Conferência Estadual das Favelas reúne, no Rio de Janeiro, 400 pessoas em debates do G20 Favelas na trilha do G20 Social. Outros 20 eventos do gênero ocorreram em todo o país
A Conferência Estadual das Favelas do Rio de Janeiro, realizada no sábado, 24 de agosto, integra a trilha do G20 Social e é uma iniciativa do G20 Favelas liderada pela Central Única das Favelas (Cufa) junto à Frente Nacional Antirracista e à Frente Parlamentar das Favelas, com chancela da Unesco Brasil. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e coordenador do G20 Social, Márcio Macêdo, participou da atividade, que ocorreu junto a outras 20 conferências simultâneas em 19 estados e no Distrito Federal.
Os encontros colocaram a favela no centro do debate global. “Quero falar aqui que Cidinho e Doca (funkeiros do Rio de Janeiro) mostraram para o Brasil no seu rap, o que é favela, o sentimento de cada pessoa que vive ali. Eles disseram: ‘eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci. E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar’.
No governo do presidente Lula, e no G20 Social, o pobre tem o seu lugar para viver com dignidade. Então, venham conosco construir este momento. As favelas que essas elites escravocratas brasileiras sempre trataram como um problema, na verdade, foram uma solução. A solução que o povo mais humilde, mais pobre, mais necessitado encontrou para resolver um problema de déficit habitacional, provocada pelas políticas impostas por essas mesmas elites”, afirmou o ministro.
O G20 Favelas conseguiu mobilizar desde abril mais de três mil pessoas no Brasil e em 41 países em torno da construção dessa pauta que será validada, em outubro, com a realização do Fórum Mundial da Favela e da Conferência Nacional de Favelas, quando serão votadas as pautas estaduais e internacionais para que sejam consolidadas as agendas nacional e internacional do G20 Favelas.
“Vocês estão debatendo e vão chegar a um documento que precisa ser encaminhado à Cúpula do G20 Social que vai acontecer entre 14 e 16 de novembro. Lá serão debatidas e sistematizadas propostas da sociedade civil do Brasil e do mundo. Não vamos trabalhar com divergências, apenas com consensos. Apenas com o que nos une, não com o que nos separa. O documento a ser entregue à presidência brasileira trará os consensos da sociedade civil”, observou o ministro Márcio Macêdo.
Soluções Inovadoras
Nesse sentido, as comunidades mostram que sabem o que querem, que sabem o que fazer e como fazer para articular, debater e propor soluções inovadoras e estratégicas em torno de uma nova agenda global mais inclusiva, sustentável, justa e humanitária, a partir do G20. Mostram como a agenda do comum, construída a partir da visão das comunidades e de pessoas que vivem na pele os problemas estruturais vividos coletivamente, pode ser enfrentada a partir de novas parcerias e pactos globais, tecnologias sociais e modelos de negócio inovadores que reposicionam o social na agenda geopolítica e financeira.
O ministro explicou como funcionará o território da Cúpula Social do G20. As discussões vão envolver reuniões técnicas temáticas; comunicados dos grupos de engajamento; relatórios do encontro preparatório da Cúpula; propostas; e consulta pública realizadas a partir da ferramenta digital do G20 Social Participativo, dentre várias outras ações e canais inovadores e inclusivos implementados pela presidência brasileira na trilha do G20 Social.
“Estamos prevendo para a Cúpula a participação de 50 mil pessoas, sendo cinco mil apenas nos debates. Eu queria fazer um convite, se vocês toparem, para fazermos lá a trilha das favelas. Levar o que essa juventude está produzindo nas favelas. Tem gente fazendo rádio, tem gente fazendo publicidade. Tem gente fazendo startup. Tem gente fazendo costura. Tem gente organizando cursinho pré-vestibular para quem não tem condições. Tem gente fazendo arte, cultura. Tem um trabalho extraordinário que precisa ser mostrado. Vamos mostrar ao mundo a cara do Brasil, a cara da sociedade brasileira, das favelas brasileiras”, propôs Macêdo aos mais de 400 moradores de favelas reunidos na Conferência, no Viaduto de Madureira.
Vanessa Santos, manicure. | Ascom/SGPR
G20 Social e a voz das favelas
Vanessa Santos, manicure em Irajá, no Rio, por exemplo, remarcou as clientes pra poder participar do G20 favelas onde foi chamada para sobre as demandas da comunidade. Mas, antes disso, pesquisou o significado da palavra demanda. E descobriu que pode ser uma solicitação ou uma exigência.
“Estamos fazendo uma solicitação, se não nos ouvirem, vamos exigir”, disse. Na abertura da conferência, ela falou sobre a importância de envolver as pessoas das favelas nos debates mundiais. “Sou mãe de cinco filhos, fui presa porque queria sustentar meus filhos, cumpri minha pena, aprendi com meus erros e a vida me deu a oportunidade de refazer minha missão de forma correta, decidi mudar. Venci a fome. Venci um câncer. Falo de um lugar de quem conhece a dor, de quem conhece os problemas e, também, os caminhos de solução. Só pode falar com propriedade da fome quem já sentiu”, contou Vanessa.
Ela apresentou algumas das principais demandas discutidas pelas comunidades das favelas para a agenda do G20, que tratam de propostas que envolvem desde o acesso a universidades públicas e geração de emprego até o fortalecimento e qualificação de políticas públicas existentes com foco no atendimento a territórios e comunidades menos assistidas.
“Em vez de fazer coisas novas, não era melhor pegar o que não está funcionando e reformular para fazer funcionar, atacando as dificuldades enfrentadas no SUS e no Sistema Regulação (Sisreg), por exemplo? A gente não está inventando, a gente está pedindo, porque o presidente Lula quer nos ouvir. Os holofotes estão voltados para nós. Não tem mais fuzis apontados para nós. Eu sei o que é ter um fuzil apontado para alguém e eu ter que dizer: “não atira não, é morador”. Vamos lutar com unhas e dentes por aqueles que não têm voz, por aqueles que não conseguem falar”, defendeu Vanessa.
Capítulo da História
O ministro Márcio Macêdo ressaltou que não se pode perder a oportunidade que o Brasil tem neste momento. “Assim como vocês criaram a Cufa e não tinham noção exata do que isso representaria, vocês estavam escrevendo um capítulo importante da história de nosso país, da organização social de nosso país. Agora estamos escrevendo outro capítulo importante, que é botar no documento para o Brasil e para as 20 economias mais potentes e importantes do mundo as impressões digitais das comunidades da favela e do mundo no documento final da Cúpula”, disse Macêdo. O ministro também anunciou que o G20 Favelas passa a integrar o Comitê Organizador do G20 Social e que, no dia 14 de novembro, dentro da programação da Cúpula Social do G20, a organização do G20 Favelas realizará o Encontro Mundial das Favelas.
Publicado originalmente pela Agência Gov em 25/08/2024 – 08h30