Na noite de 7 de dezembro, o governo nacionalista de Bashar al-Assad foi derrubado por um golpe de Estado orquestrado pelo imperialismo na Síria. O movimento de mercenários HTS, uma nova nomeação da Al-Qaeda, orquestrou uma ofensiva militar que se unificou com um setor do governo que havia sido cooptado pelo imperialismo, assim foi dado o golpe. O regime nacionalista que havia surgido com o pai de Assad em 1971, que havia passado por 13 anos de ofensiva brutal do imperialismo, caiu. Após uma semana o quadro já é de catástrofe.

A capital Damasco e grande parte do país foram tomadas pelos mercenários da Al-Qaeda. O Estado de “Israel” começou sua maior campanha de bombardeios da Síria destruindo a infraestrutura militar em todo o país. Ao norte os turcos iniciaram um avanço contra as forças curdas, aliadas dos EUA, e agora a região controlada por esse setor (Forças Democráticas Sírias, FDS), corre risco de ser lançada em uma nova guerra civil. “Israel” por sua vez invadiu um território sírio por meio das colinas de Golã. Diante de tantas forças estrangeiras atuando e um governo central ainda mais fraco, o futuro da Síria é totalmente incerto.

Na sexta-feira (13) ataques israelenses destruíram um instituto científico e outras instalações militares relacionadas em Barzeh, no norte de Damasco, e atingiram um “aeroporto militar” na zona rural da capital na madrugada de sábado (14). Os ataques também tiveram como alvos armazéns de mísseis balísticos Scud e lançadores na área montanhosa de Qalamoun, além de foguetes, depósitos e túneis sob a montanha. Ataques aéreos israelenses atingiram uma base de mísseis no topo do Monte Qasyun, em Damasco além de um aeroporto na província de Sueida e “laboratórios de defesa e pesquisa em Masyaf, na província de Hama.

Mesmo com tamanha agressão sionista, que invade e bombardeia o território o novo governante anunciou que não planeja assumir uma postura de guerra contra “Israel”. Al-Jolani, o líder da Al-Qaeda, afirmou que “não estamos buscando entrar em conflito com ‘Israel’ e não podemos suportar tal batalha”. É uma declaração totalmente absurda vindo de um país que está sob tamanho ataque, que revela que o novo governo está totalmente subordinado ao sionismo.

Na mesma declaração que Jolani afirmou que não enfrentaria “Israel” ele disse que “estamos nos comunicando com embaixadas ocidentais e mantendo discussões com a Grã-Bretanha para restaurar sua representação em Damasco”. Mais um indício de que o governo será totalmente subordinado ao imperialismo.

A Turquia, por sua vez, já reabriu oficialmente sua embaixada na capital síria, Damasco, após mais de uma década de fechamento. A embaixada retomou suas operações neste sábado (14) com Burhan Koroglu, embaixador da Turquia na Mauritânia, como encarregado interino. Os turcos foram cruciais no golpe pois têm relação direta com o HTS/Al-Qaeda, mas não se pode confundir quem é o agente principal por detrás do golpe: o imperialismo.

O secretário de Estado dos EUA, em viagem ao Oriente Médio, também revelou como avança as relações do novo governo da Síria com os norte-americanos. Blinken revelou que autoridades norte-americanas estabeleceram um diálogo direto com o grupo HTS, mesmo que a organização seja classificada como terrorista pela própria secretaria que Blinken representa.

Mas a pior medida realizada pelo novo governo até o momento é o ataque direto as organizações da resistência. O jornal Al-Akhbar relatou que o governo informou aos representantes das organizações palestinas na Síria que não poderão mais possuir armas, campos de treinamento ou quartéis militares. Elas também devem dissolver suas formações militares o mais rápido possível, em troca de atividades políticas e caritativas sob o controle do Estado

Organizações palestinas, incluindo o Fatá, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Popular para a Libertação da Palestina-Comando Geral (FPLP-CG), os Saiqa e a Jiade Islâmica Palestina, atuam no país há décadas com a permissão do antigo governo de Assad.

