No dia 19, as deputadas federais do PSOL, Sâmia Bomfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS), enviaram um ofício ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Morais, solicitando que ele decretasse a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para discutir as recentes denúncias de tentativa de golpe de Estado que podem levar o ex-chefe do Executivo à prisão, o programa TVGGN 20H da última terça-feira (26) contou com a participação de Sâmia.
O primeiro ponto destacado pela parlamentar é o silêncio do Congresso diante de revelações tão graves.
"Desde a primeira notícia, de que o inquérito estava chegando ao fim, de que eles seriam indiciados, nada, silêncio total, que pode significar, claro, parte das negociações em torno da eleição da mesa diretora, de não querer desagradar nenhuma das partes, que vão garantir a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) com a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) como novo presidente da Câmara", observa Sâmia.
A deputada também aponta a leniência dos demais parlamentares, algo preocupante pois tende a naturalizar o golpe no Brasil, especialmente quando existe um planejamento para assassinar o presidente e o vice-presidente da República, além de um ministro do STF.
"Vemos também lideranças partidárias do chamado Centrão, que na verdade é a direita liberal, que não se posicionam. Hoje, durante a CCJ [Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania], por exemplo, que eu sou membro, não se posicionam mesmo. Durante a sessão plenária, você só via líderes dos partidos de esquerda exigindo que não haja anistia, que haja prisão, responsabilização do Bolsonaro do seu entorno político", acrescenta.
De acordo com a entrevistada, os demais deputados demonstraram interesse apenas em garantir os próprios negócios e projetos, a exemplo das emendas parlamentares.
Prisão de Bolsonaro
Apesar de ainda não ter lido todo o relatório da Polícia Federal, Sâmia afirma que os golpistas tentaram maquiar o aspecto de golpe a partir de argumentos pela legalidade das ações – algo que ela classifica como ingenuidade ou soberba.
"Aí eu me pergunto: quem são as pessoas que estavam negociando isso? Ou se eles tinham tanta certeza dessa leniência para tentar avançar com uma aceitação do Congresso pós-golpe?"
Assim, um levante popular contra a anistia se faz necessário, até porque além de naturalizar a ação de golpistas, a conivência com atentados contra golpistas pode vitimar até os que foram a favor dela.
Um exemplo histórico foi o do jornalista e ex-deputado Carlos Lacerda, que apoiou o golpe de 1964 e foi supostamente morto pelos militares em 1977.
Outra demanda urgente no enfrentamento à extrema-direita, na visão da deputada, é a regulação das redes sociais, pauta que considera difícil passar pelo atual Congresso.
"Já era difícil por causa do lobby das big techs que se apoiam nos supostos liberais. Supostos liberais aqui do Congresso Nacional. Mas, sobretudo, agora que o Elon Musk vai estar no governo dos Estados Unidos, foi anunciado pelo dono de Trump. Acho que o poder do lobby, da pressão, mesmo da pressão internacional, é muito grande nesse tema. Mas ele precisa ser enfrentado. Porque, sem isso, a gente vai ter muita dificuldade ou sempre vai ser insuficiente o enfrentamento a isso", conclui.