Tudo começou com “um cabo e um soldado para fechar o STF”

por Gustavo Tapioca

Desde que assumiu seu mandato em 2015, Eduardo Bolsonaro tem se destacado não por legislar em favor do povo, mas por ser uma figura central na escalada de ataques à democracia brasileira. Ao longo dos anos, suas declarações e atitudes deixaram claro que sua lealdade não está com o Brasil, mas com uma agenda autoritária, personalista e submissa a interesses estrangeiros.

Mais do que um extremista de ocasião, Eduardo construiu uma trajetória pública marcada por ameaças às instituições, apologia à ditadura, incitação à violência política e, mais recentemente, colaboração ativa com inimigos declarados da soberania nacional. Não é exagero afirmar que o deputado federal se converteu em um agente da instabilidade, um parlamentar que atua contra o próprio país.

“Um cabo e um soldado para fechar o STF”

Foi em 2018, ainda como deputado em primeiro mandato, que Eduardo Bolsonaro fez uma das declarações mais antidemocráticas da história recente:

“Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um cabo e um soldado. O que é o STF? Tira o poder da caneta deles, como é que vão reagir?”

A fala, dita com arrogância juvenil e impunidade política, soou como piada para alguns à época. Mas hoje é reconhecida como o prenúncio de uma série de ataques à ordem institucional que desembocariam na invasão criminosa do STF, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

A ameaça explícita de 2018 a um dos pilares da República não foi punida nem pelo Congresso nem pelo Ministério Público. E o silêncio institucional deu a Eduardo o sinal verde para avançar.

O retorno do autoritarismo como projeto

Em 2019, Eduardo Bolsonaro voltou a causar indignação nacional ao defender, em entrevista à jornalista Leda Nagle, a reedição de um novo Ato Institucional nº 5, o mais brutal instrumento de repressão da ditadura militar brasileira. Segundo ele:

“Se a esquerda radicalizar, a gente vai precisar responder. E uma resposta pode ser via um novo AI-5.”

A naturalização de um regime de exceção partiu, mais uma vez, de um deputado federal. E mais uma vez, ficou por isso mesmo. Ao contrário do que prevê a Constituição, que trata como crime inafiançável qualquer tentativa de abolir, com uso de meios violentos ou subversivos, o Estado Democrático de Direito, Eduardo permaneceu no cargo, imune a qualquer sanção.

Esse episódio, por si só, já seria suficiente para caracterizar a quebra de decoro parlamentar, mas Eduardo iria além.

O crime de lesa-pátria

Desde que se tornou persona non grata em boa parte da sociedade brasileira e passou a viver parte do tempo nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro assumiu um novo papel. O de lobista internacional contra o Brasil.

De Washington, ele tem se empenhado em atacar ministros do STF e do TSE em reuniões com congressistas republicanos; pedir que os Estados Unidos “apliquem sanções contra autoridades brasileiras.”; diivulgar narrativas falsas sobre censura e perseguição no Brasil; incentivar medidas extraterritoriais que isolem o país diplomaticamente.

Em julho de 2025, durante um episódio lamentável, Eduardo chegou ao cúmulo de declarar:

“Está muito mais fácil um porta-aviões chegar no Lago Paranoá — se Deus quiser, chegará em breve — do que vocês serem recebidos com o Alckmin nos Estados Unidos.”

A fala é grave. Um deputado da República brasileira fantasiando com ocupação militar estrangeira da capital federal. Isso não é opinião. Isso é incitação à intervenção armada. Isso é crime contra a soberania nacional. Como se não bastasse, ao comemorar sanções norte-americanas contra o ministro Alexandre de Moraes, Eduardo disse:

“Se houver um cenário de terra arrasada, pelo menos eu estarei vingado desses ditadores de toga.”

Não se trata mais de discordância política. Trata-se de uma postura nitidamente golpista e antipatriótica. Um parlamentar eleito pelo voto popular declarando que prefere ver o Brasil destruído se isso significar “vingança” contra autoridades que o enfrentam dentro da legalidade constitucional.

É hora de agir por decoro, por democracia, por soberania

Eduardo Bolsonaro usa a estrutura pública (gabinete, verba, cargo, proteção) para minar as instituições que jurou defender. E o faz com orgulho. Exibe suas articulações com membros da extrema-direita norte-americana, festeja toda retaliação estrangeira ao Brasil, e ataca, de fora, os pilares da democracia brasileira.

O Brasil vive hoje um paradoxo.Um deputado federal age abertamente como um sabotador do Estado de Direito. E continua no cargo.

Na prática, Eduardo incitou golpe militar; defendeu medidas de exceção; atacou sistematicamente o STF e o TSE; colaborou com congressistas estrangeiros contra autoridades nacionais; sugeriu, publicamente, intervenção armada dos EUA em Brasília; celebrou sanções contra o país como “vingança pessoal”.

Tudo isso representa uma violação frontal do decoro parlamentar, do dever de lealdade à Constituição e dos princípios da soberania nacional.

Eduardo Bolsonaro não pode mais ser tratado como “polêmico”, “irreverente” ou “radical”. Sua trajetória pública configura um caso exemplar de crime político. Um caso de deslealdade constitucional, quebra de decoro, crime de traição, segundo a lógica da Lei de Segurança Nacional e da nova Lei dos Crimes contra o Estado Democrático de Direito.

Se o Congresso Nacional for minimamente coerente com seus compromissos institucionais, deve abrir processo de cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro. O Ministério Público Federal, por sua vez, deve abrir investigação formal sobre os indícios de colaboração estrangeira contra o país.

Porque o que está em jogo não é apenas a conduta de um deputado. É a preservação da democracia brasileira diante de um dos seus mais perigosos inimigos. Aqueles que operam de dentro.

Gustavo Tapioca é jornalista formado pela UFBa e MA pela Universidade de Wisconsin. Ex-diretor de Redação do Jornal da Bahia. Assessor de Comunicação da Telebrás, Oficial de Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do IICA/OEA. Autor de Meninos do Rio Vermelho, publicado pela Fundação Jorge Amado.

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Last Update: 04/08/2025