Menos de 24 horas após firmar um acordo comercial com a União Europeia que ampliou tarifas e garantiu aos Estados Unidos contrapartidas bilionárias, o presidente Donald Trump endureceu o discurso contra a Rússia e exigiu um cessar-fogo imediato na guerra da Ucrânia.
Em declaração feita na Escócia nesta segunda-feira (29), o republicano deu um prazo de até 12 dias para que Moscou apresente avanços rumo à paz, sob pena de novas sanções e tarifas adicionais.
“Não há razão para esperar”, afirmou Trump em coletiva ao lado do primeiro-ministro britânico Keir Starmer. “Se você já sabe qual será a resposta, por que esperar?”, disse. A fala marca uma guinada no discurso do presidente norte-americano, que até então evitava confrontos diretos com o Kremlin.
O ultimato ocorre um dia após a União Europeia ter aceitado termos econômicos desfavoráveis em um pacto tarifário com Washington, o que, segundo diplomatas, refletiu o esforço de preservar o vínculo estratégico com os EUA em meio à guerra na Ucrânia.
Desde o início do segundo mandato de Trump, autoridades europeias vêm buscando evitar o acirramento de disputas comerciais para não comprometer temas mais sensíveis da agenda externa europeia, especialmente a segurança e o apoio militar à Ucrânia.
“Não se tratava apenas de comércio, mas de segurança, de Ucrânia, da atual volatilidade geopolítica”, reconheceu o comissário europeu de comércio, Maroš Šefčovič, após a assinatura do acordo.
Reportagens do New York Times e do Financial Times indicaram que líderes como Ursula von der Leyen, Emmanuel Macron e Friedrich Merz optaram por não enfrentar Trump em um momento de fragmentação interna no bloco.
Rússia não cede e mantém ofensiva militar
O Kremlin respondeu com frieza ao ultimato de Trump. “Tomamos nota da declaração”, disse o porta-voz Dmitry Peskov, reiterando que a “operação militar especial” na Ucrânia continua. A declaração foi interpretada como um sinal claro de que Moscou não pretende alterar sua estratégia militar em função de pressões externas.
O ex-presidente Dmitry Medvedev, aliado próximo de Vladimir Putin, foi mais contundente e acusou Trump de adotar uma política de ultimatos. “Cada novo ultimato é uma ameaça e um passo em direção à guerra. Não entre Rússia e Ucrânia, mas com o próprio país dele”, afirmou Medvedev em publicação na rede X.
Horas após a fala do presidente norte-americano, a Rússia realizou ataques aéreos em regiões sob controle de Kiev nas províncias de Zaporizhzhia, Dnipropetrovsk e Kharkiv. Pelo menos 19 pessoas morreram, segundo autoridades ucranianas. Moscou negou ter mirado civis e afirmou que os bombardeios tiveram como alvo posições militares adversárias.
A continuidade da ofensiva militar sinaliza que o Kremlin não se deixou intimidar pela escalada verbal de Washington. Para diplomatas ouvidos pela imprensa europeia, a troca de ameaças pode aprofundar o impasse político e reduzir as chances de negociações efetivas para a solução do conflito.