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Um novo impulso para o desenvolvimento
por Luís Silva
A melhor contribuição que a universidade pode dar à sociedade e ao desenvolvimento do Brasil como um País soberano é a formação de pessoas altamente capacitadas, produtivas e engajadas ativamente na criação de caminhos transformadores. Tudo o que possa ser acrescentado a essa missão não pode sê-lo em seu detrimento.
A pesquisa produz conhecimento e capacita pessoas, pessoas capazes de fazerem perguntas relevantes muito mais do que se preocuparem em dar respostas para perguntas ensimesmadas no universo científico, muitas vezes exótico. Embora a pesquisa brasileira produza uma fração modesta da ciência mundial (medida em publicações relevantes), ela produz pessoas preparadas para lidar com a ciência que o mundo produz. Por esse critério, essa ciência é um extraordinário sucesso.
O sucesso da ciência brasileira na formação de pessoas contrasta com aquilo que se costuma considerar o alheamento duradouro que existe entre essa ciência e o mundo da produção e dos serviços, incluindo muitos serviços públicos e associativos. A pergunta mais frequente é como se leva esse conhecimento da universidade e das instituições de pesquisa para “fora” dos seus muros. Mas essa não é a pergunta certa, ou não é a melhor pergunta.
Não se pode simplesmente “levar” conhecimento, por pelo menos uma razão muito importante: o conhecimento científico raramente está preparado para uma aplicação imediata aos problemas do mundo em “estado bruto”, que é a forma como os problemas existem fora do laboratório. E a tentativa de fazer esse percurso linear gera mais frustrações de parte a parte do que soluções viáveis e pessoas engajadas no esforço de conhecer os problemas e buscar soluções.
A distância entre o conhecimento científico e o mundo real não é tanto de alheamento, embora ele exista; ela é mais de adequação. Por isso, antes que as universidades e as demais instituições de pesquisa possam contribuir direta e produtivamente para “o mundo lá fora”, é necessário trazer para dentro dessas instituições produtoras de conhecimentos – e de pessoas – os problemas do mundo real, em seu “estado bruto”, que é de fato como eles existem. É só assim que poderão alcançar um amadurecimento e que sejam viabilizadas soluções adaptadas, adequadas, viáveis, por meio de pessoas que filtram e traduzem os problemas brutos para o conhecimento específico e com isso encurtam as distâncias, incluindo as cognitivas. É fundamental que a aproximação crie uma linguagem de comunicação, é ela que aproxima as pessoas e esses dois universos que falam Português mas não falam a mesma língua. A “sinapse” entre o mundo da produção e dos serviços e o da produção de conhecimentos (e pessoas) requer neurônios, ou células de comunicação, com um perfil adequado, que possam promover trocas. Isso requer tempo e esforço.
O elemento fulcral desta necessária aproximação entre a universidade e o mundo lá fora é o estágio. É por meio dele que se alcançam resultados mais promissores na missão essencial – formar pessoas – e nas missões conexas e que não têm tido a mesma importância – a extensão, no caso. O estágio não pode ser meramente um mergulho na chamada prática. O estágio é uma ponte para o diálogo entre a universidade e o mundo e do mundo com a universidade. Terá atividades práticas, mas terá também atividades de reflexão.
O caminho da colaboração tem dois sentidos: não apenas se leva conhecimento da universidade para o mundo “lá fora”, também se leva conhecimento de problemas do mundo para a universidade. Porque o conhecimento de natureza científica também é carente de outros conhecimentos.
É pelo estágio que agendas de pesquisa relevantes podem ser enriquecidas e atualizadas numa escala que possa ampliar de fato a importância da universidade e dos seus imensos recursos humanos e de conhecimento perante a sociedade. É por meio do estágio que se formam pessoas com vivência enquanto ainda estão em sua etapa de formação básica (graduação), e portanto possuem os elementos objetivos (tempo, agenda de trabalho, missão) e subjetivos (espírito engajado, motivação) para uma reflexão aberta e com um duplo compromisso, com os dois polos de uma relação que se quer enriquecida.
Quando um estágio desta natureza funciona a contento, o canal de comunicação assim aberto tem mais oportunidades de se desenvolver e enriquecer do que a partir de pretensões de levar (o conhecimento superior) ao mundo lá fora (carente desse conhecimento). Aprendido o caminho, no futuro, tanto as pessoas formadas (e com conhecimento de um caminho já trilhado) quanto as instituições e empresas envolvidas poderão repeti-lo, para si próprias ou para congêneres.
Um programa de estágios assim concebido alcança resultados para a extensão ao mesmo tempo em que reforça a missão essencial e mais nobre da universidade, que é formar pessoas. Porque o estágio não deve e não poderia ser em detrimento da formação, mas em prol dela. Para isso, a universidade não pode deixar que o estágio seja uma atividade entregue às forças aleatórias da informação parcial, dos canais já construídos (e que se reforçam), ou das conveniências pessoais. A universidade precisa tornar essa atividade um programa estruturado, consistente, supervisionado e articulado com o ensino, a pesquisa, dando vigor e amplitude à extensão. E as empresas precisam, do seu lado, modificar a perspectiva que têm para com essas pessoas jovens, talentosas, e cada vez mais bem formadas.
Luis Silva, economista, especialista em temas ligados à indústria e às políticas para o desenvolvimento. Casado, 62 anos, tem 3 filhos.
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