
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou a reunião virtual do Brics para fazer críticas contundentes à Organização Mundial do Comércio (OMC) e destacar a importância do multilateralismo em tempos de crescente tensão global. Durante o encontro, que contou com a presença dos presidentes de Rússia, China, Egito, Indonésia, Irã e África do Sul, Lula fez um balanço da situação política internacional e reafirmou a necessidade de reformas em instituições globais, como a OMC, para garantir um comércio mais justo e equilibrado.
Lula iniciou sua fala destacando a “paralisação” da OMC, que, segundo ele, tem sido ineficaz em resolver disputas comerciais. “A OMC está paralisada há anos”, afirmou, frisando que o Brasil, junto a outros países em desenvolvimento, tem sido vítima de práticas comerciais “injustificadas e ilegais”.
O presidente apontou que “a chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”, sem citar diretamente o papel dos Estados Unidos.
Desde que o Brasil formalizou uma queixa contra os EUA na OMC, a crítica à ineficiência da instituição tem sido recorrente no discurso de Lula. No encontro do bloco, em junho, o presidente brasileiro afirmou que uma reforma da OMC era “imprescindível e urgente”. A mensagem foi reforçada no evento virtual do Brics, onde Lula pediu a união dos países que compõem o bloco frente às medidas unilaterais adotadas pelos Estados Unidos.
“Juntos, representamos 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase 50% da população mundial. Temos entre nós grandes exportadores e consumidores de energia, reunimos as condições necessárias para promover uma industrialização verde, que gere emprego e renda em nossos países, sobretudo nos setores de alta tecnologia”, destacou Lula.
📝 Nota da Presidência – Reunião Virtual de Líderes do BRICS, 8 de setembro de 2025
Por iniciativa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no exercício da Presidência do BRICS, realizou-se, em 8 de setembro, Reunião Virtual de Líderes do agrupamento, com duração de cerca de…
— Lula (@LulaOficial) September 8, 2025
Em sua fala, o presidente também fez uma defesa do multilateralismo como instrumento essencial para garantir a paz e a justiça global.
“O unilateralismo jamais conduzirá à realização dos propósitos de paz, justiça e prosperidade que nossos antecessores delinearam em 1945. O Brics já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, afirmou, em um claro posicionamento contra as práticas unilaterais que têm se intensificado nos últimos anos, especialmente por parte das potências ocidentais.
Lula também aproveitou o encontro para elogiar os esforços internacionais de cessar-fogo na guerra da Ucrânia. “O encontro no Alasca e seus desdobramentos em Washington são passos na direção correta para pôr fim a esse conflito”, disse, referindo-se à reunião entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, que ocorreu no início do mês.
No entanto, o encontro, que gerou certa controvérsia, não resultou em um acordo concreto para o fim da guerra. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou a reunião, destacando a falta de avanços substanciais nas negociações de paz.
Apesar de elogiar a iniciativa de Trump e Putin, Lula não deixou de criticar o que considera ações desestabilizadoras por parte dos Estados Unidos, especialmente em relação à Venezuela. “A presença de forças armadas da maior potência do mundo no mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”, lamentou o presidente brasileiro, reforçando o compromisso da América Latina com a paz.
Em relação ao Oriente Médio, Lula também se posicionou contra os ataques israelenses a Gaza, que têm gerado uma escalada de violência e tragédia humanitária. “É urgente colocar fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos territórios palestinos”, afirmou, condenando as ações militares e defendendo uma solução pacífica para o conflito.