O crescimento exponencial da educação à distância (EAD) no Brasil apresenta novos desafios para o movimento estudantil, segundo Luís Felipe, diretor de Ciência e Tecnologia da União Nacional dos Estudantes (UNE). Atualmente, dos 9,9 milhões de estudantes no ensino superior, 4,9 milhões estão na modalidade EAD, praticamente equiparando-se ao total de alunos no modelo presencial, de acordo com o Censo da Educação Superior.
Para Luís Felipe, o avanço do EAD é uma preocupação não apenas pelo crescimento em si, mas pelas consequências na qualidade da formação acadêmica. “Esse aumento representa uma queda na qualidade da formação das pessoas, já que é majoritariamente ofertado por universidades privadas cujo interesse é exclusivamente o lucro. Isso prejudica não só os estudantes, mas também os professores, que recebem apenas pela aula gravada, sem a remuneração adequada pelas exibições”, destaca.
Desafios do movimento estudantil
A expansão do EAD, especialmente no setor privado, cria obstáculos, “como já era a própria catraca na entrada”, para a organização do movimento estudantil. Luís Felipe aponta a hostilidade de algumas instituições privadas em relação à organização estudantil, o que já dificulta a mobilização entre os estudantes presenciais e se torna ainda mais complexo para os alunos da modalidade à distância.
“No EAD, o desafio é maior porque o estudante está distante da sala de aula. Quando ele também trabalha, o acesso se torna ainda mais difícil. A abordagem tradicional de distribuir panfletos e conversar na porta da universidade não funciona para quem está estudando virtualmente. Precisamos encontrar formas criativas de mobilizar e garantir que esses estudantes tenham acesso a um ensino de qualidade”, explica.
Uma das preocupações levantadas pelo diretor da UNE é o que ele considera como “sucateamento da educação”, em que estudantes presenciais também são impactados pela inserção de até 40% de carga horária EAD em seus cursos, apesar de pagarem integralmente por uma formação presencial. “Isso é reflexo de uma priorização do lucro em detrimento da qualidade do ensino”, critica o líder estudantil. “O EaD foi um direito concedido às universidades privadas durante a pandemia, por uma questão óbvia, — a situação das universidades durante a pandemia era bem precária –, só que isso não voltou atrás quando acabou a pandemia”.
Regulamentação e propostas do MEC
Diante desse cenário, o Ministério da Educação (MEC) tem buscado regulamentar a educação semipresencial, modalidade que combina aulas presenciais, remotas e ao vivo. A proposta prevê turmas com até 50 alunos em aulas síncronas, aplicação de provas presenciais a cada 10 semanas e laboratórios equivalentes aos cursos presenciais para formações que exigem atividades práticas. Essas medidas visam melhorar a qualidade do ensino, mas dividem opiniões no setor privado, que responde por 99,3% das vagas EAD.
Enquanto algumas instituições consideram as novas regras um retrocesso que compromete a flexibilidade da modalidade, outras apoiam as mudanças por organizarem um setor marcado por crescimento desordenado. O MEC também suspendeu a criação de novos cursos EAD até 2025 para repensar o marco regulatório da área.
“A briga da UNE é pela regulamentação do ensino superior privado como um todo. Para evitar esse tipo de coisa [a precarização do ensino presencial e à distância], além de outros problemas que existem na rede privada e no ensino superior”, complementou o dirigente estudantil.
Mobilização pela qualidade do ensino
Luís Felipe reafirma a importância de uma mobilização abrangente que inclua estudantes presenciais e a distância. “A EAD é uma realidade, mas precisamos lutar para que a qualidade do ensino seja garantida. Isso exige uma reorganização do movimento estudantil para dialogar com essa nova realidade e pressionar por melhores condições de ensino e trabalho para estudantes e professores”, conclui.