Enviado por Felipe A. P. L. Costa.
Um poema por dia.
por F. Ponce de León, do blogue Poesia Contra a Guerra.
Às vésperas de completar 20 anos no ar (em 12/10/2026), o corpo editorial (este que vos escreve) do blogue Poesia Contra a Guerra decidiu iniciar uma campanha comemorativa.
Além de chamar a atenção para o aniversário de duas décadas, um dos propósitos é ampliar a base de leitores – a meta é ambiciosa: passar dos atuais quatro visitantes diários para, quem sabe, oito ou até 10 leitores.
Dito isso, compartilho com o leitor deste Jornal GGN a novidade que postei hoje (27/5) lá no blogue: o poema ‘Horas ígneas’, de Pedro Kilkerry [1].
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Horas ígneas.
Por Pedro Kilkerry.
I.
Eu sorvo o haxixe do estio…
E evolve um cheiro, bestial,
Ao solo quente, como o cio
De um chacal.
Distensas, rebrilham sobre
Um verdor, flamâncias de asa…
Circula um vapor de cobre
Os montes – de cinza e brasa.
Sombras de voz hei no ouvido
– De amores ruivos, protervos –
E anda no céu, sacudido,
Um pó vibrante de nervos.
O mar faz medo… que espanca
A redondez sensual
Da praia, como uma anca
De animal.
II.
O Sol, de bárbaro, estangue,
Olho, em volúpia de cisma,
Por uma cor só do prisma,
Veleiras, as naus – de sangue…
III.
Tão longe levadas, pelas
Mãos de fluido ou braços de ar!
Cinge uma flora solar
– Grandes Rainhas – as velas.
Onda por onda ébria, erguida,
As ondas – povo do mar –
Tremem, nest’hora a sangrar,
Morrem – desejos da Vida!
IV.
Nem ondas de sangue… e sangue
Nem de uma nau – Morre a cisma.
Doiram-me as faces do prisma
Mulheres – flores – num mangue…
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NOTA.
[1] Pedro [Militão] Kilkerry (1885-1917). O poema acima apareceu em livro póstumo publicado em 1971. Para uma análise deste e de alguns outros poemas de Kilkerry, ver Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira (Ibep, 2008), organizado por Francine Ricieri.* * *