A viagem de Donald Trump ao Oriente Médio nesta semana chocou aliados tradicionais e mostrou as suas prioridades geopolíticas na região. Pela primeira vez desde a fundação de “Israel” em 1948, um presidente norte-americano realizou uma turnê diplomática pela região sem incluir o Estado israelense em seu roteiro. Em vez disso, Trump reuniu-se com líderes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Catar. O movimento, interpretado como um rompimento tácito com a política pró-“Israel”, mostra mais sobre qual é a política de Trump com o oriente médio. Diante da incapacidade de “Israel” de consolidar seu domínio na Palestina e do fracasso da máquina de guerra imperialista, Trump busca acabar com o conflito, goste Netaniahu ou não.
O roteiro de Trump não foi acidental. Enquanto Netaniahu enfrenta protestos massivos em “Israel”, o Trump optou por reforçar laços com as monarquias do Golfo. A ausência de “Israel” na agenda não é um detalhe: é uma mensagem.
Trump, que em 2020 assinou os Acordos de Abraão para normalizar relações entre “Israel” e países árabes, parece agora descartar Telavive como ator central. Fontes próximas à sua equipe afirmam que o presidente está “farto do lobby sionista” e da “incapacidade de Netaniahu em vencer uma guerra contra militantes com foguetes caseiros”.
O cálculo de Trump reflete a realidade no terreno: após mais de um ano e meio de guerra em Gaza, “Israel” não apenas falhou em eliminar o Hamas, como viu sua imagem internacional desmoronar. A Resistência Palestina tem sido tenaz e mostrou que o genocídio que “Israel” vem cometendo, o que tem um custo altíssimo.
A economia enfrenta recessão e protestos pedem a renúncia de Netaniahu. Paralelamente, a Resistência Palestina mantém capacidade de ataque: apenas nesta semana, o braço armado da Jiade Islâmica lançou 21 foguetes contra Ascalão, forçando milhares de israelenses a buscarem abrigos.
Para Trump, o cenário é claro: continuar apoiando militarmente “Israel” é queimar capital político à toa. Seu discurso em Riade deixou isso evidente: “não podemos ficar presos a conflitos eternos. Queremos acordos que tragam prosperidade, não mais guerras”. A fala, embora vaga, expressa o sentimento de eleitores norte-americanos cansados de gastar US$3,8 bilhões anuais em ajuda militar a um país que, além de não dar nada em troca, ainda perpetua os crimes mais brutais do século e um processo de limpeza étnica.
O gesto mais ousado de Trump foi intermediar propostas de acordo de cessar-fogo por meio de interlocutores catarenses com o Hamas. Embora Netaniahu tenha rejeitado publicamente as propostas até o momento, a pressão interna está aumentando.
Familiares de reféns israelenses protestam em Telavive, exigindo que o governo “aceite qualquer acordo que traga nossos filhos de volta”. Trump, ao posicionar-se como facilitador, busca capitalizar esse desespero — e, de quebra, isolar Netaniahu, a quem considera “ingrato” por não apoiar sua campanha em 2020.
A política de Trump não é benevolente, mas reflexo do colapso do imperialismo no Oriente Médio. Por décadas, os EUA sustentaram “Israel” como “falcão” regional, garantindo supremacia militar em troca de acesso a recursos e alinhamento contra o Irã.
A Resistência Palestina, embora tecnicamente inferior, provou que pode combater ferozmente o exército israelense — tornando o custo da ocupação insustentável até para os EUA. Trump mudou o foco para os negócios com o Golfo — incluindo a promessa de US$ 2 trilhões em investimentos em energia “limpa” — revela um abandono da manutenção do domínio imperialista na região.