A maior liderança popular da Bolívia, o ex-presidente Evo Morales, fundador do partido Movimento Al Socialismo (MAS) e que governou o país entre 2006 e 2019, enfrenta mais uma etapa na escalada de perseguição do judiciário boliviano. Morales, de 65 anos, está refugiado na região de cultivo de coca de Chapare, no centro do país, há sete meses.
O processo persecutório que se abate sobre a liderança altiplana indígena segue o mesmo roteiro que vitimou também outras lideranças populares da esquerda latino-americana (Chávez, na Venezuela; Rafael Correa, no Equador; Lula, no Brasil; Daniel Ortega, Nicarágua, Manuel Zelaya, Honduras e outros), processos esses levados adiante nas últimas três décadas, desde quando se iniciou a etapa de agudização da crise de dominação do imperialismo, o que resultou na ascensão de governos populares no continente.
Dessa vez, o assédio da justiça contra o ex-presidente boliviano se traduz na prisão da juíza Lilian Moreno, que no último dia 5 de maio tornou sem efeito uma ordem de prisão contra Evo Morales, acusado – dentre outras calúnias – de tráfico de menor. A magistrada boliviana rejeitou também outras acusações contra o líder indígena, como o congelamento de seus bens e a proibição de deixar o país. A prisão da juíza ocorreu em Santa Cruz de la Sierra, no leste do país, região onde tradicionalmente a direita e extrema-direita boliviana têm grande influência política, se notabilizando pelos ataques fascistas aos movimentos populares de esquerda.
Vale destacar que essa e outras investidas reacionárias do judiciário boliviano contra Morales, desde quando o atual presidente Luis Arce assumiu, não têm qualquer fundamentação legal. Trata-se de um processo de perseguição política destinado a desacreditar e assim anular o representante popular de maior prestígio junto às massas trabalhadoras bolivianas, camponeses pobres, populações indígenas, etc.
Evo Morales liderou a ala esquerda do MAS por 26 anos, e rompeu com o movimento em fevereiro deste ano, após o setor direitista liderado por Arce assumir o controle da sigla partidária. Morales entrou em rota de colisão com o atual governo de Luis Arce, denunciando publicamente a inclinação direitista do atual presidente.
Para se opor a essa tendência liquidacionista e reacionária que move o atual governo, Evo Morales anunciou sua candidatura à presidência da nação nas eleições previstas para agosto próximo, onde concorrerá – se assim a justiça golpista permitir – pelo agrupamento “Frente para a Vitória”.
A perseguição às lideranças populares do continente é parte da ofensiva do imperialismo para reassumir o controle político da região. A utilização da justiça para levar adiante tal operação é a estratégia que os representantes do grande capital adotam em sua guerra contra os interesses das massas populares em cada país.