A resposta foi rápida. Bastou Donald Trump titubear diante da palavra “recessão” para que Wall Street se precipitasse ladeira abaixo. As bolsas norte-americanas derreteram nesta segunda-feira (11), empurradas pelo pânico dos investidores diante da imprevisibilidade do governo Trump e pelo crescente temor de estagflação — um cenário de inflação persistente combinada com crescimento econômico fraco.

O índice S&P 500 despencou 2,7%, o Nasdaq tombou 4% e o Dow Jones cedeu 2%, em um dos piores dias do ano para os especuladores dos mercados financeiros. Gigantes da tecnologia viram bilhões evaporarem: a Tesla caiu 15,4%, a Nvidia recuou 5%, e as ações da Amazon e da Alphabet seguiram o mesmo caminho.

Os números falam por si. Desde fevereiro, as políticas de Trump já custaram US$ 4 trilhões ao mercado de ações. Empresas que sustentavam o otimismo de Wall Street — sobretudo as big techs — entraram em queda livre.

Mas, no centro do furacão, Trump minimiza o caos. “Há um período de transição”, desconversou no último domingo (10), em entrevista à Fox News. A frase, dita num tom incomum para alguém que vende certezas, bastou para que os mercados respondessem com pânico.

Jogando em casa, no jargão do futebol, Trump desviou mal da casca de banana jogada pela apresentadora do Sunday Morning Futures, Maria Bartiromo. Fazendo referência às “preocupações crescentes com uma desaceleração”, Bartiromo perguntou: “O senhor espera uma recessão neste ano?”

“Eu odeio prever coisas assim”, respondeu Trump. “Haverá um período de transição, porque o que estamos fazendo é muito grande. Estamos trazendo riqueza de volta para os Estados Unidos. Isso é uma grande coisa, e sempre há períodos de ajuste. Leva um tempo, mas acho que, no final, será ótimo para nós.”

A crise dos mercados, no entanto, não é apenas uma reação momentânea. O temor central é que os EUA entrem em um ciclo de estagflação, algo que o Federal Reserve tentava evitar desde o início da alta de juros em 2022.

Estagflação ocorre quando a economia desacelera, mas a inflação continua elevada, criando um dilema para a política monetária. O presidente do Fed, Jerome Powell, já havia indicado que a inflação vinha resistindo à queda, mas agora os mercados temem que o aperto tarifário de Trump acelere esse quadro.

Os novos sinais de desaquecimento são claros. Indicadores de confiança do consumidor caíram em fevereiro, e o crescimento do emprego ficou abaixo do esperado, com 151 mil novas vagas criadas no último mês, um desempenho fraco para os padrões americanos. O desemprego subiu para 4,1%, e setores como aviação e indústria já começam a rever projeções para baixo.

Apesar do quadro delicado, a Casa Branca insiste em minimizar o problema. “As tarifas são um ajuste necessário para proteger os empregos americanos”, afirmou o secretário de Comércio, Howard Lutnick, à NBC. Mas os mercados não compraram a tese — e a queda dos ativos mostra isso.

A guerra comercial, colapso do mercado e desconfiança crescente

Trump prometeu fazer a “América grande de novo”. Mas, oito semanas após reassumir a Casa Branca, está fazendo o oposto: os EUA se isolam no cenário econômico global.

As novas tarifas geraram uma reação imediata. O Canadá retaliou com taxas sobre US$ 20,5 bilhões em exportações americanas. O México já fala em represálias. A União Europeia estuda medidas para proteger suas indústrias. A China impôs sanções sobre bens americanos e prepara uma nova rodada de restrições.

A escalada protecionista não só tensiona as relações diplomáticas, como também pressiona os preços nos EUA. A lógica é simples: tarifas elevadas encarecem os produtos importados, o que gera repasse de custos para o consumidor final. O impacto deve ser sentido principalmente em setores como automóveis, eletrônicos e alimentos, elevando ainda mais a inflação.

Para os economistas norte-americanos, a política tarifária desordenada de Trump está no centro da crise. A expectativa, até então, era de que sua equipe econômica pudesse ao menos estabilizar os mercados. Mas, ao que tudo indica, o presidente está disposto a arriscar tudo.

Os sinais são claros. O Federal Reserve já descarta cortes de juros no curto prazo, o que agrava o temor de estagflação. O mercado de trabalho desacelera. Empresas como a Delta Air Lines já cortaram suas projeções de lucro pela metade. O setor industrial sente os primeiros sinais de retração.

Mas na Casa Branca, a ordem é negar a realidade. “A economia americana está mais forte do que nunca”, disse o secretário de Comércio, Howard Lutnick, enquanto as bolsas afundavam.

A dúvida que resta é: até quando Trump conseguirá sustentar essa narrativa?

O preço da instabilidade

A derrocada dos mercados expõe uma contradição central do governo Trump. O homem que prometeu “riqueza sem precedentes” agora vê seu governo afundar a confiança dos investidores, travar o comércio global e desvalorizar os ativos americanos.

A possibilidade de estagflação — antes considerada improvável — agora entra no radar como uma ameaça real para a economia americana.

Wall Street pode até se recuperar, mas o recado dos mercados já foi dado. O presidente que se vendia como um mestre da economia agora se vê encurralado pelas próprias promessas.

A recessão, que Trump evita nomear, já parece estar à espreita.

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Last Update: 11/03/2025