
O mundo está rapidamente se aproximando de um limite crítico de aquecimento global, segundo um estudo recente publicado na revista Earth System Science Data. De acordo com a pesquisa, a humanidade tem menos de 130 bilhões de toneladas de CO₂ restantes para emitir antes de ultrapassar o limite de 1,5ºC de aquecimento global, conforme estipulado pelo Acordo de Paris. Se o ritmo atual de emissões for mantido, esse orçamento será consumido em apenas três anos, o que resultará em consequências catastróficas para o planeta.
Em 2024, a temperatura global média foi estimada em 1,52ºC acima dos níveis pré-industriais, com 1,36ºC desse aumento atribuídos diretamente à atividade humana. Este aumento tem gerado impactos alarmantes, com os cientistas alertando para as consequências de continuar nesse caminho. Segundo o estudo, é possível que em apenas nove anos o planeta atinja uma temperatura de 1,6ºC a 1,7ºC acima dos níveis pré-industriais, o que exacerbando ainda mais os efeitos da crise climática, incluindo a intensificação de eventos climáticos extremos.
O estudo sublinha que, apesar de já estarmos vendo os efeitos das emissões, o ritmo acelerado de aumento da temperatura nos últimos anos é “alarmantemente nada excepcional”. Para Piers Forster, diretor do Priestley Centre for Climate Futures da Universidade de Leeds, o aumento das temperaturas é um reflexo direto da falta de ação efetiva nas políticas climáticas. Ele destaca que as emissões de gases de efeito estufa continuam em níveis recordes, o que faz com que mais pessoas enfrentem impactos climáticos insustentáveis.
Ao longo da última década, as emissões de CO₂ chegaram a cerca de 53 bilhões de toneladas por ano, uma quantidade que está diretamente ligada à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento. Atualmente, com 130 bilhões de toneladas restantes em nosso orçamento de emissões, é possível que o limite de 1,5ºC seja ultrapassado em breve, com implicações devastadoras para o planeta. A quantidade de carbono que ainda pode ser liberada é cada vez menor, e as ações futuras das nações serão determinantes para o futuro climático da Terra.

Os cientistas explicam que o excesso de calor gerado pelas emissões está sendo absorvido principalmente pelos oceanos, que armazenam aproximadamente 91% do calor adicional. No entanto, as águas mais quentes estão resultando no aumento do nível do mar e no agravamento de eventos climáticos extremos, como ciclones e tempestades, além de prejudicar os ecossistemas marinhos e as comunidades que dependem dos oceanos para subsistência.
Desde o início do século 20, o nível médio global do mar aumentou em cerca de 228 mm, e a taxa de aumento entre 2019 e 2024 foi aproximadamente 26 mm. Embora esse aumento possa parecer pequeno, ele tem impactos significativos nas regiões costeiras baixas, levando à erosão costeira e aumentando os riscos de inundações. Isso afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, principalmente em áreas vulneráveis e densamente povoadas, como as ilhas e cidades costeiras.
Joeri Rogelj, professor de Ciência e Política Climática no Imperial College London, alertou que cada pequeno aumento na temperatura global terá impactos profundos e duradouros. Ele enfatiza que as emissões da próxima década serão cruciais para determinar quando e com que rapidez o limite de 1,5ºC será atingido. Segundo Rogelj, os próximos anos serão determinantes para o nosso futuro climático, e as ações tomadas agora terão um impacto direto sobre a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos.
O estudo também destaca a necessidade urgente de uma ação global coordenada para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global. Os cientistas concluem que, se as atuais políticas climáticas não forem fortalecidas e aplicadas com maior urgência, o mundo poderá ultrapassar o limite de 1,5ºC muito mais rapidamente do que se imaginava, resultando em consequências irreversíveis para o clima, os ecossistemas e as populações humanas ao redor do planeta.