Uma PL da Anistia apelidada de Dosimetria, por Marilza de Melo Foucher

Uma PL da Anistia apelidada de Dosimetria

PITACO DA CABOCLA

por Marilza de Melo Foucher

Como exigir moralidade pública e honra de pessoas ligadas ao crime organizado e ao assalto de cofres públicos? Como esperar de senadores coniventes, ou aliados a essas práticas um comportamento republicano de respeito à Constituição Federal? Como explicar que o Senado não pode diminuir as penas judiciais conferidas aos que atentaram contra o estado de direito e cometeram atos terroristas contra os três poderes da Nação?

Sim, os acusados clamavam pela ditadura, contra a democracia e programaram as mortes do Presidente da República, do Vice-Presidente e do Ministro da Corte Suprema. Os representantes políticos na condição de cúmplices da delinquência institucional minimizaram todos esses crimes cometidos contra a democracia e ainda ignoraram o clamor popular contra a Anistia e contra um Congresso que passou a ser nomeado de “Congresso inimigo do povo”.  Nesse contexto aterrorizante de atentado contra a democracia alguns jornalistas difundiram a notícia de que “Xandão e o governo Lula fizeram um acordão”. O que existe é uma estratégia para enfraquecer a mobilização de ruas e desmoralizar a esquerda. Estão querendo atribuir ao governo o absurdo da votação do Projeto Lei da Dosimetria que reduz as penas do condenado Bolsonaro e demais cúmplices acusados de tentativa de golpe contra a democracia. O projeto de anistia, cujo nome Dosimetria inspirou-se na medição do consumo de uísque, já vinha sendo discutido há mais de um ano. O objetivo era beneficiar os chamados “bandidos do Congresso” envolvidos em vários crimes. Tratava-se de uma proteção (blindagem) programada. O papel do Senador da Bahia Jacques Wagner o contribuiu para uma certa confusão. Caetano Veloso que é seu amigo deveria pedir uma explicação? Vejam o vídeo de Caetano Veloso no Instagram de hoje. O Caetano tem toda razão! Digo ao querido Caetano que eu também quero saber.

A mídia aliada ao Centrão logo espalhou a notícia para culpar o governo de conchaves visando passar outros projetos fundamentais. Sabe-se que para um governo ultraminoritário aprovar qualquer projeto que beneficie o povo é uma maratona. Exige uma intensa negociação para convencer os congressistas e angariar votos. O Lula é um nato negociador de grandes causas.

Acredito que o povo não é mais marionete da Globo. Além do mais, existem jornalistas na Globo News que fazem boas análises políticas e parecem ter adquirido uma certa imparcialidade no tratamento das notícias. Hoje o povo destemido vai novamente para as ruas exigir o veto do Presidente e afirmação da inconstitucionalidade pelo STF. Do contrário, a reputação do Xandão vai para o esgoto da história e é impossível imaginar tal reviravolta do Ministro. Hoje o Ministro do Supremo, graças ao processo histórico de defesa do estado de direito, teve reconhecimento internacional. Emerge dessa situação uma questão digna de resposta: quando um senado pode atribuir penas judiciais? Virou um bordel? A situação dá entender que os conhecidos do público como bandidos e representantes, tanto do Senado como da Câmara, parecem estar com o “rabo preso” em aliança com o crime organizado. Será que gostariam que a polícia parasse as investigações e o Ministro Dino não punisse a farra do dinheiro público? Com a extrema direita voltando ao poder eles poderão roubar a nação impunemente. Infelizmente tem alguns jornalistas da mídia alternativa repetindo o que dizem profissionais da mídia corporativista. Esquecem que o governo é minoria e essa anistia disfarçada já estava sendo trabalhada há mais de um ano por Motta e Alcolumbre. Esquecem também a sede de vingança do Presidente do Senado e da Câmara Federal envolvidos com o crime organizado e orçamento secreto, além de outros delitos.

Como dizia o escritor Stendhal, a indignação é desprazer que nos causa a ideia de sucesso daqueles que consideramos indignos.

Fraternura cabocla daqui de Paris desejando feliz natal e bom final de ano.

Marilza De Melo Foucher – Economista e jornalista. É colaboradora e blogueira do Mediapart em Paris

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: https://www.catarse.me/JORNALGGN

Artigo Anterior

O plano de Fachin para driblar a desconfiança no STF e emplacar um código de conduta para ministros

Próximo Artigo

Eduardo Bolsonaro pode ser candidato em 2026, mesmo vivendo nos EUA?

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!