A escolha de Kamala Harris como substituta de Joe Biden na corrida presidencial norte-americana forneceu à esquerda pequeno-burguesa mais uma oportunidade para demonstrar a sua mais absoluta desorientação política. Embora nem todos tenham conseguido a proeza da senhora Talíria Petrone (PSOL), que prometeu “eleger” Harris presidente, não foram poucos os que ao menos demonstraram simpatia pela candidatura democrata.
Tenham título de eleitor norte-americano ou não, o que esses setores estão demonstrando claramente é o motivo pelo qual não defendem a Palestina. Afinal, defender a Palestina e, ao mesmo tempo, chamar a votar – apesar de a esquerda pequeno-burguesa brasileira sequer ter influência sobre o eleitorado norte-americano – nas pessoas que estão matando os palestinos é um contrassenso. É o mesmo que defender as pessoas enviadas ao campo de concentração de Auschwitz e chamar voto em Adolf Hitler.
Não é possível fazer os dois ao mesmo tempo. A esquerda brasileira, em nome de um suposto esforço para combater Donald Trump – um esforço, diga-se de passagem, que não está dando resultado – está disposta a fazer campanha para os maiores responsáveis pelo banho de sangue na Faixa de Gaza. Até o mais ingênuo dos analistas dirá que, sem o dinheiro do governo norte-americano, o Estado de “Israel” como um todo entra em colapso. Apoiar Kamala Harris – isto é, a continuidade de Joe Biden – é apoiar a máquina brutal genocida sionista.
Aqueles que defendem a candidatura de Kamala Harris, seja pelo pretexto que for, acabam caindo mais uma vez no truque da “democracia” versus “fascismo”. Um truque que surgiu não com o bolsonarismo, mas sim na primeira metade do século passado, como já alertava o revolucionário bolchevique Leon Trótski. Um truque do qual o próprio Partido dos Trabalhadores (PT) já foi vítima inúmeras vezes no passado, servindo de trampolim para que o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) dominasse o regime político.
Essa política nada tem a ver com a luta contra o fascismo, é apenas umamanipulação que serve para colocar a esquerda a reboque de seus piores inimigos. É uma demonstração de falência total e completa por parte da esquerda.