Uma farsa de solidariedade com o povo sírio

Em nota publicada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) no último dia 15 em seu sítio oficial e intitulada Solidariedade ao povo sírio contra a agressão sionista!, a agremiação afirma convocar uma “solidariedade” com o povo sírio que, no entanto, não é mais que um jogo de cena. Ao reconhecer que a principal ameaça contra a Síria são as “intervenções estrangeiras flagrantes apoiadas pelos Estados Unidos e seus aliados regionais e incentivadas pela agressiva aliança da OTAN”, o PCB identifica o problema corretamente, mas foge à tarefa de oferecer uma resposta política coerente com a gravidade do quadro apresentado.

É difícil não ver como pura demagogia a “exigência para que todas as forças e estados respeitem a soberania, a integridade territorial e a independência da Síria”, acompanhada de um apelo às Nações Unidas para garantir tais princípios. Como se a ONU fosse um órgão capaz para mediar o conflito ou para obrigar “Telavive a implementar o acordo de cessar-fogo de 1974”. Aqui, a nota não apenas ignora o histórico da ONU em dar legitimidade a agressões imperialistas, mas também reforça o mito de que um apelo formal a instâncias controladas pela ditadura mundial pode mudar alguma coisa.

Mais preocupante, porém, é a omissão do PCB em convocar mobilizações reais contra os agentes do imperialismo. O texto que “denuncia” as intervenções estrangeiras e o papel central dos EUA e da OTAN termina se contentando com declarações simbólicas e apelos inócuos. Se fosse sério, o PCB estaria liderando iniciativas concretas para articular bases da esquerda no Brasil e no mundo em atos, campanhas e manifestações contra a ditadura sionista e o imperialismo. Contudo, não é isso que vemos. Finalmente, o partido está pedindo que os criadores de “Israel” ajam contra “Israel”.

Tomemos como exemplo um trecho central da nota:

“Ao mesmo tempo em que afirmamos o direito do povo sírio de resistir à ocupação sionista, pedimos maior solidariedade […] por parte dos partidos comunistas e de todas as forças de esquerda, progresso, democracia e libertação na região e no mundo.”

O pedido de solidariedade é tão vago e abstrato que não se traduz em qualquer proposta de ação concreta. O que seria essa “solidariedade”? O texto não esclarece, deixando a impressão de que basta publicar um manifesto ou, no máximo, organizar um seminário.

Outro ponto que merece destaque é a contradição evidente entre o reconhecimento das “intervenções estrangeiras” como principal problema e a ausência de qualquer medida concreta para combatê-las. Como o PCB pode condenar a OTAN, os EUA e seus aliados regionais e, simultaneamente, restringir-se a pedir que a ONU “obrigue os governantes de Telavive a interromper sua agressão”? Não é sério acreditar que as potências imperialistas, comprometidas com o esfacelamento em marcha da Síria, tomarão tal ação.

Mais importante que tudo isso, no entanto, é o fato de que em toda a nota, o partido ignora o fato de que houve um golpe de Estado pró-imperialista na Síria que colocou no poder um regime aliado ao sionismo e ao imperialismo. Esse é o principal motivo pelo qual “Israel” e demais forças imperialistas podem agredir o território sírio sem absolutamente nenhuma resistência.

Finalmente, o PCB esconde isso e tenta reafirmar o seguinte raciocínio: houve uma mudança de regime na Síria contra o reacionário governo de Bashar al-Assad. Esse novo regime popular ainda está se estabilizando e, enquanto isso, “Israel” aproveita para atacar o país. É preciso, ao lado do novo regime sírio, combater a ocupação sionista para garantir a soberania da Síria. Isso fica absolutamente claro no seguinte trecho:

“Também reafirmamos nosso apoio ao povo sírio em sua luta para estabelecer as bases de um sistema de governança civil pluralista e democrático baseado na cidadania, conquistando a liberdade, a justiça social, a reconstrução do país, o desenvolvimento econômico e a restauração da soberania nacional.”

Trata-se, portanto, de mais um partido na esquerda brasileira que, apesar de se autodenominar “comunista”, fica ao lado de um regime pró-imperialista que impôs uma derrota importante contra o elo mais frágil do Eixo da Resistência.

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