Um diálogo com Nildo Ouriques

João Silva, do PSOL, afirma que o PCO não é um partido “radical”, o que quer que isso signifique, em função da nossa posição em relação ao governo Lula. Segundo ele, estamos voltados para “corrigir” o governo Lula. Em primeiro lugar, não queremos “corrigir” o governo Lula, o que fazemos é endereçar as nossas críticas ao governo Lula como uma pressão sobre ele. Como fazemos isso? Buscando mobilizar as massas nesse sentido, apesar de todas as dificuldades. Assim, nossa política não é dependente da ação do governo, mas da ação das massas. Para exemplificar, se exigimos o não pagamento da dívida pública, não fazemos um lobby junto ao governo, mas fazemos campanha geral por esta reivindicação junto ao povo. Se o povo se mobiliza, haverá naturalmente uma pressão sobre o governo, que poderá se deslocar à esquerda em uma medida maior.

João Silva fala em “romper com o governo”. Outra formulação imprecisa. O que esta ruptura acarreta? Não fica claro. O que, no entanto, podemos dizer com segurança, é que não favorecemos a palavra de ordem de “fora Lula”. Uma tal palavra de ordem implica em uma alternativa concreta e imediata. A alternativa concreta e imediata ao governo Lula é a direita bolsonarista. Se acrescentarmos, o que seria obrigatório, a esta reivindicação a luta por eleições gerais, a coisa toda fica absolutamente clara: estaríamos acelerando a vitória do bolsonarismo.

Nossa política não é uma invenção nossa, é a tática tradicional do marxismo, utilizada na revolução Russa. Ali, Vladimir Lenin e Leon Trótski nunca propuseram “fora Kerenski”, o qual era um governo de esquerda muito pior do que o de Lula, mas que o governo rompesse com a burguesia, acabasse com a guerra e fizesse a reforma agrária etc. Esta política, diante da completa incapacidade do governo Kerenski de modificar seu rumo, levou à tomada do poder pelos bolcheviques.

Não estamos em uma revolução, mas a política deve ser a mesma, somente que encarada como um processo mais lento.

O debate que João Silva levanta não é inoportuno, uma vez que a maior parte da esquerda não sabe o que fazer com o governo Lula, surgindo sempre as tendências extremas de defender tudo o que o governo faz, inclusive suas capitulações diante da pressão da burguesia, o que é uma tendência reacionária, e rejeitar completamente o governo, o que é uma tendência aventureira. No entanto, o próprio João Silva não resolve o problema, ao não apresentar uma política concreta.

Nós, ao contrário, temos uma política concreta e estamos aplicando esta política.

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