Baila, Vini!, que estreou na Netflix na quinta-feira 15, é um projeto ambicioso. Embora, em termos de linguagem, o documentário siga um padrão comum para o gênero – alinhavando entrevistas, muitas imagens de arquivo e registros de momentos íntimos –, em termos de conteúdo trata-se de uma empreitada admirável.

No material distribuído à imprensa, a Netflix recorre a alguns números para tentar dimensionar a produção: foram 107 diárias, 58 entrevistados, seis meses de pré-montagem e outros seis de montagem.

Dirigido por Andrucha Waddington, diretor da ficção Vitória (2025), que fez mais de 700 mil espectadores nos cinemas este ano, e produzido pela Conspiração, uma das produtoras de Ainda Estou Aqui (2024), o documentário espelha, de um lado, a experiência da equipe nele envolvida e, de outro, o poder que a Netflix tem de abrir portas.

A produção teve acesso não só a alguns dos maiores nomes do futebol mundial – como Carlo Ancelotti, Neymar e todas as estrelas do Real Madrid – como à rotina no Estádio Santiago Bernabéu e a grandes partidas da Champions League.

Mas nada disso seria o bastante não fosse a capacidade de Waddington e dos montadores de alinhavar o material de forma a construir uma narrativa, sobretudo, íntima do garoto que nasceu muito pobre, numa comunidade do Rio de Janeiro, e, aos 18 anos, foi comprado pelo Real Madrid por 45 milhões de euros.

O personagem que emerge das falas dos companheiros de ofício, dos amigos, da família e dele mesmo se encaixa à perfeição na narrativa baseada nos princípios da “jornada do herói”.

As provações pelas pelas quais Vini passou não foram poucas. Logo no início do filme, vemos, a partir de um ponto de vista diverso daquele dos comentaristas esportivos, o que significou chegar, de repente, à Espanha; não entrar em campo; e, aos 20 anos, ouvir comentários impiedosos. “As pessoas pensam que você está preparado para receber tantas críticas”, diz, evidenciando que não, ele não estava preparado para isso.

Vini Jr. pode ser uma empresa, e pode ser milionário, mas a vida de estrela do esporte não o impede de sentir dores profundas, como a que o mundo acompanhou durante o jogo no qual recebeu insultos racistas, sendo chamado de mono – macaco, em espanhol.

A carreira meteórica, o gosto pela dança – que originou a hashtag #bailavini – e o talento lapidado por muito sacrifício são alguns dos elementos explorados por esse filme assumidamente louvatório, mas, ao mesmo tempo, revelador das engranagens e dos sentimentos envolvidos no futebol. •

Publicado na edição n° 1362 de CartaCapital, em 21 de maio de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Um filme para Vinícius’

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Last Update: 15/05/2025