonaro nas urnas tenha imposto um recuo na agenda da extrema direita, isso não representa uma trégua, pois seus interloctures permanecem articulados aos líderes desse movimento no mundo e em uma constante ofensiva orquestrando atentados ao Estado de Direito e questionando as instituições, como representa a tentativa de Golpe no 8 de Janeiro; na organização do movimento de massa através dos comícios e motociatas de Bolsonaro; ou aplicando a agenda ultra-neoliberal e autoritária em importantes estados do país como a de Tarcísio de Freitas em São Paulo e Caiado em Goiás. A resistência a essa ofensiva precisa se dar de maneira organizada, com o fortalecimento dos movimentos populares e ocupando as ruas contra as tentativas de golpe e destruição dos direitos conquistados. Nesse sentido, uma das principais pautas da esquerda deve ser a defesa

da punição para os generais que, junto a Bolsonaro, planejaram um atentado de golpe à democracia do país. O sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, que retratou anos de impunidade aos torturadores da ditadura, abriu um diálogo na sociedade sobre a necessidade de punir aqueles que defendem um regime autoritário. Não podemos permitir, nem tratar com naturalidade, que, anos depois, ainda tenhamos novas tentativas de impor uma ditadura em nosso país. Enfrentar a extrema-direita passa por atuar diretamente para desmantelar a organização de seus principais líderes, por isso a pauta “Sem Anistia! Prisão para Bolsonaro e os golpistas” é central para o movimento estudantil. 

Nesse sentido, é preciso entendermos que o contexto do governo federal é disputado por setores completamente diferentes. De um lado, os partidos e frentes progressistas na luta por mais políticas sociais e construção de uma economia popular, com distribuição de renda e valorização da educação. No entanto, do outro lado vemos setores do chamado “centrão” e da direita liberal, pressionando e coagindo os setores progressistas em torno de uma agenda anti-povo. Precisamos estar nas universidades construindo a luta e pressionando o congresso e o governo para apontar os avanços que a sociedade brasileira necessita, garantindo o êxito do governo. 

Pois entendemos que a tarefa de reconstruir o país e melhorar a vida da maioria do povo, após anos de sequestro do Estado Nacional por parte das elites financeiras e em um contexto de recessão econômica no mundo, e com um governo marcado pela heterogeneidade da frente que o elegeu e que o governa, portanto, marcados por constantes disputas em torno dos rumos do projeto eleito. Precisar governar com um congresso nacional fisiológico dirigido pela direita e que herdou os piores vícios do período de Bolsonaro, como o sequestro de ⅓ do orçamento da união pelas emendas parlamentares impositivas e por um modus operandi de constante chantagem ao Planalto. 

Diante dessa disputa, a resposta para o fortalecimento do projeto popular e de isolamento da extrema direita não está de maneira nenhuma em ceder à pressão do mercado financeiro e suas instituições. É preciso pressionar o governo para que seja superada superar a política econômica e fiscal ortodoxa que prioriza a política do Déficit Zero, a alta taxa de juros sustentada pelo Banco Central (a taxa básica vem sendo elevada, somente no acumulado de 12 meses até novembro de 2024, foram 918 bilhões de reais torrados em juros), a manutenção do Tripé Macroeconômico que são obstáculos para a reindustrialização

do país e a ampliação dos investimentos em educação e áreas estratégicas para a diminuição da desigualdade social. O aumento real do salário mínimo, que o é uma das principais políticas de distribuição de renda e crescimento econômico, o BPC, os pisos constitucionais da saúde e educação não podem ser colocados em cheque para que se alcance as metas do arcabouço fiscal. 

Nesta arena, de novo fôlego da extrema direita com a vitória do Trump, a unidade mais do que nunca é a bandeira da esperança. A UNE enfrenta uma tarefa gigantesca para o próximo período, assumindo o desafio de popularizar o discurso e as lutas em torno de um projeto de país que promova o desenvolvimento industrial e social, ambientalmente sustentável como forma de combater a uberização do emprego. Isso inclui aumentar os investimentos públicos em educação e saúde, implementar a taxação das grandes fortunas, combater as políticas que favorecem o capital especulativo, regulamentar as grandes empresas de tecnologia, lutar por justiça climática e expandir programas que enfrentam a fome e a desigualdade social. Um exemplo disso é o movimento “Vida Além do Trabalho”, que tem trazido à tona, na opinião pública, a discussão sobre o fim da jornada de trabalho de 6×1 por meio da mobilização popular. Mais do que resistir, é preciso avançar na construção de um novo modelo de desenvolvimento que enfrente as desigualdades estruturais do país. 

A disputa ideológica na sociedade é um fator essencial na conquista da opinião pública, exigindo uma comunicação clara e acessível às massas . Por isso, é preciso que saiamos pelo país numa campanha pela regulamentação das redes sociais e democratização dos meios de comunicação e Internet. No Brasil de 2025, não podemos continuar reféns de bilionários e Big Techs. Pois a América Latina, marcada pela herança dos regimes autoritários do passado, também pulsa com a esperança intransigente de um futuro mais justo e soberano. 

Recentemente, Gustavo Petro, presidente da Colômbia, reafirmou essa luta ao responder de forma contundente à explosão de Donald Trump. Em uma carta histórica, Petro defendeu a soberania nacional e os interesses do povo colombiano, desafiando o imperialismo estadunidense com argumentos sólidos e uma comunicação afiada. Sua resposta não apenas desmontou a retórica de Trump, mas também reafirmou a necessidade de uma

América Latina unida e independente, controlada com os interesses populares e resistente a interferências externas. 

A UNE foi capaz de atravessar décadas superando os desafios impostos a ca geração por contar no seu interior com uma grande pluralidade de opiniões e cor políticas, enraizadas nas universidades. Toda essa diversidade constitui em uma gran riqueza para os estudantes brasileiros e faz com que sua entidade máxima seja uma gran síntese do Brasil. Para que a UNE siga liderando esse processo de resistência, convocam unidade como bandeira da esperanç 

A grande unidade que construímos nas ruas e nas universidades contra a extre direita que possibilitou a eleição de Lula, precisa estar também representada dentro da Un Nacional dos Estudantes. Somente de mãos dadas, resguardando o espaço para as no divergências, mas construindo a UNE com independência e com uma agenda avançada  mobilização por mais orçamento para educação, pela Tarifa Zero, por emprego digno, direitos sociais e justiça climática é que derrotaremos as ideias neofascistas e avançar nas conquistas para o povo brasileiro.

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Last Update: 01/02/2025