Nesta sexta-feira (26), o mundo lembra o primeiro aniversário do golpe de Estado que resultou na deposição do ex-presidente do Níger, Amadou Boubacar Cissé, desencadeando uma onda de rebeliões revolucionárias na porção central da África (o Sael), que culminariam em uma severa crise da dominação imperialista na região. Na ocasião, o general Abdourahmane Tchiani liderou a insurreição dos militares e setores nacionalistas do país, prendendo o impopular Cissé e instituindo um governo provisório, amplamente apoiado pela população, que, entoando gritos como “Viva Putin” e desfraldando bandeiras russas, manifestavam o apoio popular ao movimento revolucionário.

O imperialismo, como era de se esperar, condenou fortemente a derrubada do presidente fantoche, como expressou o presidente francês, Emmanuel Macron, que, em um acesso de cinismo, classificou o movimento revolucionário como “perigoso para os nigerinos”:

“Este golpe de Estado é completamente ilegítimo e profundamente perigoso para os nigerinos, para o Níger e para toda a região” (Militares golpistas nomeiam novo líder após golpe de Estado no Níger, G1, 28/7/2023).

Principal potência imperialista no país, a França logo tornou-se alvo do novo regime, que, em uma de suas primeiras medidas, determinou a expulsão das tropas do país e da representação diplomática francesa em Niamei, capital da nação africana. Para tentar sufocar a insurreição e impedir seu alastramento, o imperialismo mobilizou a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para pressionar a junta militar nigerina, o que foi feito com um ultimato dado pela organização pró-imperialista na África, que determinou o retorno de Cissé até o dia 6 de agosto para a restauração da ordem constitucional. A determinação, porém, foi ignorada pelos líderes golpistas.

Incapaz de agir militarmente, a CEDEAO impôs sanções econômicas rigorosas contra o Níger, que incluíram o fechamento de fronteiras e a suspensão de transações financeiras.

Longe de isolar o país, no entanto, uma onda de insurreições do gênero surgiram na região do Sael, debilitando ainda mais as posições da ditadura dos monopólios.

Em janeiro deste ano, junto ao Máli e a Burquina Fasso, o Níger anuncia o rompimento definitivo do país com a CEDEAO. No último dia 8, os três países anunciaram ainda que a medida adotada em janeiro era “irreversível”, destacando também a conclusão dos acordos conjuntos que resultaram na Aliança dos Estados do Sahel (AES), unindo os três países em uma grande Confederação. O capitão e líder do governo de Burquina Faso, Ibrahim Traoré, comentou o caso em uma mensagem publicada no X:

“Ao lado dos meus pares, Suas Excelências o General TIANI e o Coronel GOITA, participo neste sábado, 6 de julho de 2024, em Niamei, da 1ª cúpula dos países membros da Aliança dos Estados do Sahel (AES). Essa cúpula marca um passo decisivo para o futuro do nosso espaço comum. Juntos, vamos consolidar as bases de nossa verdadeira independência, a garantia de uma paz genuína e de um desenvolvimento sustentável, por meio da criação da Confederação ‘Aliança dos Estados do Sahel’. A AES tem um enorme potencial natural que, se bem explorado, garantirá um futuro melhor para os povos do Níger, do Mali e de Burquina Faso.”

Um importante desenvolvimento que mostra como erraram algumas organizações de esquerda, que à época, se dedicaram a atacar o movimento. É o caso da matéria do sítio Esquerda Diário, que na matéria intitulada Níger: não à intervenção militar, não às sanções! Imperialismo francês fora da África! (7/8/2023), chama de demagogos os movimentos revolucionários africanos:

“Tal como nos golpes de Estado anteriores, os golpistas surfam demagogicamente no sentimento de hostilidade à potência (neo)colonial francesa, a quem serviram fielmente durante anos sobre as costas da população, para conquistar um apoio popular. Por trás de sua retórica, no entanto, a realidade desse golpe continua sendo a de conflitos de camarilhas no interior do aparato militar e do aparato estatal pelo controle deste último. Se os golpistas se apoiam no legítimo sentimento anticolonial e anti-francês que existe na população, não é em nome da emancipação do povo nigeriano que eles agem, mas para pressionar os aliados franceses e americanos e diversificar seu apoio, buscando recorrer à China e à Rússia.

Se o simulacro de democracia construído pelas burguesias africanas com o apoio da França leva parte da população a apoiar os golpistas, nenhuma confiança pode ser concedida aos golpistas no poder no Níger, nem ao conjunto das frações dos exércitos da África Ocidental que tomaram o poder em Mali ou Burquina Faso.”

O desenvolvimento posterior mostra como as posições políticas desnorteadas envelhecem mal. Ao contrário do que imaginaram os esquerdistas, a junta militar levou adianta o movimento revolucionário e enfrentando uma crise, expulsou não apenas a missão diplomática francesa do país, mas também tropas, francesas e norte-americanas que lá se mantinham.

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Última Atualização: 26/07/2024