A primeira semana do governo da Al-Qaeda portanto já demonstra que o imperialismo tomou de assalto o país. As potências imperialistas voltam para Damasco, a resistência se desarma, os iranianos já deixaram o país e a situação dos russos é incerta, mas nesse passo devem desmontar suas bases militares no mediterrâneo.

Para onde vai o Curdistão?

Antes da queda de Assad um dos grandes trunfos do imperialismo na Síria era que um terço do país era dominado pelas Forças Democráticas da Síria, uma milícia de curdos dominada pelos EUA. Eles controlam a região com petróleo e trigo, ou seja, causavam um impacto economico gigantesco, foram uma das ferramentas usadas para derrubar Assad. Agora sua existência não é mais necessária e isso deixa o futuro das FDS e dos curdos incerto.

E exército da Turquia e seu aliado o Exército Nacional Sírio (um grupo de mercenários pagos pela Turquia) iniciou uma ofensiva militar contra os curdos. Já a Al-Qaeda tomou uma de suas principais cidades, Deir Ezzor. Em Raca, a mais importante das cidades, já houve troca de tiros e repressão. A situação é explosiva e pode ser que a Turquia finalmente invada o curdistão da Síria para esmagar os curdos.

Em 13 de dezembro, o ministro das Relações Exteriores da Turquia declarou que o objetivo de seu país era eliminar as Unidades de Proteção Popular (UPP), força que constitui a espinha dorsal das FDS. Poucas horas após uma reunião com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, afirmou isso em uma transmissão ao vivo na televisão.

Segundo fontes do jornal Al-Akhbar, os curdos receberam “garantias dos norte-americanos de que suas áreas não sofreram ataques que ameacem sua existência”. E o “que mais preocupa os curdos é não saber a direção do governo do presidente Donald Trump, conhecido por suas boas relações com a Turquia e seu presidente”. Mas a palavra dos EUA não tem valor nenhum e além disso na atual situação de crise é possível que tanto Al-Qaeda quanto Turquia passem por cima das FDS. O pior quadro possível seria um grande massacre da população curda, algo que já aconteceu diversas vezes com minorias que foram usadas pelo imperialismo contra governos nacionalistas.

Os curdos estão tão preocupados que chegaram a chamar “Israel”, que está do outro lado do país, para auxiliar. Um comandante das FDS afirmou “vocês [‘Israel’] controlam os céus; não hesitaram em tomar a grande montanha (Monte Hermon sírio). Todos têm medo de vocês, inclusive Abu Mohamed al-Julani (o líder do grupo que assumiu o controle na Síria). A Turquia está contra vocês, e nós estamos ao seu lado. Vocês precisam nos ajudar, por seu próprio interesse”. A fonte da declaração é um jornal israelense, o que tira a credibilidade, mas fato é que a situação dos curdos é desesperadora.

O povo da Síria teme o pior

Diante de uma possibilidade de guerra em diversas frentes e um governo da Al-Qaeda, conhecido por oprimir violentamente todos que não são sunitas muitos sírios estão fugindo do país. Dezenas de milhares de sírios de vários grupos minoritários fugiram de suas aldeias e se dirigiram para a fronteira libanesa. Cerca de 90.000 cidadãos sírios entraram no Líbano desde o colapso do governo Assad.

“A maioria deles são de minorias que residiam em áreas controladas pelo regime, como os arredores do santuário Saida Zainab e o interior de Homs e Hama, até a fronteira libanesa, e decidiram sair. Alguns falaram sobre ter sido ameaçados, enquanto outros negaram isso, mas todos têm grandes preocupações”, disseram as fontes de segurança do governo libanês.

Os relatos são de crescentes atos violentos contra cristãos e contra xiitas, as mulheres estão sendo perguntadas sobre sua religião para que sejam obrigadas a usar o véu, algo inédito na Síria. O quadro ainda deve piorar muito pois o governo assumiu tentando fazer uma propaganda de democracia, no entanto, a sua ideologia é a mesma do Estado Islâmico e ela deve se impor conforme a situação se estabilizar no país.

A situação portanto é de catástrofe. É possível até mesmo que o país se desintegre completamente. Apenas a resistência pode libertar a Síria do golpe imperialista, assim como derrotou os EUA e o Estado Islâmico no Iraque.

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Last Update: 15/12/2024