Neste domingo, 27 de abril, o portal Brasil 247 publicou uma coluna assinada pelo jornalista Moisés Mendes intitulada Débora foi abandonada. O artigo trata da chamada “Débora do batom”, a moça condenada pelo Supremo Tribunal Federal a 14 anos de prisão após escrever na estátua da justiça, em frente à corte: “perdeu, mané”, durante a manifestação de 8 de Janeiro.
Como está claro no título do artigo, Mendes pretende usar a condenação de Débora como um reforço da campanha persecutória lançada contra o bolsonarismo, e que levou à sua criminosa condenação. Assim, Mendes inicia elevando o feito de Débora, algo sem qualquer periculosidade, para então poder apoiar a repressão contra a moça:
“O tamanho da desgraça de Débora Rodrigues dos Santos tem o mesmo tamanho da sua façanha. A cabeleireira produziu, com um batom, o que a esquerda não consegue com outros instrumentos mais convencionais há muito tempo.
Tatuou a estátua da Justiça, diante do Supremo, com duas palavras que valem por um grito de guerra. […]
Mas foi Débora quem perdeu. Se tivesse vencido, seria daquelas figuras que saem do meio da multidão para se transformarem em símbolos dos vitoriosos. Débora do batom perdeu e foi abandonada.”
Mais, Moises Mendes faz um jogo duplo, porque apoia a condenação de Débora, mas busca denunciar a extrema direita por supostamente não apoiá-la:
“Toda a cidade de Paulínia, de onde ela saiu para invadir Brasília, sabe que Débora foi desprezada. O marido já disse que a abandonaram. A extrema direita abandonou toda a família. […]
Nem Bolsonaro, nem os filhos de Bolsonaro, nem Malafaia, nem Nikolas Ferreira – nenhum deles é citado pelo marido de Débora como alguém que tenha alcançado solidariedade e algum conforto à família. Nenhum. Nem Michelle. Débora foi largada pelo fascismo.
Mas Nikolas Ferreira diz, como se falasse em nome de Débora, que ela será vingada com o fim do Supremo que a condenou a 14 anos de cadeia.”
Em primeiro lugar, é preciso tornar claro o oportunismo tacanho de Moisés Mendes. Apesar da demagogia, o jornalista qualifica a participação na manifestação, e a pichação de uma estátua com batom como “invasão de Brasília”, algo completamente fora da realidade. Além disso, a declaração de Nikolas Ferreira é justamente uma declaração que reforça uma campanha política realizada em torno também da condenação de Débora.
“Bolsonaro, Nikolas, Malafaia e toda a extrema direita usam a tragédia pessoal de cada um dos manés condenados para tentar salvar os líderes do golpe que não deu certo.
Débora foi abandonada pelos que prometem acabar com o Supremo, mas são incapazes de ir a Paulínia para saber como ajudar uma família que foi empurrada para um golpe brancaleone.”
Enquanto pratica uma demagogia extremamente rebaixada, Mendes não percebe, ou disfarça, que os bolsonaristas realizam justamente uma campanha política em torno dos condenados, o que é uma política correta não apenas para evitar mais condenações, mas também para combater a ditadura do Judiciário hoje voltada contra Jair Bolsonaro. É a partir dessa campanha que pode ser inocentada a própria Débora. De maneira vil, Mendes aponta que os bolsonaristas deveriam realizar não uma campanha política de denúncias das arbitrariedades cometidas contra os que chama de “manés”, mas meramente uma campanha de apoio material aos condenados, o que não serve para impedir o avanço das ilegalidades de Alexandre de Moraes e do STF, ou a perseguição política desatada contra o bolsonarismo. É lógico, uma coisa não exclui a outra, mas a mais importante, do ponto de vista político, não é a mera “ajuda a famílias”, mas a luta contra a ditadura do Judiciário, e é para encobrir isso que afirma Mendes:
“Não é por Débora que Nikolas, Michelle e Malafaia esbravejam, é pelos líderes da trama. Eles não brigam por uma gente simplória, que acreditou na esculhambação como prévia do golpe e que em muitos casos nem sabia direito o que aquilo significava.”
O jornalista se coloca como o perfeito capacho, um orgulhoso apoiador de ditaduras contra o povo:
“Perderam os manés, os patriotas, os terroristas. Perderam todos os que foram tomados pela ilusão de que seriam mais importantes do que são. Débora perdeu até o salão de beleza e, segundo o marido, que concretou a entrada da sala onde ela trabalhava, perdeu a vontade de trabalhar.”
Para Mendes, os trabalhadores, como Débora, do salão de beleza, devem se recolher a sua insignificância. O colunista reforça que aqueles que se revoltam contra arbitrariedades, contra autoridades constituídas que vêem no esmagamento dos trabalhadores a ordem do dia, se colocam numa rota infrutífera que os levará a perder tudo e ao completo desamparo. É uma colocação contrarrevolucionária e absolutamente reacionária, por um jornalista que festeja o esmagamento do povo pelo Estado burguês:
“O Supremo a condenou a 14 anos de prisão, para que ela perca também a vontade de voltar a participar de golpes. Mesmo que agora com o cumprimento da pena em casa, com tornozeleira.
Débora representa a situação de todos os abandonados pelos que hoje defendem o perdão para os golpistas, mas são incapazes de ir à Paulínia para expressar solidariedade e oferecer ajuda.
Débora não vale mais nada como ex-aliada que pede socorro. É apenas uma figura do marketing do batom na boca do bolsonarismo.”
É evidente, o bolsonarismo não adota os mesmos princípios do movimento operário, mas está claro que, aqui, não são eles os culpados por não prestarem própria solidariedade a todo e cada indivíduo perseguido pelo Judiciário, quando estão todos respondendo a vários processos, todos na mira do STF. O vilão da história aqui é o Supremo Tribunal, que despreza todas as leis do País, e persegue desavergonhadamente os bolsonaristas, buscando esmagá-los. E é a serviço desta corte fascista que se coloca o colunista Moisés Mendes.