“…Deus estava mais próximo do que eu imaginava. Deus estava espalhado em algumas mulheres que conheci. Deus não era homem. Deus sempre foi mulher. Seria mais honesto pensar dessa forma” – Jeferson Tenório
A morte, a facadas, da vereadora de Formigueiro (RS) Elisane Rodrigues dos Santos, do Partido dos Trabalhadores é um assassinato político.
Neste país patriarcal, somos tão primitivos que ainda confundimos feminino com feminismo, como se os homens não devessem ser feministas.
Repito: as mulheres vítimas de feminicídios na Terra de Santa Cruz são todas, sem exceção, vítimas políticas.
De uma política misógina, que por sua vez haure na fonte corrupta da cultura machista.
Assim, de uma forma ou de outra, ela foi vítima das forças mais atrasadas do País, travestidas em defensoras de Deus e da família, que na verdade o são apenas da propriedade da privada (desmatada, envenenada por agrotóxicos, as terras públicas invadidas – na forma como opera o latifúndio).
Estar no banco dos réus é completamente inusitado para a oligarquia local, incluído seu braço armado.
Nunca imaginaram que um dia a casa-grande trocaria de lugar com a senzala.
Sempre entenderam que os Três Poderes eram seus, como as mulheres que violavam, as terras que roubavam e a opressão que exerceram por 500 anos.
Não foi simbólico terem invadido os Três Poderes, em 8 de Janeiro de 2023? Não o fizeram porque se sentiram despossuídos de algo que sempre lhes coubera? Não é o lado da opressão o que sempre escolheram?
As bandeiras de Israel e dos Estados Unidos da América, dois dos maiores antros da opressão internacional, não são seus lábaros?
Os brilhantes prefeitos brasileiros que resolveram viajar a Israel e de lá tiveram de ser resgatados não apostavam que o opressor seria eternamente vitorioso?
Aliás, como foram para lá a convite da embaixada do país hebreu, por que o governo genocida não assumiu os gastos do resgate, cabendo aos contribuintes brasileiros cobri-los?
A medida é totalmente injusta, em primeiro lugar porque eu não autorizaria o gasto de um centavo meu para resgatar apoiadores de genocídio.
Em segundo lugar, porque estimaria muito que provassem in loco o sabor do ódio, da intolerância e do racismo praticados pelo desgoverno que apoiam.
Por falar em EUA, Trump deixou mais uma vez claro que seus únicos interlocutores são os que podem medir forças com o império do mal: Rússia, China e Coreia do Norte.
O psicopata covarde só reconhece o valor da força, buscando fazer o mundo regredir à Idade Média, literalmente.
De certa forma, um choque de verdade diplomática, há de se reconhecer: sem os rapapés com que a Europa Ocidental tenta seduzir, dividir e cooptar aqueles países do Sul que lhe podem ser úteis, inclusive o Brasil.
Nesse sentido, ter deixado a reunião do G7 só ilustrou a “diplomacia” de Trump: adeus, cenoura, o neoliberalismo será agora só de bastão. Preparem suas cabeças, pois muitas serão rachadas.
Pior, o cataclismo diplomático pegou o Brasil sem fazer o dever de casa: a integração continental, como prescreve o parágrafo único do artigo 4o da Constituição Federal.
Ainda pior, a Chancelaria brasileira, na aparente ânsia de ser reconhecida pelos paises do Norte (aqueles mesmos que sacodem a cenoura da cadeira no Conselho de Segurança da ONU para a vaidosa chancelaria), adicionou ainda mais amargo ao fel, indispondo o Brasil com Venezuela e Nicarágua.
Caso seja possível piorar, assistimos na semana passada à “Cúpula Brasil-Caribe”. Seria para rir, se não fosse para chorar.
Ora, o limite sul do Caribe é a foz do Amazonas. Ou seja, todo o litoral do Amapá está no Caribe e, portanto, o Brasil é um país caribenho. Ufa.
Tragicômico ver que a Chancelaria desconhece isso, desmerecendo o Barão do Rio Branco, que, há mais de cem anos, venceu a França em tribunal arbitral sob a presidência do presidente da Suíça.
Esperando que os leitores conheçam mais geografia do que muitos diplomatas brasileiros, vale notar que a Suíça se encontra encravada na França, o que dá a medida da qualidade da defesa preparada por Rio Branco. Vale observar que ao reivindicar todo o litoral do Amapá, os gauleses visavam ao controle da própria foz do Amazonas e, destarte, da navegação e da Amazônia como um todo.
Refletindo livremente: se reconhecêssemos mais o trabalho uns dos outros, provavelmente teríamos mais diplomatas, médicos e até militares aptos ao ofício e não apenas buscando reconhecimento, seja por meio da remuneração incomum, seja por poder e prestígio.
Mas quantos de nós reconhecemos o valor de um gari? De uma arrumadeira? Um porteiro?
Somos educados para isso?
Entretanto, a felicidade, o prazer, o amor são imateriais!
Com Leonardo Boff, em O pescador ambicioso e o peixe encantado – a busca pela justa medida (editora Vozes), lemos: “‘Sobre aquilo que não podemos falar, devemos calar’, comenta com razão Wittgenstein. Calamos não porque não teríamos nada a dizer, mas porque tudo o que dissermos é insuficiente. Há realidades que só pedem o enlevo, a admiração e a contemplação”.
As demais pedem palavras.