Na manhã desta segunda-feira, os moradores de Portugal acordaram assustados após sentirem um terremoto de magnitude 5,4 que surgiu o mar próximo à costa de Setúbal. O impacto, a 10 quilômetros de profundidade, foi sentido em várias regiões do país, incluindo Lisboa e Porto. Apesar do susto, não há registro de vítimas ou danos graves, mas a Proteção Civil recebeu diversas chamadas de moradores preocupados, desde Alentejo até Coimbra.
Durante uma transmissão ao vivo da CNN Portugal, os jornalistas Nuno Sousa Moreira e Rita Barão Mendes foram surpreendidos pelo tremor enquanto entrevistavam um comentarista que participava por videochamada do Brasil. Mas esse esteve longe de ser o maior terremoto já registrado no país.
Tremor de terra em Lisboa. pic.twitter.com/pPRTa1xVyE
— João (@01joaojoao) August 26, 2024
Na manhã de 1º de novembro de 1755, Lisboa, uma das mais ricas e poderosas capitais do mundo na época, enfrentou uma tragédia de proporções inimagináveis. Com um sol brilhante iluminando a cidade, não havia qualquer indício do desastre que estava prestes a ocorrer. “Nunca se viu uma manhã mais bonita do que a de 1º de novembro”, recordou o reverendo Charles Davy, um dos muitos estrangeiros que viviam na capital portuguesa.
Lisboa era o coração de um império colonial que se estendia por várias partes do mundo, desde a África até a Ásia e América Latina. “Era uma metrópole, a capital de um império colonial mundial que se estendia da África à América Latina”, explicou Vic Echegoyen, autor do romance histórico “Ressuscitar”. A cidade era um centro de grandiosidade, com mosteiros imponentes, palácios luxuosos e uma arquitetura influenciada pelo Oriente e pelo Islã, tornando-a um destino atraente para os visitantes.
Por volta das 9h30, enquanto muitos devotos estavam nas igrejas para o Dia de Todos os Santos, um som estranho e aterrorizante começou a ser ouvido sob a terra.
O reverendo Davy, que inicialmente pensou tratar-se do barulho de carruagens, logo percebeu que se tratava de algo muito mais sinistro. “Logo vi que tinha me equivocado, pois descobri que era devido a algum tipo de ruído estranho e assustador embaixo da terra, como o estrondo distante e oco de um trovão”, descreveu.
O que se seguiu foi um megaterremoto, um dos maiores já registrados na história, com três tremores ao todo, sendo o segundo o mais devastador, estimado entre 8,5 e 9 na escala Richter.
A destruição foi imediata e total. Os sobreviventes do primeiro tremor buscaram segurança nas praças abertas, como a que ficava junto ao rio Tejo. O comerciante inglês Sr. Braddick estava entre eles e relatou a cena aterrorizante: “Ali encontrei uma prodigiosa reunião de pessoas… todas de joelhos com os terrores da morte no semblante, gritando sem cessar ‘misericórdia, meu Deus!’”.
Mas o horror não terminou com o terremoto. Um tsunami gigantesco, desencadeado pelo tremor, subiu o rio Tejo com uma força devastadora. “Ele veio espumando, rugindo e correu em direção à margem com tanta energia que imediatamente corremos para salvar nossas vidas”, escreveu Davy.
Para piorar a situação, os incêndios causados pelas velas acesas nas igrejas e catedrais para a celebração religiosa espalharam-se pela cidade, queimando-a por seis dias consecutivos. “Assim que escureceu, toda a cidade parecia brilhar, com uma luz tão forte que dava para ler”, relatou Davy.
A notícia da destruição de Lisboa rapidamente se espalhou pelo mundo, tornando-se o primeiro desastre global da mídia, capturando a atenção de toda a Europa.
O terremoto não apenas destruiu uma cidade, mas também abalou as fundações do pensamento da época. A Igreja buscava culpados, enquanto grandes mentes do Iluminismo, como Voltaire e Immanuel Kant, começaram a questionar a visão teológica do mundo.
Voltaire, em particular, desafiou a ideia de que um Deus benevolente pudesse permitir tal tragédia, atacando as concepções otimistas de filósofos como Leibniz.
Em seu “Poema sobre o Desastre de Lisboa”, Voltaire questionou: “Você diria vendo aquela multidão de vítimas?: ‘Deus se vingou; a morte deles é o preço pelos seus crimes’. Que crime, que falha cometeram aquelas crianças, esmagadas e ensanguentadas no ventre da mãe?”.