Após infligir um ataque ao Brasil sem precedentes, impondo uma tarifa extra de 50% a todos os produtos brasileiros, Donald Trump dobrou as apostas e colocou na mira o Pix e até mesmo a tradicional rua 25 de Março, um dos principais centros comerciais populares do país.
Se a sanção e a ingerência econômica não fossem o bastante, Trump reafirmou a chantagem para livrar Bolsonaro e os golpistas da cadeia. Quem esperava recuo, ganhou mais truculência por parte do chefe da principal potência imperialista do mundo.
Nesta semana, Trump anunciou que ativaria a Seção 301 da Lei de Comércio do país, criada em 1974 para proteger os interesses dos monopólios norte-americanos mundo afora. A investigação aberta pelo Escritório de Representação Comercial dos EUA (USTR na sigla em inglês) a mando de Trump vai se debruçar sobre supostas irregularidades “relacionadas ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico; tarifas injustas e preferenciais; interferência em políticas anticorrupção; proteção da propriedade intelectual; acesso ao mercado de etanol; e desmatamento ilegal”.
Um discurso tão hipócrita quanto cínico, haja visto que, desde 2009, os EUA acumulam um superávit de mais de 90 bilhões de dólares com o Brasil, no comércio e em serviços. Só no primeiro semestre deste ano, os EUA tiveram uma vantagem de 1,7 bilhão de dólares. Mas Trump quer mais. Está de olho no serviço de pagamento gratuito desenvolvido pelo Banco Central que movimenta algo como R$ 2,5 trilhões todo mês, uma montanha de dinheiro que poderia estar sendo movimentada, e taxada, pelas grandes bandeiras de cartões de crédito norte-americanas ou, principalmente, pela Meta, através do serviço de transferência por WhatsApp, de seu apoiador Mark Zuckerberg.
Já a parte sobre o “desmatamento ilegal” não passa de hipocrisia pura vinda de um notório negacionista ambiental, entusiasta dos combustíveis fósseis (“fure, fure, baby”). Na verdade, a desvantagem vista por Trump em relação ao Brasil é o arrasador avanço das fronteiras agrícolas (como acabamos de ver com a aprovação do PL da Devastação no Congresso Nacional), abrindo caminho para o aumento da produção de soja e gado.
Chantagem imperialista
Enquanto o conjunto dos setores burgueses ligados à exportação (como o agronegócio e a indústria), e o governo Lula, esperam um recuo por parte de Trump, tentam ganhar tempo e se exime de qualquer tipo de retaliação, o chefe do imperialismo dobra suas apostas para atacar a soberania do Brasil. Não só em relação à economia, mas na Justiça e na política. Nesta quinta-feira, 17, Trump enviou uma carta ao próprio Bolsonaro ofertando seu apoio incondicional ao colega de golpe. “Este julgamento precisa parar imediatamente!”, afirma o mandatário norte-americano, que ainda tem a audácia de afirmar: “minha sincera esperança é que o governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar opositores políticos e acabe com seu ridículo regime de censura”.
Trump, com isso, não quer só determinar quem o povo brasileiro elege ou deixa de eleger, mas como até mesmo você vai pagar o pão com manteiga da padaria, ou os dados que você disponibilizará às big techs norte-americanas, passando por cima da Lei Geral de Proteção de Dados. Tenta aprofundar a exploração imperialista, já que a dominação norte-americana não se reflete apenas nas trocas comerciais, mas nos monopólios norte-americanos que atuam diretamente no Brasil, inclusive com subsídios bilionários do Estado, como a GM, e através do pagamento da dívida pública.
O próprio agronegócio brasileiro é dominado pela Cargill e a Bunge Alimentos, de capital norte-americano, seguido pela chinesa Cofco International, segundo levantamento realizado pelo Ilaese (Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos). Sem falar nos grandes fundos de investimentos, como a gigante BlackRock, cujos tentáculos se estendem a setores que vão de empresas privadas, como a própria Embraer, a concessionárias de serviços públicos.
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Extrema direita lambe as botas de Trump
O ataque de Trump à soberania evidenciou o caráter entreguista e subserviente da extrema direita. Que a família Bolsonaro estivesse disposta a, ao lado de Trump, destruir a economia brasileira para salvar seus interesses, não seria novidade para ninguém. O absurdo foi o próprio governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, defender o tarifaço, chegando a se expor ao ridículo ao propor que o STF (Supremo Tribunal Federal) liberasse Bolsonaro para que ele fosse “negociar” com Trump.
A pressão da burguesia paulista, o estado mais atingido pelas tarifas de Trump, obrigou o governador a mudar sua política, mas não seu entreguismo. Tarcísio tentou negociar diretamente com o governo norte-americano, e sofreu uma reprimenda do próprio Eduardo Bolsonaro e do bolsonarismo, que viram nisso uma tentativa de boicote às sanções. Mesmo após a imposição de medidas cautelares ao ex-presidente golpista, com a instalação de tornozeleira eletrônica, Tarcísio não hesitou em sair em defesa de seu chefe. Mostra-se, assim, capacho de Bolsonaro, que por sua vez, é capacho de Trump. Um cachorrinho que late contra os pobres no estado em que governa, enquanto abana o rabo para o imperialismo e o bolsonarismo.
