O portal Worker’s Voice (A Voz dos Trabalhadores), ao descrever o que vem ocorrendo em Bangladexe, mostra que aderiu à política do momento do imperialismo: Ditaduras x Democracias. A despeito de o governo genocida de Joe Biden aprovar o que está acontecendo no país, o sítio intitula sua matéria publicada neste 7 de agosto com “Viva os estudantes vitoriosos de Bangladexe! Avançar para a revolução Bengali”.
Esse tipo de título até nos remete ao PSTU que, na Primavera Árabe, saudou o golpe de Estado militar no Egito como se se tratasse de uma revolução popular.
Durante a Primavera Árabe ficou clara a participação de ONGs financiadas pelo imperialismo para influenciar estudantes para iniciar um processo golpista, é quase uma marca registrada, pois esses setores de classe média são suscetíveis à influência por esses organismos que injetam dinheiro nas universidades e cooptam boa parte do estudantado. É assim que ideologias como o wokismo e identitarismo se espalharam pelos meios universitários.
O início da matéria nos mostra o quanto esse grupo repete a ideologia do imperialismo, vejamos: “O regime autocrático de Sheik Hasina caiu! Esta é, sem dúvida, uma vitória para o movimento dos estudantes. A vitória foi alcançada com o martírio de mais de 300 [talvez 500, segundo alguns relatos] estudantes e trabalhadores, que se tornaram vítimas da polícia e da agressão paramilitar”.
Por que a queda de um governo, seja ele qual for, representaria, e sem dúvida, uma vitória para o movimento dos estudantes? O golpe militar no Egito, 2013, trouxe quais benefícios para os estudantes, ou para a classe trabalhadora? O governo Abdel Fattah el-Sisi está assistindo calmamente o massacre de palestinos pelos sionistas e nada faz. Como se não bastasse, prometeu interceptar eventuais ataques do Irã contra o Estado genocida sionista.
Foi em 2013 que ocorreu o Euromaidan, na Ucrânia, abrindo caminho para os nazistas assumirem o poder e colocar o país sob as ordens da OTAN. Também em 2013 houve inúmeros protestos no Brasil que contou com a participação de estudantes, sendo que setores como o MBL estavam sendo coordenados desde fora. Servindo como base para o golpe de 2016, que destruiu os direitos trabalhistas que a classe trabalhadora conquistou em décadas de lutas.
Críticas direitistas
A matéria diz que “Hasina chegou ao poder em 2008, após as eleições daquele ano, ganhando um segundo mandato no final do mandato do governo interino. Ela e seu partido, a Liga Awami, estavam progressivamente entrincheirando sua posição no poder desde então”. O texto, no entanto, não deixa claro qual seria o crime, ou que significa o ‘progressivamente entricheirando sua posição’. Podemos adivinhar o sentido dessa expressão, é o mesmo que usavam contra o PT durante o Mensalão que, supostamente, teria um “Projeto de Poder”; ou que pretendia “se perpetuar no poder”.
A mesma crítica que fazem à Venezuela estão usando contra o governo de Bangladexe: “No momento em que a Liga Awami ganhou um quarto mandato recorde, em uma eleição que foi fortemente manipulada e boicotada por grandes partidos da oposição, seu poder havia se tornado quase absoluto. No papel, Bangladesh era uma democracia parlamentar burguesa regular; na prática, tornou-se uma autocracia de um partido, centrado em torno de um líder, o Sheikh Hasina”. Não sabemos como foram as eleições naquele país, apenas demonstrado como essa é a mesma assinatura do imperialismo.
Como todo grupo pequeno-burgues, o Voz dos Trabalhadores aposta todas as suas fichas democráticas nos processos eleitorais. Além de fazerem uma crítica pueril, muito comum na direita, de acusarem a esquerda de não serem democráticas e obedecerem a um “único líder”.
Análise liberal
A matéria da VT utiliza milhares de caracteres para explicar como as dificuldades econômicas levaram ao descontentamento que teriam culminado na deposição de Sheikh Hasina. O mesmo que vimos aqui no Brasil como desculpa para derrubar Dilma Rousseff.
“A pandemia afetou a indústria têxtil do país”. “A guerra da Rússia contra a Ucrânia, que afetou as importações de petróleo e alimentos de Bangladesh”. “Sheik Hasina, que chamou os estudantes de ‘razakars’”. “A crueldade das forças policiais”.
Segundo o artigo, o governo teria formado uma burocracia que controla o sistema de cotas e criou uma burocracia que controla os melhores empregos. Haveria no país uma corrupção desenfreada etc.
Trazendo a questão para o Brasil, onde setores pequeno-burgueses levantaram questões econômicas e de corrupção contra o governo do PT, o golpe serviu para roubar dos trabalhadores seus direitos mais elementares, aumentando assim os ganhos da burguesia.
O golpe, planejado e orquestrado pelo imperialismo, não trouxe ganhos, mas inúmeras derrotas, como a precarização do trabalho, o fim dos direitos trabalhistas e previdenciários, a instalação de um teto de gastos que visa garantir o pagamento de juros para os banqueiros, a volta da fome.
Militares em ação
A ação do exército foi decisiva. Foi ele quem deu o ultimato para a renúncia de Hasina, e coordenou conversas com todos os partidos e órgão estudantis. Em gesto de extrema boa vontade, o texto diz que “Com a renúncia do xeque Hasina e a dissolução do parlamento, a polícia e os paramilitares aparentemente derreteram da cena”. Quem pode acreditar que os militares, que estavam o tempo todo agindo nos processos, teriam saído de cena como em um passe de mágica?
A imprensa burguesa está festejando o governo interino, e dizendo que Muhammad Yunus, o Nobel de economia controlado pelos EUA, estaria encarregado de restaurar a paz em Bangladexe.
O VT afirma que “Uma importante vitória democrática foi conquistada em Bangladesh com uma vitória contra o governo autocrático Sheik Hasina e as forças da capital indiana. A próxima vitória deve ser conquistada contra o exército, e os reacionários islâmicos, para garantir esta revolução”. Exatamente o discurso do PSTU em 2016 que disse que primeiro tirariam Dilma e, em seguida, tiria “todos” do poder.
Conforme pudemos ver, o PSTU se contentou com o golpe contra o PT e nada fez para retirar “todos” de lugar nenhum. A economia piorou e a corrupção continuou comendo solta.
Essa matéria da VT nada mais é que uma análise burguesa, liberal, da situação de Bangladexe. Não propõe nada e, além de tudo, rebaixa a luta da classe trabalhadora como se o propósito desta fosse instaurar não um mundo sem classes, mas uma “democracia”. Seja lá o que essa palavra signifique.