No dia 10 de maio, o colunista do sítio Brasil 247 Washington Araújo, publicou um texto intitulado Vale Tudo: o ‘jeitinho brasileiro’ e a corrupção endêmica do Brasil. O texto rasga elogios para a novela da Rede Globo, Vale Tudo, novela do fim da década de 1980 que foi regravada para ir ao ar neste ano. O texto começa da seguinte maneira, surpreendendo por estar publicado em um jornal de esquerda:

A novela Vale Tudo, remake da TV Globo exibido desde 31 de março de 2025, retorna com força à grade televisiva e à alma do país. O folhetim, com sua trama envolvente, atualiza para o presente um tema tão antigo quanto crônico: o ‘jeitinho brasileiro’. Só que desta vez, o que era ironia virou denúncia.

Diferente de uma malandragem simpática, o ‘jeitinho’ em Vale Tudo é tratado como ele realmente é: uma forma institucionalizada de corrupção. Subornar policiais para evitar multas, fraudar atestados médicos, burlar filas, sonegar impostos ou usar influências para obter empréstimos generosos não são atos isolados — são expressões cotidianas de um pacto cultural com a desonestidade.”

Como se não bastasse o péssimo gosto e os elogios à principal representante da burguesia imperialista no Brasil, o texto de Wellington Araújo também é uma ode às práticas da Lava Jato, com direito a citação da posição em que a Transparência Internacional, entidade ligada à Lava Jato e ao golpe de Estado, coloca o Brasil no ranking de corrupção.

Segundo o texto de Wellington, o famigerado “jeitinho brasileiro”, assim como alguns direitos democráticos da população, seriam os males da nação, algo que deveria deixar de existir para que o País fique menos corrupto. É o mesmo programa moralista da época do golpe e que, após ser levado adiante por Moro e companhia, não trouxeram benefício algum ao Brasil e tampouco acabaram com qualquer corrupção.

O chamado “jeitinho brasileiro”, em primeiro lugar, tem a ver com a necessidade da população de ter de se virar em um País regido por uma ditadura que impede a sobrevivência do povo por meios que seriam considerados normais. É um termo muito utilizado também para descrever a criatividade do povo brasileiro – algo difícil de ser percebido se seu repertório cultural for o de novelas da Globo.

Wellington usa a ideia do jeitinho brasileiro para dizer que o sistema judiciário do País deixa os ricos impunes. Não é o “jeitinho”, no entanto, o que controla orienta o aparato judicial do Estado, mas sim o capitalismo. É o sistema de conjunto que protege a burguesia e utilizado o Estado contra os trabalhadores.

Essa ideia também é muito utilizada em campanhas do imperialismo contra o povo brasileiro. Ao descrever a criatividade do povo para se virar, mesmo com uma vida difícil, o imperialismo taxa o País de corrupto e seu povo de bandido. No entanto, se existem países corruptos no mundo, esses são os países imperialistas.

É claro que entidades como a Transparência Internacional não vão apontar nada disso, mas são justamente países desenvolvidos como os EUA, os países europeus e o Japão os países mais corruptos do mundo. Finalmente, são esses os países que controlam o regime político mundial e, inclusive, controlam os regimes políticos dos demais países.

A Lava Jato, por exemplo, foi financiada e organizada pelos EUA, algo de conhecimento público. Essa operação foi utilizada para destruir a indústria nacional e permitir um controle ainda maior do imperialismo sobre o Brasil. Isso é muito maior que qualquer desvio de dinheiro feito por algum picareta pé-de-chinelo.

Sabemos ainda que muitas das “provas” obtidas pela operação eram falsas, com base em delações forjadas por meio de tortura. Ou seja, corrupção real e vinda de fora do País. A matéria de Wellington, apesar de tudo, faz críticas à Lava Jato e à própria Transparência Internacional, mas não pelos motivos acima, limitando-se a tratar esses fenômenos como um desvio de conduta, o que termina sendo uma forma velada de defender o golpismo dessas instituições.

É preciso ficar claro para todos os militantes políticos que uma grande crise contra o governo Lula está se gestando. O intuito da burguesia é reativar o mecanismo utilizado para o golpe contra Dilma, atacando o governo do PT com supostos esquemas de corrupção com ampla cobertura na imprensa – na Globo querida de Araújo, por exemplo -, para minar as chances de Lula vencer as eleições do ano que vem e, em seu lugar, entre alguém do regime, Tarcísio, Eduardo Leite ou Zema, entre outras opções.

O que vimos recentemente com a “bomba” do esquema de fraudes no INSS, por exemplo, é um começo desse processo. E a agitação de Araújo só joga água no moinho do golpismo. A esquerda deve estar pronta para repudiar políticas reacionárias do gênero.

 

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Last Update: 13/05/2025