O Brasil está aproveitando sua presidência do BRICS em 2024 para posicionar o meio ambiente e a governança climática como eixos centrais da agenda do bloco. A estratégia, segundo explicou Milena Megre no programa Observatório de Geopolítica, da TV GGN, busca fortalecer o papel do Sul Global na política ambiental internacional e deixar um legado duradouro.
“O tom que o Brasil quis colocar é o ambiental”, afirmou Milena, classificando o tema como uma pauta muito brasileira, em contraste com a presidência da Rússia em 2023, que priorizou a cooperação econômica e novos sistemas comerciais diante das sanções internacionais. “Cada presidência do BRICS, quem dá o tom é o país da presidência”, destacou.
Embora o meio ambiente não seja uma prioridade natural do BRICS, o Brasil tenta inserir na pauta compromissos da Agenda 2030 da ONU e metas climáticas, demonstrando alinhamento com o sistema multilateral. O objetivo, segundo Milena, é “prezar uma boa relação com o sistema de governança da ONU para se mostrar: olhe, somos aliados”, e promover maior inclusão do Sul Global sem antagonizar o Norte Global. Essa postura reforça o perfil diplomático e mediador do país e ajuda a explicar, por exemplo, por que o presidente Lula foi convidado para todos os encontros do G7 em seus mandatos.
O desafio de unir o BRICS em torno da agenda climática
Milena ressaltou que a recente expansão do BRICS tornou ainda mais difícil uma agenda ambiental compartilhada. A entrada de países ricos em petróleo e gás, especialmente no Oriente Médio, complica a possibilidade de compromissos mútuos no clima.
Por isso, o Brasil busca deixar um legado de governança climática do Sul Global mais amplo, aproveitando o ciclo de lideranças do Sul nos principais foros — como o G20 (Indonésia em 2022, Índia em 2023, Brasil em 2024 e África do Sul em 2025) e as COPs (Egito em 2022, Emirados Árabes em 2023 e Azerbaijão em 2024).
Um discurso unificado para o futuro
A estratégia brasileira, segundo Milena, é dialogar: “Sul Global, beleza, cada um tem as suas peculiaridades, cada um tem a sua agenda. Mas no que que a gente concorda?”. A ideia é consolidar um discurso unificado sobre como deve funcionar a governança climática, antes que os foros voltem ao comando do Norte, como os EUA no G20 2026 e a Austrália na COP 2026.
O Brasil defende que o Norte Global, que se desenvolveu com base em emissões históricas, assuma metas climáticas mais ambiciosas, enquanto o Sul tenha suas especificidades respeitadas no processo de transição. “Não é um legado brasileiro apenas, é um legado de governança climática do Sul Global”, afirmou Milena, destacando que o esforço é para evitar o enfraquecimento das posições do Sul nas futuras negociações climáticas.
*texto produzido com apoio de inteligência artificial para transcrição de áudio e correções.
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