Soumaya Ghannoushi, escritora britânico-tunisiana e especialista em política do Oriente Médio no Middle East Eye, assina um emocionante artigo de opinião sobre o assassinato recente do jornalista palestino Anas al-Sharif e de seus colegas — um ataque que chocou a comunidade internacional. Leia abaixo (e assista ao vídeo) seu comentário comovente sobre como as mortes de Al-Sharif, Mohammed Qreiqeh, Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e outros representam um golpe brutal contra a liberdade de imprensa em Gaza.

“🇵🇸 Eles o mataram. Enquanto feridos lutavam para sobreviver do lado de fora de um hospital Shifa, na Cidade de Gaza, o exército israelense assassinou o correspondente da Al Jazeera Anas Al Sharif, o correspondente Muhammad Akreyka e os fotógrafos Ibrahim Zaher, Muhammad Noufel e Muhammad Al Khalidi.

Seis em uma única noite. Não foi fogo cruzado, não foi caos. Foi precisão para apagar jornalistas que não paravam de dizer a verdade. Ao matar esses seis, Israel aniquilou toda a equipe da Al Jazeera na Cidade de Gaza.

Addis era um jovem palestino do norte de Gaza. Seu único crime? Recusar-se a desviar o olhar e continuar documentando o genocídio e a destruição de toda vida.

Ele nasceu em 1996. Tinha 4 anos na segunda intifada, 11 quando Israel bloqueou Gaza, 12 na Operação Chumbo Fundido, 18 no ataque de 2014 e 29 quando Israel o matou.

Por 22 meses, entrou em milhões de lares no mundo árabe. Mais que um repórter, era uma testemunha. Conhecíamos sua dor e sua voz. Perdeu o pai, morto por soldados israelenses, e seguiu cobrindo a guerra, longe da mãe, da filha Sham, do bebê Salah e da esposa Bayan.

Trabalhou sob bombardeios e fome, sem se curvar. Chorou ao vivo ao ver uma mulher desmaiar de fome na rua e ouvir: “Continue, Anas, você é a nossa voz.”

Foi celebrado em Gaza pela coragem e resistência. Viu amigos e colegas mortos diante de si, carregou caixões e voltou ao trabalho. Por isso virou alvo. Autoridades israelenses o ameaçaram publicamente.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas alertou em julho que Israel buscava “fabricar consentimento para matar Al Sharif”. Sua localização nunca foi escondida. Ele não tinha arma. Israel não veio prendê-lo, veio matá-lo.

Era preparação. A última fase do genocídio será mais fácil sem jornalistas para testemunhar. Desde o início, Israel impede repórteres estrangeiros de entrar em Gaza e mata jornalistas palestinos — já são 238 mortos.

Horas depois, o exército se gabou da morte de Anas, chamou-o de terrorista e apresentou “provas” convenientes demais. É o truque mais antigo: matar o jornalista e depois matar seu nome.

Alguns na grande imprensa repetiram a mentira, assim como ecoaram que “não há fome em Gaza”. Anas sabia que esse poderia ser seu destino. Meses atrás, escreveu: “Se estas palavras chegarem até você, significa que Israel conseguiu me matar e silenciar minha voz. Peço que nunca se deixem silenciar. Confio a vocês a Palestina e seu povo.”

O objetivo não era só esconder a verdade, mas quebrar o espírito de Gaza. Eles falharão. Há um vídeo em que Anas pergunta à filha se quer sair de Gaza. Ela diz não a cada país citado. “Por que?”, ele pergunta. “Porque eu amo Gaza”, responde.

Carregado nos ombros, como Shireen Abu Akleh foi, Anas virou símbolo. O povo prometeu que surgiriam milhares de outros guardiões da verdade. Nenhuma bala pode matar isso.

Sua morte não foi um fim, mas o apagamento de uma testemunha antes de novos massacres planejados com aval estrangeiro.

O sangue de Anas não mancha apenas Israel. Está nas mãos de cada governo que desviou o olhar, de cada redação que repetiu o roteiro do assassino, de cada líder que apertou a mão que puxou o gatilho.

Não foi apenas o assassinato de um jovem. Foi o silenciamento de uma voz que o mundo precisava — e que o mundo deixou morrer.”

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Last Update: 13/08/2025