O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, podem se encontrar já na próxima semana para tentar destravar um acordo de cessar-fogo na guerra da Ucrânia. 

A iniciativa surge em meio à frustração crescente do governo norte-americano com o impasse no campo de batalha e à pressão que Trump vem sofrendo por não cumprir a promessa de acabar com o conflito “em 24 horas” após retornar à Casa Branca. 

A possível cúpula, ainda sem data ou local confirmados, ocorre sob o pano de fundo de novas sanções econômicas impostas por Washington não só à Rússia, mas também a países que continuam comprando sua energia. 

A Índia já foi alvo de uma tarifa de 50% como punição pelas importações de petróleo russo, e outros grandes parceiros — incluindo a China — estão na mira, caso Moscou e Kiev não avancem em direção a um cessar-fogo até esta sexta-feira, prazo unilateralmente definido por Trump.

Apesar da retórica agressiva, o próprio Trump deu sinais de hesitação nos últimos dias. Depois de despachar seu enviado especial, Steve Witkoff, para uma rodada de conversas com Putin em Moscou, o presidente norte-americano afirmou que o desfecho das negociações dependerá da disposição do Kremlin. 

Internamente, assessores relatam que Trump está “furioso” por não ter conseguido frear a guerra e começa a perceber que suas ameaças não surtiram o efeito esperado. 

A frustração vem se somar à dificuldade de obter concessões reais de Putin, que só aceita interromper a ofensiva sob suas próprias condições — principalmente o reconhecimento internacional da anexação da Crimeia e do controle russo sobre partes do Donbass. 

O governo norte-americano tenta convencer Putin a aceitar um encontro trilateral com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas o Kremlin resiste. “Ainda estamos longe de criar essas condições”, declarou Putin, que frequentemente questiona a legitimidade do governo de Kiev.

Risco de farsa diplomática e uso político do acordo

Entre autoridades europeias, cresce o receio de que o convite russo à cúpula com Trump seja apenas mais uma manobra de enrolação por parte de Putin, capaz de adiar novas sanções sem ceder terreno militar. 

A proposta que circula nos bastidores diplomáticos prevê que a Rússia mantenha parte dos territórios ocupados em troca da retirada de tropas de outras áreas da Ucrânia — uma fórmula que Kiev e governos da União Europeia rejeitam categoricamente. 

Ainda assim, há temor de que Trump pressione Zelensky a aceitar um acordo que garanta ganhos simbólicos à sua imagem, mesmo que isso signifique premiar a ocupação russa. Um cenário assim poderia levar os EUA a se retirarem do processo diplomático ou a cortarem novamente o apoio militar e de inteligência a Kiev, como ocorreu no início do ano.

Para analistas, a obsessão de Trump por selar “o maior acordo de paz de todos os tempos” pode colocá-lo a serviço de um roteiro traçado por Moscou. O presidente norte-americano já declarou a aliados que deseja “parar a matança” e que está disposto a tudo para obter um resultado histórico — inclusive ignorar as exigências mínimas de Zelensky e dos europeus, que não aceitam qualquer legitimação da ocupação russa. 

Com a guerra se arrastando por mais de três anos e um saldo crescente de civis mortos, os EUA parecem cada vez mais dispostos a empurrar a Ucrânia para um acordo que estabilize o front — ainda que à custa de sua integridade territorial. 

“Putin está tentando jogá-lo contra a parede”, avaliou o senador republicano Lindsey Graham. Para a diplomacia russa, no entanto, trata-se apenas de reconhecer o que já é um fato consumado. Se Trump aceitar, poderá vender o gesto como trunfo eleitoral. Se recusar, Putin continuará ganhando tempo.

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Last Update: 08/08/2025