O programa TVGGN da última segunda-feira (9) recebeu o cientista político Pedro Costa Jr. e o professor de Geopolítica James Onnig para comentar o principal assunto do final de semana, que foi a queda do ditador Bashar al-Assad, ex-presidente da Síria.
Questionado sobre o que esperar da Síria, Onnig afirmou que a situação é muito complexa, tendo em vista uma série de variáveis muito sutis. No entanto, ele adianta que a tomada do governo pelos rebeldes sírios foi uma vitória da dupla Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e Recep Erdoğan, presidente da Turquia.
“Eles conseguiram, através de uma movimentação geopolítica muito intensa, aproveitando situações tanto na região do sul do Líbano quanto na região da Ucrânia, polarizar as forças chamadas rebeldes, muitos deles mercenários que estão atuando hoje na Síria, e empurraram então o exército sírio para uma sinuca de bico”, explica o professor de Geopolítica.
As forças armadas da Síria já estavam debilitadas em função dos custos da guerra civil que se arrastava desde 2011, além das deserções das últimas semanas, tendo em vista o anúncio violento de que haveria um derramamento de sangue se Assad continuasse no governo.
Para Costa Jr., a situação ainda parece imprevisível, tendo em vista que os rebeldes são “uma espécie de jihadistas salafistas de aluguel” e que Assad era visto como um moderado quando ascendeu ao poder, em 2000, comprometendo-se com os Estados Unidos a não usar armas químicas.
O cientista político também explica a relação entre a Síria e a Rússia a partir de 2015, quando o presidente russo, Vladimir Putin, passou a apoiar oficialmente a Síria, junto com o Irã e o Hezbollah.
“É esse é o contexto geral: nos últimos anos, o que que nós vemos são dois fenômenos. Nós temos a guerra na Ucrânia, que vai enfraquecer a manutenção militar russa na Síria, o principal parceiro do Assad, que hoje está refugiado em Moscou, e depois a guerra na Palestina, na Cisjordânia, em Gaza e depois no Líbano. É um projeto de Netanyahu. Isso vai ser decisivo para retirar também o apoio do Irã, das forças iranianas e do Hezbollah. O chamado eixo da resistência então isso enfraqueceu”, explica o também apresentador da TVGGN.
Neste cenário, saem vencedores da queda de Assad o eixo composto pela Turquia, EUA e Otan, enquanto Rússia, Irã e Hezbollah saem enfraquecidos e tornam o cenário completamente imprevisível.
No entanto, como o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que deve retirar a retaguarda americana da Ucrânia, é provável que a Rússia consiga anexar territórios ucranianos e tenha uma vitória nos próximos meses.
“Trump está construindo, através dos seus discursos antes da posse, uma ideia de que alguma solução precisa ser organizada para a Ucrânia. Essa solução parece que tem que satisfazer principalmente o Putin, que tem força naquela região, está muito bem armado, as suas bases são muito bem guarnecidas ele pode estender essa guerra não ad aeternum, mas ele pode estender essa guerra. A grande transformação que eu vejo nas próximas semanas ou meses é que, se entregaram a cabeça do Assad de um lado, vão entregar a cabeça do Zelensky do outro”, continua Onnig.
Confira o debate na íntegra:
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