Um médico e empresário do interior de São Paulo, Ricardo Stoppe Júnior, está no centro de uma investigação que revela um esquema bilionário de grilagem de terras na Amazônia. Segundo apuração, Ricardo, que ganhou o apelido de “rei do carbono”, se tornou proprietário de mais de 500 mil hectares de terras públicas, o equivalente ao tamanho do Distrito Federal, utilizando documentos fraudulentos.
A investigação da Polícia Federal aponta que ele, apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, faturou R$ 800 milhões, sendo R$ 180 milhões com projetos de créditos de carbono e R$ 600 milhões com a extração ilegal de madeira. Em 2022, seu filho, que também é investigado, doou R$ 5 mil para a campanha bolsonarista.
A PF afirma que o esquema envolvia a falsificação de documentos antigos, incluindo livros de registros de imóveis rurais com quase 100 anos. “Houve fraude. Uma mesma pessoa forjou essas duas folhas e inseriu de forma fraudulenta nos livros”, afirmou o perito criminal João Pedro Alves Batista.
O esquema também envolvia o pagamento de propinas a funcionários de cartórios e do Incra para validar os documentos falsificados, dando a aparência de legalidade às transações. Existem suspeitas de que, durante o governo de Bolsonaro, sua organização encontrou facilidade pelo desmonte das estruturas que deveriam combater os crimes ambientais em projeto do então ministro Ricardo Salles.
Áudios obtidos pela investigação revelam as negociações realizadas por telefone. Em uma das gravações, um interlocutor afirma: “Doutor, é o seguinte, eu tinha dado lá aqueles cem que o senhor mandou. Ele quer mais cem mil pra entregar o documento”.
A polícia nega que Ricardo seja dono legítimo de qualquer pedaço de terra na Amazônia. “São todas terras da União. É uma grilagem que começou em torno de 2004”, destacou o agente da Polícia Federal, Wilker Goular.
Ricardo Stoppe foi preso em junho deste ano, mas as investigações e operações de busca e apreensão contra ele e seus sócios continuam. Parte das terras envolvidas no esquema foi transformada na Floresta Nacional do Iquiri em 2008, mas Ricardo ainda tentou reivindicar uma indenização de R$ 100 milhões, alegando ser o proprietário legítimo da área. A Justiça, no entanto, suspendeu o processo.
A PF identificou pelo menos 50 integrantes da organização criminosa liderada por Ricardo e seus sócios. Eles serão indiciados por desmatamento, corrupção de servidores públicos, lavagem de dinheiro e organização criminosa. “A gente já pediu bloqueio e bloqueamos todas as matrículas fraudadas dessa organização criminosa e vamos pedir a restituição desse patrimônio para a União”, declarou o delegado responsável pelo caso.