No último dia 25 de agosto, o presidente dos EUA, Donald Trump, emitiu uma nova ordem executiva que “leva os EUA ainda mais longe no caminho rumo ao fascismo”, segundo C.J. Atkins, articulista do site People’s Word, porta-voz do Partido Comunista dos EUA.

Realmente, a ordem executiva sobre a Guarda Nacional, apesar de ter sido noticiada no Brasil, não recebeu a atenção devida pelo que representa de fato.

Como afirma Atkins, “desde os tempos das S.A. (Sturmabteilung – Tropas de Assalto) de Hitler — os ‘camisas-pardas’ — nenhum líder em um país capitalista avançado empunhou um exército político privado, fora das forças regulares militares e policiais, que respondesse apenas a ele”, e é justamente disso que se trata.

Trump, com esse decreto executivo, cria unidades especiais da Guarda Nacional de “lei e ordem”, que podem ser convocadas por iniciativa exclusiva do presidente, para “conter distúrbios internos”  sem precisar passar pelos governadores estaduais que, por lei, são os comandantes da Guarda.

Trump ordenou a instalação de uma força-tarefa que deve “criar e iniciar imediatamente o treinamento, contratação e equipagem” dessa “unidade especializada” recrutando voluntários civis “com experiência em segurança pública ou em áreas relevantes” para trabalhar junto a órgãos federais de aplicação da lei, a fim de cumprir as ordens do presidente em locais que ele designe como enfrentando uma “emergência de segurança pública”.

A decisão sobre a existência de uma “emergência segurança pública” caberá unicamente ao presidente.

Resumindo: serão unidades armadas que atuando sem qualquer mediação ou controle, estarão ligadas exclusivamente a Trump. E esse novo Duce ou Führer da extrema-direita mundial, usando falsos pretextos, pode promover intervenções militares domésticas por todo o país, principalmente nas cidades e estados onde a oposição predomina ou existam grandes bolsões de população negra e imigrante.

Relata C.J. Atkins: “Washington, D.C., foi o primeiro local da lista e verá os primeiros destacamentos tanto das unidades da Guarda Nacional controladas por Trump quanto do exército privado MAGA. Sua ordem executiva afirma explicitamente que essas tropas poderão ser enviadas ‘sempre que as circunstâncias exigirem’ para ‘cidades onde a segurança pública e a ordem tenham sido perdidas’.

Chicago e Los Angeles despontam como os próximos alvos prováveis.

Continua Atkins: “É de se esperar que o exército de Trump seja inundado por ‘voluntários’ vindos das fileiras de sua base política. Ex-policiais, ex-militares e outros ansiosos para ajudar a prender imigrantes e reprimir opositores políticos de Trump (…) membros de grupos como os supremacistas brancos Proud Boys e outros que atuaram como tropas de choque durante a tentativa de golpe de 6 de janeiro de 2021, terão uma nova oportunidade para exibir suas inclinações violentas”.

Proud Boys (Garotos Orgulhosos ou Rapazes Orgulhosos), grupo neofascista exclusivamente masculino

Para não fugir à rotina, o uso da Guarda Nacional por Trump fere frontalmente uma lei federal de 1878 (Ato Posse Comitatus) que proíbe com todas as letras o uso de tropas federais para fins de policiamento, exceto em situações de completo colapso dos governos locais ou estaduais e nenhuma das cidades na lista de alvos de Trump — nem Los Angeles, nem Washington, nem Chicago – estão sequer perto desta situação.

“Talvez a gente queira um ditador”

A iniciativa aponta tão claramente para um rumo autoritário que o próprio Trump, na entrevista coletiva concedida logo após a assinatura do Decreto, ao mesmo tempo em que negava ser um ditador, disse simplesmente o seguinte:

Eles [os críticos] afirmam: ‘Não precisamos dele. Liberdade, liberdade, ele é um ditador, ele é um ditador’ (porém) muita gente está dizendo: ‘Talvez a gente queira um ditador’.”

Trump repete o que disse em 2023 quando afirmou que existiria um grande número de pessoas desejando que ele fosse um ditador. Essa afirmação, e sua repetição posterior, não é um sarcasmo como ele alega, é a explicitação de um projeto que já está em andamento e pode ou não ser vitorioso.

O articulista do People’s Word, termina seu texto da seguinte forma: “Se algum dia existiu um momento que exigisse uma frente unida contra o fascismo, esse momento é agora”.

Link para o artigo (em inglês) citado nesta matéria: https://www.peoplesworld.org/article/like-dictators-of-the-past-trump-is-building-his-own-private-army/

“Para afastar mil anos de tristeza / Beber ainda cem jarras de vinho / à justa fala a noite vem propícia / À luminosa lua que desperta / Embriagar-se: à montanha vazia / Coberta é céu, a terra, travesseiro.”

Poema “Com um amigo passando a noite”, do chinês Li Bai (701-762) – Tradução de Ricardo Primo Portugal e Tan Xiao

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Last Update: 01/09/2025