A tentativa do presidente norte-americano Donald Trump de remover a diretora Lisa Cook do Federal Reserve (Fed) elevou a tensão nos mercados financeiros e abriu uma disputa inédita sobre a independência da autoridade monetária americana.
O episódio e suas consequências imediatas
Trump acusou Cook de envolvimento em fraude hipotecária e afirmou já ter nomes em mente para substituí-la, o que lhe daria maioria no comitê de política monetária. Se consumada, a medida seria um marco sem precedentes na história do Fed.
A repercussão foi imediata:
O índice DXY, que mede a força do dólar, caiu 0,22%, fechando a 98,21 pontos.
Os Treasuries de 30 anos subiram de 4,890% para 4,924%, refletindo prêmio de risco maior no longo prazo.
Títulos de vencimentos curtos e médios recuaram, sinalizando que investidores ainda projetam cortes de juros em breve.
Projeções do CME Group apontam para 87,3% de chance de corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Fed, mas a instabilidade política agora entra na conta dos investidores.
A resposta de Lisa Cook e a batalha judicial
Lisa Cook rejeitou a possibilidade de renúncia:
“O presidente Trump alegou me demitir por justa causa, quando nenhuma causa existe, segundo a lei. E ele não tem autoridade para fazer isso”, declarou.
Seu advogado, Abbe David Lowell, reforçou que as acusações não têm fundamento jurídico e que recorrerá aos tribunais.
Trump, por sua vez, afirmou estar disposto a sustentar a medida judicialmente:
“Estamos preparados para uma batalha legal.”
Quem pode substituí-la
Segundo o Wall Street Journal, Trump já considera nomes como:
David Malpass, ex-presidente do Banco Mundial e crítico da condução atual do Fed;
Stephen Miran, que já ocupou vaga temporária no Tesouro americano.
O Federal Reserve divulgou comunicado destacando que Cook permanece legalmente no cargo e só deixaria de participar de votações caso haja decisão judicial até setembro.
Reações de economistas e riscos para o Fed
A interferência política é vista como perigosa.
Michael Feroli (J.P. Morgan) alertou que, se Trump tiver sucesso, poderá remodelar todo o Fed, aumentando riscos inflacionários.
O Nobel Paul Krugman classificou o episódio como ameaça ao Estado de direito:
“Se Cook for demitida, as implicações serão profundas e desastrosas. Não se trata apenas de política monetária, mas de saber se ainda somos uma nação de leis.”
O que está em jogo
A disputa não se limita ao futuro imediato da política monetária americana. Ela envolve três pontos cruciais:
Independência do Fed – pilar central da credibilidade da economia dos EUA.
Confiança dos investidores – já afetada pela oscilação nos Treasuries e no dólar.
Precedente institucional – se Trump conseguir afastar Cook, abre caminho para maior influência política direta sobre o banco central.