Mesma postura teve o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que continua prestando tributo ao bolsonarismo em meio à disputa pela alternativa eleitoral da extrema direita em 2026. “O Brasil começou a afrontar seus clientes”, teve o disparate de afirmar o governador de Minas, como se Trump fosse um mero “cliente” do Brasil, e que, nessa analogia estapafúrdia, teria sempre razão.
O conjunto da ultradireita, desta forma, mostra toda a sua hipocrisia em se vender como “patriota” e nacionalista, enquanto lambe as botas de Trump e defende seu ataque ao próprio país. Nem mesmo a famigerada ditadura militar, que essa gente reivindica e se inspira, conseguiu ser tão entreguista.
Burguesia lacaia e entreguista
O tarifaço de Trump também mostrou o entreguismo da burguesia brasileira. Característica inata que essa classe carrega ao longo dos 500 anos de história do país. Em reunião com o governo brasileiro, as principais entidades de classe burguesia, como a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a CNA(Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) imploraram para que não se aplicasse nenhuma retaliação aos EUA, e que se apostasse nas “negociações” e no “diálogo” com Trump. Não se poderia mesmo esperar nada de diferente de uma burguesia “subserviente servil” como Eduardo Bolsonaro classificou Tarcísio, mas que, na verdade, poderia ser dito dele próprio, de Tarcísio e do conjunto da burguesia.
Repetem o que fizeram os países taxados por Trump, esperando um recuo que, ao final, mesmo se houver, significará uma sobretaxa ao Brasil . Nesse “vai-e-vem” de Trump, impondo tarifas, ora aumentando, ora recuando, o governo norte-americano arrecadou 50 bilhões de dólares a mais em receitas alfandegárias, segundo levantamento do jornal britânico Financial Times.
FORA TRUMP DA AMÉRICA LATINA FORA ISRAEL DAS TERRAS PALESTINAS 🔥 Se liga no bloco do Rebeldia no ato unificado no Conune: “Abaixo o imperialismo! Trump, tire suas garras do Brasil! Palestina livre do rio ao mar!” pic.twitter.com/JPcq58ZMJP
— Opinião Socialista (@opsocialista) July 18, 2025
Trabalhadores devem exigir de Lula reciprocidade e mais
O ataque imperialista de Trump desatou uma justa indignação entre amplas camadas da classe operária e a população em geral.
A classe trabalhadora deve exigir que o governo Lula enfrente Trump para além das palavras. Começando por aplicar a Lei da Reciprocidade, coisa que ainda não fez, mas indo além, enfrentando de fato a dominação imperialista aqui dentro. No mínimo, proibindo as remessas de lucros e dividendos das transnacionais norte-americanas, assim como o pagamento de juros da dívida pública ao capital imperialista. Taxando para valer as big techs que tem no país seu segundo maior faturamento no continente, só atrás dos próprios EUA. E enfrentar os grandes monopólios imperialistas que dominam até o agronegócio brasileiro.
O governo Lula, porém, de conciliação com o centrão e a burguesia, não implementa um programa realmente anti-imperialista. Ao contrário, seguem com uma política de ajuste fiscal via arcabouço fiscal (que corta dinheiro da Saúde e Educação para o pagamento da dívida), subsídios aos grandes monopólios imperialistas e uma das maiores taxas de juros do mundo que enriquece banqueiro e grandes fundos financeiros gringos. Então, apesar do discurso, Lula não bate de frente com Trump, evitando (seguindo o conselho da burguesia), aplicar a Lei da Reciprocidade aprovada pelo próprio Congresso Nacional “inimigo do povo”. Uma lei que, por si só, já seria bastante limitada para enfrentar este ataque.
Por isso, aumenta a importância da organização independente da classe trabalhadora para enfrentar um ataque imperialista desse porte. Ao contrário da política da esquerda institucional, como o PSOL, que defende politicamente o governo Lula junto com o arcabouço, os trabalhadores devem organizar sua mobilização de forma independente, ligando a luta contra o tarifaço à luta pelo fim do arcabouço fiscal, pelo fim da jornada 6×1, pela taxação dos bilionários para valer, contra o mecanismo da dívida e por medida de enfrentamento a fundo contra Trump.
Os trabalhadores, mantendo sua independência política e mobilização independente, estarão dispostos a fazer toda unidade de ação necessária para combater Trump e o imperialismo, inclusive com o governo e com todos que topem enfrentá-lo
Os trabalhadores da Embraer, uma das empresas mais afetadas pelo ataque imperialista de Trump, estão dando o exemplo, realizando manifestações contra o tarifaço e pelas reivindicações da classe trabalhadora, exigindo de Lula não só uma retaliação à altura, mas o fim do arcabouço e a ruptura com o imperialismo e a burguesia entreguista que desde sempre dominou este país.
TRUMP, TIRE AS MÃOS DO BRASIL | O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (SP), filiado à CSP-Conlutas (@cspconlutas), iniciou uma campanha contra o tarifaço de Trump nesta terça-feira (15), na General Motors pic.twitter.com/nRxuYTYe1u
— Opinião Socialista (@opsocialista) July 15, 2025