O colunista de Brasil 247, Ivan Guimarães, publicou um artigo intitulado Democracia aqui e lá (2/8/2024), defendendo que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, “tornou-se um caricato ditador latino-americano”. O motivo para a afirmação: “o governo dos EUA”, que segundo Guimarães, “comunicou que, tomando como base as informações disponíveis, não há como Nicolás Maduro ter ganho as eleições Venezuelanas”. O vitorioso foi Edmundo Gonzáles Urrutia”, sentencia por fim, exibindo um comportamento digno dos piores capachos entreguistas da direita.

O capachismo de Guimarães é reforçado pelo parágrafo seguinte, onde defende a ingerência do Departamento de Estado do governo norte-americano em assuntos internos da Venezuela, dizendo que “a posição dos EUA parece antecipar a do México, Colômbia e Brasil, que exigiam os mapas de urna para aceitarem os resultados”, ao que vaticina: “não receberão”, acrescentando que “aparentemente os EUA tem o seu próprio calendário, que certamente prioriza o processo eleitoral”, conclui.

Para que a esquerda brasileira tenha dimensão do sabujismo dos posicionamentos adotados por Guimarães, até mesmo o odiado fascista Jair Bolsonaro e notório sabujo, protagonista de uma cena grotesca em que prestava continência à bandeira norte-americana, quando pressionado pelo governo do ex-presidente Donald Trump (com quem tem um alinhamento político) a apoiar a invasão norte-americana contra a Venezuela, deu um golpe tipicamente brasileiro: mandou umas caminhonetes supostamente carregadas com ajuda humanitária. E foi só.

Em outra crise, onde a pressão foi muito mais severa e partiu do atual governo norte-americano (do ainda presidente Joe Biden), que se esforçou para dobrar o Brasil e fazer o país adotar a política do imperialismo de condenar a Rússia, Bolsonaro também não o fez. Não é que líder da extrema direita brasileira seja nacionalista, o que sabidamente não é. É Guimarães que conseguiu a proeza de estar à direita de Jair Messias Bolsonaro, na política externa e, pasme, até no servilismo.

Os EUA não têm autoridade alguma para determinar o vencedor do processo eleitoral de nenhum país no mundo, fora os Estados Unidos. Tampouco têm “EUA, México, Colômbia e Brasil” o direito de “exigir” qualquer coisa relativa às eleições de outros países que não sejam os próprios. Os EUA o fazem amparado apenas pelo direito do mais forte, mas sem nenhuma base no direito internacional, que levado a sério, pauta-se pelo respeito à autodeterminação dos povos.

Princípio consagrado pelo progresso da humanidade, o direito dos povos de um determinado país conduzirem sua política livre da interferência das forças estrangeiras é resultado da evolução da consciência, sobretudo após as atrocidades produzidas pelo colonialismo e o imperialismo contra os povos atrasados. Ao conceder aos EUA o papel de xerife da América Latina, é a esse passado de opressão e barbárie que Guimarães se presta a defender.

Embora grotesca, a posição defendida pelo articulista de Brasil 247 reflete o que pensa um setor da esquerda pequeno-burguesa e deve ser combatida com a máxima energia pela esquerda, pelos perigos enormes que dela se derivam. Se os EUA têm autoridade para interferir nos assuntos internos da Venezuela, também têm para fazerem-no em relação ao Brasil. E isso, a esquerda nacional não deve aceitar sob hipótese alguma.

O imperialismo norte-americano em particular se intromete nos assuntos brasileiros, pelo menos desde os anos 1940. A sequência de golpes contra a esquerda e contra o nacionalismo brasileiro durante todo esse período são uma demonstração eloquente de que isso os EUA nunca quiseram nada de minimamente positivo para o País e as massas oprimidas da nação, assim como para o resto do mundo.

Comandado por Biden (então vice-presidente e “eminência parda” por trás do presidente Barack Obama) e Hillary Clinton, os mesmos organizadores de toda a conspiração golpista. Eis os homens e mulheres em quem Guimarães confia para determinar os rumos da Venezuela, do Brasil e do resto do mundo. Com uma esquerda assim, quem precisa de direitistas?

É inadmissível que o campo responsável por expressar politicamente a luta dos oprimidos e que conheça a história recente do País, marcada pela Ditadura Militar (1964-1985) praticamente criada pelos EUA, a tenha elementos capazes de jogar a soberania nacional na lata do lixo, com tanta facilidade. O fenômeno, no entanto, é comum à esquerda pequeno-burguesa, que a exemplo da burguesia, nutre um desprezo crônico pelo País e pelo povo brasileiro, razão pela qual devem ser denunciados com a máxima energia. Um esquerdista à direita de Jair Bolsonaro não pode ser admitido nas fileiras de quem trava a luta pelos interesses dos trabalhadores, entre eles, o de não ser escravizado pela principal potência imperialista do planeta.

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Última Atualização: 03/08/2024