O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta terça-feira, 24, que a China está autorizada a retomar a compra de petróleo do Irã, após a formalização de um cessar-fogo entre Teerã e Israel. A afirmação foi publicada em sua rede Truth Social, um dia depois do anúncio do acordo que pôs fim a quase duas semanas de confrontos entre os dois países do Oriente Médio.

De acordo com Trump, a normalização do comércio de petróleo é uma das consequências imediatas do entendimento entre os dois governos. “A China agora pode continuar comprando petróleo do Irã. Espero que eles também comprem bastante dos EUA. Foi uma grande honra para mim tornar isso possível”, escreveu.

O cessar-fogo entre Israel e Irã entrou em vigor na madrugada desta terça, após 12 dias de hostilidades iniciadas após uma ofensiva israelense contra alvos ligados ao programa nuclear iraniano. A mediação norte-americana foi apontada como determinante para a conclusão do acordo. No entanto, o ambiente de instabilidade permanece.

Logo no primeiro dia de trégua, o exército de Israel acusou o Irã de lançar dois mísseis contra seu território. As autoridades iranianas negaram a ofensiva. Diante do episódio, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que as Forças de Defesa de Israel (IDF) estão autorizadas a responder de forma “energética” a novas ocorrências. Não houve confirmação independente do lançamento dos projéteis.

Importância estratégica do petróleo e do Estreito de Ormuz

O petróleo segue como ponto central nas tensões envolvendo o Irã. Segundo dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o país ocupa atualmente a nona posição entre os maiores produtores globais, com média diária de 1,5 milhão de barris. A maior parte dessa produção é exportada por meio do Estreito de Ormuz, um corredor marítimo que conecta o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã e ao Mar da Arábia.

O Estreito é uma das rotas mais estratégicas do mundo para o transporte de petróleo. Dados da Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos (EIA) apontam que, em 2024, aproximadamente 20 milhões de barris de petróleo cruzaram diariamente a região — volume equivalente a cerca de 20% de todo o consumo global de líquidos derivados de petróleo.

A possibilidade de bloqueio do estreito é frequentemente mencionada por autoridades iranianas em períodos de confronto. A simples menção a essa medida tem repercussões nos mercados internacionais e gera preocupações sobre o fornecimento energético global. Interrupções no tráfego marítimo pelo canal podem causar aumentos imediatos nos preços do petróleo e comprometer a estabilidade do comércio internacional.

China e Estados Unidos disputam influência no Golfo Pérsico

A sinalização de Trump ocorre após apelos recentes de autoridades americanas para que Pequim desempenhe um papel mais ativo na mediação de crises envolvendo o Oriente Médio. Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou em entrevista ao canal Fox News que espera colaboração da China no diálogo com o Irã.

“Peço ao governo chinês que converse com eles sobre este assunto, já que depende em grande medida do Estreito de Ormuz para sua quantidade de petróleo”, disse Rubio, referindo-se à dependência chinesa da rota marítima para garantir seu abastecimento energético.

O envolvimento chinês no comércio de petróleo iraniano é considerado estratégico tanto para Teerã quanto para Pequim. Com sanções impostas pelos Estados Unidos ao setor energético do Irã, a China tem sido um dos principais destinos para o petróleo do país. O relaxamento informal dessas restrições, sinalizado por Trump, pode facilitar o fluxo comercial e impactar o equilíbrio geopolítico da região.

Acordo de cessar-fogo e incertezas

O cessar-fogo anunciado na segunda-feira, 23, foi resultado de negociações conduzidas com intermediação dos Estados Unidos. A trégua suspende ações militares diretas entre Israel e Irã, mas não há garantias formais sobre o cumprimento contínuo dos termos.

A acusação israelense de que Teerã teria lançado mísseis, negada pelas autoridades iranianas, elevou a tensão logo após o anúncio do pacto. Em resposta, o ministro Israel Katz declarou que as forças armadas israelenses estão orientadas a agir em caso de nova ofensiva.

Até o momento, não há informações oficiais sobre violações adicionais ao cessar-fogo. O acordo não prevê mecanismos de verificação independentes nem foi formalizado sob supervisão de organismos multilaterais. A ausência de garantias formais e a fragilidade da confiança mútua entre as partes contribuem para a incerteza sobre a durabilidade do entendimento.

A iniciativa de Trump em permitir a retomada das compras de petróleo iraniano por parte da China se insere nesse contexto, como uma tentativa de consolidar os efeitos da trégua por meio do incentivo ao comércio internacional. Não há, por enquanto, posicionamento oficial do atual governo norte-americano sobre a declaração feita pelo ex-presidente.

O desenrolar da trégua e os próximos movimentos no comércio de petróleo entre Irã, China e outros países do Golfo deverão ser monitorados por analistas internacionais nas próximas semanas.

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Last Update: 24/06/2025